Alejandra O’Connell – RioOnWatch
No dia 25 de junho, em uma pequena igreja na favela da Rocinha na Zona Sul do Rio, um grupo de cerca de 25 pessoas debateu o papel da mídia comunitária. Rocinha Sem Fronteiras, um grupo da comunidade que se reúne uma vez ao mês para debater diferentes tópicos relativos à favela, sediou a discussão com os jornalistas dos canais de comunicação da comunidade Jornal Fala Roça, Viva Rocinha, TV Tagalera e FavelaDaRocinha.com.
“A nossa ideologia é enfatizar para que as pessoas façam a diferença aqui… nosso foco sempre foi a comunicação na comunidade”, disse Leandro Lima, morador e jornalista do FavelaDaRocinha.com. Muitas das reportagens feitas pela mídia alternativa nas favelas estão relacionadas às artes e as questões de saneamento, educação e necessidades básicas de saúde. Esses são tópicos que a mídia tradicional do Rio tende a negligenciar. Ao invés disso, agrande mídia foca na violência e nos crimes.
No debate, alguns moradores da Rocinha disseram que eles gostariam de ler mais sobre notícias políticas e nacionais em seus jornais locais. Eles também questionaram o porquê da mídia local ter optado por não relatar os aspectos negativos da vida na Rocinha.
“Eu acho que é muito importante falar sobre o que é positivo”, disse Francisca Oliveira–moradora de muitos anos da Rocinha e autora–acrescentando que gostaria que a mídia local falasse também sobre problemas mais profundos da comunidade.
Outro morador da Rocinha, Roberto Lucena, concordou com Francisca e mencionou que há um silêncio jornalístico entre os jornais da comunidade quando se trata de alguns assuntos, como crimes. Lucena perguntou se os jornalistas da Rocinha temem retaliações, caso eles contassem mais histórias sobre estes assuntos.
“Nós tentamos não reproduzir o argumento dos principais jornais de que a favela é um lugar de problemas, um lugar de mortes. Nós tentamos falar sobre outro tipo de violência, como a falta de saneamento básico… nós estamos tentando ressaltar a cultura e mostrar o que temos de valor aqui dentro [da favela], o que nós construímos às margens da sociedade, o que nós somos capazes de fazer de bom”, disse Cleber Araujo, jornalista e consultor de comunicação da TV Tagalera.
Os jornalistas discutiram como os leitores são bombardeados com histórias sobre o tráfico de drogas nas favelas e como a mídia alternativa na Rocinha quer mudar a narrativa sensacionalista da grande mídia. Mas seu objetivo principal é divulgar notícias relevantes aos moradores da Rocinha.
“As pessoas querem saber o que a grande mídia não mostra”, disse Leandro Lima. Todos os jornalistas concordaram que eles têm trabalhado para produzir histórias profundas e detalhadas para retratar plenamente suas comunidades.
“Nós não vamos ser como a mídia de massa e tocar em um tópico e depois deixar para lá. Nós fazemos as coisas de outro modo”, disse Cleber.