Olimpíadas: os Guarani desafiam fazendeiros após morte de bebê

Survival

Às vésperas das Olimpíadas, os Guarani fizeram uma declaração poderosa aos fazendeiros que estão destruindo sua terra e os submetendo a violência genocida e racismo.

A Aty Guasu, organização dos Guarani Kaiowá, disse: “Apesar de vocês serem assassinos e continuarem atacando nossos Tekoha [terra ancestral], nós não daremos nenhum passo atrás na luta pelas nossas terras que foram roubadas e que cada um que cair morto por vocês será um motivo a mais para que nossa luta se fortaleça. A cada tiro um novo passo, a cada cova aberta, nova terra retomada. Lhes garantimos isso.”

A Aty Guasu também produziu um vídeo (ver abaixo) com cenas de ocasiões recentes de brutalidade contra os Guarani e contendo imagens fortes.

Muitos indígenas Guarani foram forçados a viver à beira de estradas e são atacados por pistoleiros ou despejados à força se tentam reocupar sua terra ancestral. Em julho, famílias Guarani foram despejadas de sua terra ancestral por quase 100 policiais fortemente armados. Casas Guarani foram destruídas e a comunidade foi forçada a voltar ao acampamento improvisado à beira da estrada. Um bebê de sete meses morreu posteriormente por desnutrição e exposição ao frio.

Há alguns meses, diversas outras comunidades Guarani foram atacadas por pistoleiros. Um ataque contra a comunidade Tey’i Jesu deixou um Guarani morto e muitos outros – incluindo um menino de 12 anos – hospitalizados.

Nas ultimas décadas, a maior parte da terra dos Guarani foi roubada pelo destrutivo agronegócio, e eles são forçados a viver à beira de estradas e em reservas lotadas. Crianças Guarani passam fome e muitos de seus líderes foram assassinados. Centenas de homens, mulheres e crianças Guarani se suicidaram e os Guarani Kaiowá sofrem com a maior taxa de suicídio no mundo.

Em um vídeo parte do projeto Voz Indígena da Survival, Eliseu Guarani, um líder Guarani, disse: “No Brasil vai ter os Jogos Olímpicos e o governo está tentando tirar o foco do que nós indígenas estamos passando… Estamos sendo atacados, lideranças estão sendo mortas, e não estão demarcando terra, mas esses Jogos Olímpicos não vão estar mostrando tudo isso. Quero enviar esta mensagem para o mundo, que enquanto os Jogos Olímpicos são aplaudidos pelo mundo inteiro, nós Guarani Kaiowá estamos sendo massacrados e estamos pedindo socorro!”

Em abril de 2016, a Survival International lançou sua campanha “Pare o genocídio no Brasil”às vésperas das Olimpíadas, para chamar atenção à situação enfrentada por tribos como os Guarani. Suas terras, recursos e mão-de-obra estão sendo roubados em nome do “progresso” e “civilização.”

Em 31 de julho, apoiadores da Survival protestaram em frente à Embaixada do Brasil em Londres.

A campanha pede ao governo brasileiro que respeite a Constituição e proteja os Guarani, demarcando sua terra, investigando e julgando os assassinos e fornecendo alimento para comunidades passando fome até que eles possam voltar a sua terra ancestral. A campanha também chama atenção para a situação das tribos isoladas – os povos mais vulneráveis do planeta – e a PEC 215, uma proposta de emenda constitucional que, caso aprovada, enfraqueceria os direitos territoriais dos indígenas e resultaria na fragmentação e exploração dos territórios existentes.

Stephen Corry da Survival disse: “Uma crise humanitária urgente e terrível está ocorrendo no Brasil enquanto a atenção da mídia está voltada aos Jogos Olímpicos. A situação dos Guarani não é uma anomalia, mas sim a continuação de um processo, que já dura séculos, de roubo de terras, violência genocida, escravidão e racismo. Muitos Guarani estão morrendo e sendo assassinados, tribos ao redor do país estão sendo aniquiladas. É difícil exagerar a gravidade dessa situação que só irá terminar quando povos indígenas forem respeitados como sociedades contemporâneas e seus direitos humanos forem protegidos. O Brasil precisa agir imediatamente, antes que mais tribos sejam destruídas.”

Foto: Os Guarani sentem uma conexão profunda com sua terra, mas viram grande parte dela roubada e destruída pela agricultura em grande escala. © Fiona Watson/Survival

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