Está na pauta da Jornada Nacional de Lutas o assentamento imediato das 90 mil famílias hoje acampadas
Com ocupações de latifúndios em todas as regiões do país, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) cobra a realização da Reforma Agrária, demanda de mais de 90 mil famílias hoje acampadas em latifúndios ou à beira das estradas. Na manhã desta terça-feira (02), 700 famílias ocuparam as terras da Usina Lambari, em Jaú-SP, de propriedade do Grupo Atalla.
O grupo arrendou a propriedade para outro grande conglomerado (Raízen, resultado da junção de parte dos negócios da Shell e da Cosan), demitindo mais de 3 mil trabalhadores em São Paulo, sem pagar seus direitos trabalhistas. Agora, as terras estão ocupadas por famílias Sem Terra que as reivindicam para ali produzirem seu sustento e as condições para uma alimentação saudável no campo e nas cidades.
Outro grande latifúndio ocupado durante a Jornada Nacional de Lutas contra o Golpe e pela Reforma Agrária foi a Usina Santa Helena, ligada ao Grupo Naoum, grande devedor da União. A ação com mais de mil famílias ocorreu no domingo (31/08) no município de Santa Helena de Goiás-GO como resposta à tentativa de criminalização orquestrada pelos poderes judiciário, policial e Ministério Público.
“O MST já contabiliza dois militantes presos políticos em Goiás, na absurda tentativa de enquadrar o Movimento como organização criminosa. Isso nunca aconteceu em nossos 32 anos de luta pelo acesso de famílias Sem Terra ao seu direito de ter um chão para plantar, morar e produzir suas vidas”, alerta Marina dos Santos da coordenação nacional do MST.
“A jornada de lutas é pela Reforma Agrária Popular e contra o Golpe, para denunciar o modo como o agronegócio trata a terra e denunciar as empresas sonegadoras de impostos e direitos, desviando milhões da população brasileira como o caso das usinas do Grupo Naoum, em Goiás, e Atalla, em São Paulo, ocupadas nos últimos dias”, explica.
“Lutamos contra o sucateamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e contra este governo ilegítimo e Golpista do Temer. Exigimos o assentamento imediato das famílias acampadas e o fim da criminalização dos movimentos e das lutas sociais”, dispara Marina.
“Esta situação de perseguição ideológica somente estimula mais ainda os trabalhadores a se organizarem para lutarmos por nossos direitos. Queremos terra para constituir um novo modelo de produção agrícola, sob transição agroecológica, para alimentar com comida saudável as mesas das famílias nas cidades”, conclui a militante. Desde o último dia 24, ações se desenrolam em protesto por todo país.
Confira as mobilizações nos demais estados:
Pará
Cerca de 100 Sem Terra ocuparam a sede do Incra, em Marabá, Sudeste do Pará na noite do último dia 25/07. Uma das principais reivindicações dos trabalhadores foi a criação de novos assentamentos rurais para atender os cerca de cinco mil Sem Terra que vivem em acampamentos nas regiões Sul e Sudeste do estado.
Sergipe
Cerca de 15 mil trabalhadores Sem Terra marcharam em Aracaju, em comemoração ao Dia do Trabalhador Rural e em defesa da democracia. Entre as reivindicações do movimento estava a desapropriação de fazendas, a implantação de um sistema de abastecimento de água, crédito para assentados e manutenção dos serviços de assistência técnica.
Cuiabá
Em Cuiabá, cerca de 100 trabalhadores Sem Terra, ocuparam a sede Incra. Entre as reivindicações listadas estão o direito à segurança e soberania alimentar, sem agrotóxicos nem transgênicos, uma educação e saúde de qualidade para todos e uma Reforma Agrária verdadeira e eficaz.
Dê Silva, coordenadora regional do MST, explica que o objetivo da ocupação é pressionar o instituto para uma efetivação de assentamentos e adequação de infraestrutura daqueles já existentes. Entre as reivindicações do Movimento, está o assentamento imediato de cerca de 2000 famílias acampadas no estado.
“Em Mato Grosso nunca aconteceu uma Reforma agrária de fato. Na verdade, consolidaram assentamentos em favelas rurais, sem infraestrutura adequada, nem possibilidades de subsistência, acesso a créditos, saúde e outras necessidades básicas. Por isso, nossa luta permanece firme e forte, para fazer valer nossos direitos e aqueles de toda a classe trabalhadora brasileira”, disse Dê.
São Paulo
Os Sem Terra também participaram de um ato unitário dos movimentos populares do campo em frente ao Ministério Público Federal de Bauru no dia 27/07.
Paraíba
600 trabalhadores rurais Sem Terra ocuparam a sede Incra, em João Pessoa. Os trabalhadores exigem a retomada na construção de assentamentos em toda a região do estado.
Fortaleza
Cerca de 1000 trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra ocuparam a sede do Incra em Fortaleza. A pauta, já antiga, é conhecida dos governos do estado: terra para as mais de quatro mil famílias acampadas. Os trabalhadores também denunciaram a constante ameaça de despejo que as famílias sofrem constantemente. Os trabalhadores também ocuparam a sede da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace).
Mato Grosso do Sul
Sem Terra ocuparam as principais rodovias do Mato Grosso do Sul. Foram bloqueadas as BR 060 em Sidrolândia, BR 267em Casa Verde, BR 163 em Naviraí e Rio Brilhante e a BR 262 em Terenos e Três Lagoas. Os Sem Terra também ocuparam o Instituto de Terras de Mato Grosso (Intermat).
Maranhão
O MST realizou entre 28 e 30/07, a Feira Estadual da Reforma Agrária, em São Luís. Pouco mais de uma tonelada em alimentos agroecológicos, além de produções artesanais de camponeses de todo o estado do Maranhão foram comercializadas, aproximando a população do campo à cidade.
Paraná
No Paraná, durante quatro dias de atividades, cerca de 3000 mil agricultores e agricultoras, estudantes, pesquisadores, entre outros, participaram das 15° Jornada de Agroecologia. A Jornada também se configura como espaço de socialização das necessidades dos povos dos campos e assim reafirma suas exigências históricas, a garantia do direito à terra e ao território aos povos indígenas, quilombolas, camponeses e povos de comunidades tradicionais, como condição primeira para avançar no projeto popular agroecológico e soberano para a agricultura.