Caminhões e um trator madeireiros retidos pela Guarda Florestal Ka’apor no interior da Terra Indígena Alto Turiaçu (no mapa), no Maranhão, seguem aguardando a apreensão e investigação das autoridades públicas. Conforme informou uma comissão de três lideranças Ka’apor ao Ministério Público Federal (MPF) nesta terça-feira, 23, Funai, Ibama e Polícia Federal ainda não foram ao acampamento onde os veículos estão retidos.
“O perigo é dos madeireiros voltarem em bandos para recuperar os veículos e ter um conflito com nossa Guarda Florestal. Depois as autoridades precisam investigar de quem são os caminhões, o trator. Entregamos ao Ibama já as coordenadas geográficas do ramal onde está o acampamento da Guarda com os veículos”, explica uma liderança Ka’apor presente na reunião com o MPF que não identificamos por razões de segurança.
Às margens do rio Hola, os Ka’apor localizaram no final da semana passada mais um ramal madeireiro. Seguindo a pista no interior da mata, os indígenas da Guarda Florestal encontraram seis caminhões e um trator. Os homens que trabalhavam na derrubada das árvores fugiram. Com a descoberta deste novo ramal, o Conselho Ka’apor determinou a abertura da 8ª Área de Proteção Ka’apor dentro da T.I Alto Turiaçu.
Já são 120 indígenas trabalhando diariamente na proteção da Alto Turiaçu com dias e dias rodando as fronteiras da terra indígena, de barco, carro e caminhada, com as áreas circunvizinhas. De acordo com o Conselho Ka’apor, a Funai e o Ibama, responsáveis pela proteção da terra por ser um patrimônio da União, têm demonstrado contrariedade com a ação da Guarda alegando que com ela a violência contra os Ka’apor aumentou. Na foto, caminhão com toras retiradas do interior da T.I Alto Turiaçu circula sem impedimentos na BR-316.
“O território está cercado pelos indígenas sob a coordenação da Guarda Florestal Ka’apor”, afirma a liderança Ka’apor ouvida. O indígena explica que um dos principais pontos do trabalho neste momento está em evitar o início de focos de incêndio. “Justamente por isso precisamos de mais apoio das autoridades para a compra de combustível e alimentação para manter as equipes na mata. Se Funai e Ibama não podem fazer esse trabalho, então que nos forneçam apoio”, diz a liderança Ka’apor.
Com o combate aos madeireiros, desde 2008, cinco lideranças Ka’apor foram assassinadas, 14 indígenas agredidos (fisicamente e a tiros), duas aldeias foram invadidas e cerca de oito lideranças e 12 guardas florestais ameaçados ou marcados para morrer. A jovem Iraúna Ka’apor, de 14 anos, segue desaparecida depois de ser sequestrada da aldeia Axiguirendá por madeireiros, segundo o Conselho Ka’apor – cartazes com o rosto da jovem foram espalhados pelos municípios do entorno da T.I alto Turiaçu. Em 26 de abril deste ano, completou ainda um ano do assassinato do agente de saúde Eusébio Ka’apor durante uma emboscada – tática comum usada pelos madeireiros para retaliar a ação da Guarda Florestal Ka’apor.
“Precisamos de uma ação de Estado aqui para não acontecer o que aconteceu em dezembro de 2015 (conflito entre indígenas e madeireiros). Os Ka’apor vão agir em defesa do povo e da terra indígena. Avisamos os órgãos públicos responsáveis. Não aprecem. Depois os indígenas são culpabilizados pelo Poder Público”, afirma um indigenista que atua junto aos Ka’apor em contato com a assessoria de comunicação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).