Entre crises estão áudios de ministros contra a Lava Jato; depoimento de Odebrecht, entretanto, pode prejudicar Dilma Rousseff, diz revista dos EUA
Em matéria publicada na quarta-feira (08/06), a revista norte-americana Time afirmou que as chances de retorno da presidente brasileira, Dilma Rousseff, crescem com o agravamento das crises enfrentadas por Michel Temer, vice-presidente no exercício da Presidência do Brasil desde o afastamento de Dilma, no dia 12 de maio.
“O governo do presidente interino Michel Temer enfrentou uma série de crises. (…) O desenrolar dos eventos sugere que Rousseff ainda pode sobreviver à votação final por seu impeachment no Senado”, diz o artigo escrito por Matt Sandy e intitulado “Como o agravamento da crise no Brasil pode resgatar Dilma Rousseff”.
Entre as crises, a Time cita a reação negativa da opinião pública diante da nomeação de um gabinete composto exclusivamente por homens brancos; a queda de dois ministros após a divulgação de áudios em que eles sugeriam frear a Operação Lava Jato para poupar determinados políticos; a decisão de extinguir o Ministério da Cultura, as consequentes críticas e o recuo do vice-presidente, que acabou recriando a pasta; a suspensão do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha — aliado de Temer; e a previsão do Banco Mundial de que a recessão econômica continuará por mais um ano.
A Time acredita que, para se manter na Presidência, o governo interino precisará conseguir resgatar o Brasil da crise. Entretanto, aponta a revista, “mesmo se mobilizando para limitar os gastos públicos e cortando gastos com saúde, educação e programas sociais, o Congresso aprovou uma lei que aumenta em 41% os salários de oficiais do governo federal — incluindo [de funcionários] da Suprema Corte que provavelmente terão o poder de tomar a decisão final sobre o impeachment de Rousseff”.
Assim, a publicação norte-americana acredita que as dificuldades enfrentadas por Temer podem favorecer Rousseff e sinaliza para a mudança de opinião de alguns dos senadores que haviam aprovado a continuação do processo de impeachment. Para que o impedimento seja aprovado, é necessário o voto de dois terços do Senado; para que ele seja rejeitado, porém, são necessários apenas 27 votos.
O que pode, contudo, impedir definitivamente a volta de Dilma à presidência, segundo a Time, é a Operação Lava Jato, que irá ouvir Marcelo Odebrecht, presidente da construtora Odebrecht. O autor do texto menciona uma matéria da revista brasileira Isto É, do dia 3 de junho, que afirma que Odebrecht alegará que Dilma pediu que ele fizesse uma doação ilegal de R$ 12 milhões para sua campanha eleitoral de 2014.
“Caso a alegação seja comprovada, a corte eleitoral do Brasil — que já está examinando irregularidades sobre essas eleições [2014] — poderia cancelar os resultados e pedir um novo pleito. Rousseff e Temer, que sofrem com um baixo índice de aprovação, provavelmente não seriam eleitos”, ponderou a revista.
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Foto: Dilma Rousseff cumprimenta apoiadoras diante do Palácio do Planalto em 19 de abril; crises de Temer podem favorecer presidenta, diz Time