Por Victor Sá, no Estadão
Busco no Paulo Mendes Campos e suas crônicas líricas.
Tento no Walter Franco que aconselha, respire fundo.
Procuro na elegância da dor de Leminski.
Apelo até ao Drummond que provisoriamente não canta o amor.
Mas não dão conta.
trilha sugerida:
Nada novo no front. Já sabíamos, era claro. Ainda assim, bagunçou.
Já bagunçava há uma cara, verdade seja dita.
Passo um café, troco sua fralda. Olho o patinho amarelo encostado no chão do banheiro. Sinto asco. É quase cômico. Mas é mais asco mesmo.
Você é só manha e choro. Quer colo. Quer atenção. Não sabe o que quer.
Faz frio e chove. Também não sei o que quero.
Só sei:
Quero distância dos vencedores, minha pequena. Lembrando a frase do Darcy Ribeiro, realmente, detestaria estar do lado de quem venceu.
Nessa dualidade esquizofrênica, não me vejo em canto algum. Nem lá, nem cá, mas infinitamente distante dos vencedores de hoje. Isso é certo.
Em busca de sossego ou respiro, recorro aos clichês. Como se na familiaridade encontrasse.
Nem clichê comporta.
Tá foda.
Você, minha esponjinha, sente. Te peço desculpas. Tento agora brincar, te distrair. Tiro os vermes engravatados da televisão e no lugar coloco o Nemo, a Peppa, a Luna, a Dora. Qualquer coisa que não esses homenzinhos cínicos e corruptos.
Ainda não.
Hoje estamos assim, minha coisinha. Meio sem ser ou saber.
Podemos até cantar o medo, mas temer jamais.
Não vai ter crônica.
–
Arte: André Bonani.