Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul – Arpinsul
A Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul) declara em nota pública o irrestrito apoio ao povo Kaingang da Terra Indígena Rio dos Índios, cuja portaria declaratória foi publicada em 2005, que se encontra em pleno processo de autodemarcação do território tradicional.
“Há muitos anos a referida comunidade (…) vem sendo vítima da morosidade do estado, com consequências sociais, políticas e culturais e situação de risco continuo na suas vidas, confinadas e oprimidas dentro de seu próprio, histórico e reconhecido território”, diz trecho da nota da Arpinsul.
Os Kaingang começaram a autodemarcar Rio dos Índios, localizada no município de Vicente Dutra (RS), durante a última semana. Empurraram as cercas das fazendas para os limites da demarcação definida pelo governo federal, instalaram marcos e reivindicam indenizações aos 85 pequenos agricultores que ainda permanecem em Rio dos Índios de boa-fé.
“Autodemarcação é um direito e será necessário (…) em todas as terras no sul do país, com a união e força de Kaingang, Guarani, Xokleng, Xetá e Charrua, cientes que nestas ações podemos sofrer danos, e esses danos (…) estará estampado no rosto e mãos dessas instituições e autoridades”, pontua a nota.
Leia a nota da Arpinsul na íntegra:
MANIFESTAÇÃO DE APOIO DA ARPINSUL A COMUNIDADE KAINGANG DE RIO DOS ÍNDIOS NA AUTODEMARCAÇÃO
A ARPINSUL, Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul, expressa todo apoio ao Povo Kaingang de Rio dos Índios, no Rio Grande do Sul, que nesta data iniciaram a autodemarcação de seu território.
Há muitos anos a referida comunidade, assim como tantas outras, vem sendo vítima da morosidade do estado, com consequências sociais, políticas e culturais e situação de risco continuo na suas vidas, confinadas e oprimidas dentro de seu próprio, histórico e reconhecido território.
As autoridades responsáveis, tem se omitido nitidamente, ocasionando e contribuindo para o acirramento do conflito, deixando opositores da questão indígena, tantos políticos como ruralistas, disseminarem impressões na opinião pública e ocupantes indevidos de boa ou má fé na área, que a culpa é da comunidade kaingang.
Lamentavelmente a posição do governo é que concluir a ação de demarcação da terra poderia ocasionar maiores conflitos, como forma de justificar sua falta de interesse em solucionar as questão fundiária. Esta incoerência sim, intensifica e mantém os interesses privados ligados ao latifúndio na sistemática violação dos direitos dos Povos Indígenas, sobretudo, na região sul, e em especifico, a comunidade e respectivo território em questão.
Sendo assim, é previsível que as comunidade indígena, seja kaingang, guarani, xokleng e demais Povos deste região, tomem providencias necessárias nas emergentes demandas que tratam de defesa e direitos territoriais, a exemplo do Rio dos Índios, na AUTODEMARCAÇÃO.
Este gesto de resistência e coragem, qual apoiamos incondicionalmente, deve servir de alerta ao governo brasileiro e morosidade de instancias competentes, pela falta de vontade política, e servir também de incentivo as demais povos e comunidade que se encontram na mesma situação, nas suas terras, reconhecidas e legitimadas como historicamente tradicionais para tal ação. A necessidade e consequências nos faz tomar estas atitudes como forma de fazer cumprir tudo o que já nos é garantido na lei e assegurados nos nosso direitos.
Autodemarcação é um direito e será necessário, se não for tomada nenhuma providência, em todas as terras no sul do país, com a união e força de kaingang, guarani, xokleng, xetá e charrua, cientes que nestas ações podemos sofrer danos, e esses danos, se for tão crítico a ponto de atingir a vida de nosso Povos, estará estampado no rosto e mãos dessas instituições e autoridades.
Arpinsul, 27 de julho de 2016.
MARCIANO RODRIGUES
Coordenador-geral