Guardas florestais Ka’apor sofrem emboscada e mais um ramal madeireiro é descoberto na T.I Alto Turiaçu

No Cimi

Dois guardas florestais Ka’apor sofreram uma emboscada durante o último final de semana, dia 27, na Terra Indígena Alto Turiaçu (MA). De acordo com informações de integrantes do Conselho de Gestão Ka’apor, ambos estavam numa região de divisa com o povoado do Areal quando descobriram uma trilha que partia rumo ao interior da terra indígena. A seguiram e foram abordados a tiros de armas de fogo por pistoleiros.

“Armaram a tocaia porque sabem que estamos andando pra proteger o território. Tiramos os dois parentes da área. Eles não conseguiram ver quantos eram (pistoleiros). Tiveram que fugir ligeiro. O que a gente sabe é que são os madeireiros contratando pistoleiro da região pra tocaiar nosso povo”, explica um dos Ka’apor integrante do Conselho. O indígena diz que outras trilhas para emboscadas foram abertas nas áreas limítrofes.

Eusébio Ka’apor foi assassinado na mesma região desta emboscada. Conforme informações apuradas junto aos Ka’apor, pistoleiros e madeireiros abordam indígenas nas cidades do entorno e os obrigam a dizer onde estão as lideranças do Conselho Ka’apor, guardas florestais e aliados do povo. “Não confiamos na polícia aqui. Sempre dizem que não podem fazer nada, que é a Polícia Federal… que não aparece também”.

De acordo com os Ka’apor, as secretarias de Segurança Pública, Direitos Humanos e Participação Popular do Maranhão têm conhecimento “das agressões, invasão de aldeias, sequestro de Iraúna Ka’apor, ameaças de morte a lideranças e nunca fizeram nada para penalizar os reais agressores”, dispara um indígena membro do Conselho. Desde 2012 os Ka’apor passaram a organizar guardas e a fortalecer as organizações sociais do povo.

“Há um processo de resguardo do território, maturidade do povo para assumir integralmente a defesa dele. Os Ka’apor estão assumindo a dianteira e autogestão na educação, proteção territorial e sustentabilidade”, analisa um indigenista próximo aos Ka’apor. Para ele, o fortalecimento das organizares sociais do povo prejudicou a operação madeireira no território e a infiltração de agentes corruptos nas 17 aldeias Ka’apor.

Avivamento dos limites

O segundo grupo da Guarda Florestal Ka’apor encontrou um segundo ramal madeireiro ativado na área limítrofe da Alto Turiaçu com o povoado de Araguaína, município de Centro do Guilherme. “Passaram pra gente que cinco caminhões e tratores trabalharam diariamente derrubando árvores. À noite retiram a madeira (foto). As toras são levadas, explicam os indígenas, para uma serraria queimada pelo Ibama em junho e reativada para o crime ambiental. A nossa revolta aqui é o descaso, ausência de fiscalização do governo”, relata a liderança Ka’apor do Conselho ouvida.

Os Ka’apor garantem que continuam com o que chamam de avivamento dos limites da terra indígena. A estratégia tem dado certo: os guardas florestais descobriram fazendeiros que estenderam pastos para dentro da terra indígena. “Retiraram os rebanhos contrariados e perguntaram quem está financiando os indígenas”, diz a liderança. Além de  retirada de madeira, os Ka’apor começam a descobrir fazendas de gado na Alto Turiaçu.

Seguindo a ideia de autogestão, o Conselho de Gestão Ka’apor tem acompanhado os trabalhos da Guarda e mobilizado aldeias para garantir alimentação – farinha, frutas e caças – às áreas de proteção criadas e aos acampamentos avançados.

“Se o Estado tivesse presente, impedindo esses criminosos, nós seguiríamos fazendo o trabalho, mas com mais segurança e justiça. Queimar madeireiras ilegais, por exemplo, a gente não pode fazer ou prender os mandantes do assassinato do Eusébio, que sabemos quem são”, encerra.

 

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