SBPC e Universidade Federal do Sul da Bahia inauguram ocas indígenas em Porto Seguro

Para reitor, a 68ª Reunião Anual da SBPC, o maior evento científico da América Latina, realizado no campus de Porto Seguro, deixará um legado positivo a ser preservado para sempre

Na SBPC

Como símbolo de fortalecimento dos indígenas e de resgate da história, a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) ergueu três ocas em seu campus de Porto Seguro, em memória aos caciques que lutaram por terras e pela permanência desses povos no litoral baiano.

Com fomento do Ministério da Educação (MEC) e apoio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), as ocas – inauguradas em um ato simbólico nesta sexta-feira, 08, na 68ª Reunião Anual da SBPC – foram decoradas com a exposição de fotografias de Sebastião Salgado, um dos fotógrafos mais populares da atualidade. Cada oca carregará o nome de antepassados indígenas, sobretudo das três etnias do Sul da Bahia – Pataxó, Tupinambá e Tumbalalá, cujos nomes ainda serão decididos.

Presente na cerimônia de inauguração, Naomar de Almeida Filho, reitor da UFSB, disse que a unidade de Porto Seguro está fazendo parte da história brasileira e que a realização do maior evento científico da América Latina nesse campus deixará um legado positivo a ser preservado para sempre.

“Essa é uma grande aliança para que nossa sociedade seja mais justa e mais humana. Somos todos humanos e criativos”, disse o reitor em defesa da integração social, motivo pelo qual foi escolhido este ano o tema da 68ª Reunião Anual da SBPC: “Sustentabilidade, Tecnologia e Integração social”.

O espaço das ocas será utilizado para aulas de Artes, uma das áreas da graduação da unidade de Porto Seguro, onde existem cerca de 50 alunos indígenas. Com dois anos de atividades, a UFSB no município de Porto Seguro oferece quatro bacharelados interdisciplinares: Artes, Humanidades, Ciências e Saúde. Também já foi aprovado o curso de pós-graduação em Medicina e Antropologia; e mestrado em Ciências Humanas, segundo o antropólogo Carlos Alberto Caroso Soares, decano do Centro de Formação em Ciências Humanas e Sociais da UFSB.

Legado a ser preservado

A presidente da SBPC, Helena Nader, enalteceu as palavras do reitor e disse que é a SBPC que carregará o legado das ocas construídas. Ela apontou o esforço do reitor para viabilizar a construção das ocas exatamente em um momento de crise econômica e de atrasos da liberação dos recursos federais, e disse que a universidade precisou injetar recursos próprios, incialmente.

Nader argumentou ainda que cada Reunião Anual da SBPC “abraça” as características sugeridas localmente. Helena Nader lembrou que a SBPC Indígena foi iniciada em 2014, no Acre.

O antropólogo Carlos Alberto Caroso Soares, decano do Centro de Formação em Ciências Humanas e Sociais da UFSB, salientou que o espaço das ocas será um elo a ser compartilhado entre as comunidades indígenas e a universidade.

Para o antropólogo, a iniciativa é um reconhecimento do fortalecimento desses povos. Ele começou a estudar a história dos indígenas na Bahia na década de 1970 e disse que antes os indígenas estavam “suprimidos pelas populações e negavam sua raça”. Hoje, porém, estão ressurgidos e é crescente o número de pessoas que se autodeclaram indígenas.

Soares avalia que  o reconhecimento é importante para a sobrevivência dos povos indígenas. Segundo ele, esses povos estão reconquistado seu espaço cada vez mais. Um exemplo é a decisão do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, de voltar atrás na nomeação do general Sebastião Robero Peternelli para presidir a Fundação Nacional do Índio (Funai),  marcado pelo apoio à Ditadura Militar, diante da mobilização desses povos.

Educação básica

Antes da inauguração das ocas na universidade, a indígena Rosilene Anhamana,  representando a Secretaria de Educação da Bahia, discorreu sobre a educação básica voltada para os indígenas baianos, em uma mesa redonda sobre o tema: Povos Indígenas e Educação e Escola Educação.

Segundo ela, a oferta de programas de educação escolar às comunidades começou no século XVI, com o objetivo de catequizar os índios e sobre a negação da diversidade e fim de diversas culturas, com foco voltado para oferta de para mão-de-obra indígena para atender a sociedade nacional. Disse que no período Brasil Colônia, os índios sofreram com a perda de cultura e identidade, porque eram catequizados pelos Jesuítas.

Conforme relatou, os avanços desses povos partiram das décadas de 1960 e 1970, quando surgiram organizações indigenistas, em defesa do fortalecimento de uma educação indígena. A partir de 1980, houve a autonomia indígena, diante de  uma nova percepção da política da educação escolar – de pregar o direito à educação escolar diferenciada, específica, intercultural e multilíngue, já que os indígenas têm interesse em manter suas culturas e adicioná-las ao conhecimento da população tradicional.

Rosilene Anhamana declarou que a luta é grande para a reconquista dos direitos de seus povos, porque “o chão das escolas indígenas ainda é muito distantes” das resoluções publicadas. Nesse contexto, ela chamou a atenção para o retrocesso que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) representa para esses povos. “O documento não enxerga a diversidade indígena. Como ficam os indígenas na BNCC?”, questionou.

Viviane Monteiro/ Jornal da Ciência    

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Menina Guarani Kaiowá. Foto de Rosa Gauditano, editada.   

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