Michel Temer havia chamado de inexpressivas as manifestações que protestam contra o processo de impeachment que o conduziu ao poder presidencial. ”São pequenos grupos, parece que são grupos mínimos, né? Não tenho numericamente, mas são 40, 50, 100 pessoas, nada mais do que isso.”
Daí, neste domingo (4), manifestações reuniram uma multidão de pessoas em várias cidades do país contra o seu governo e a favor de eleições diretas para a Presidência da República. Apenas em São Paulo, os organizadores do evento estimaram em 100 mil almas.
Acredito que, sem querer, tropeçamos em uma descoberta científica que pode mudar a história do país: o desdém de Michel, com ou sem o uso de mesóclises, é capaz de levar à mobilização popular.
Por isso, peço a ele que dê as seguintes declarações:
”Apenas meia dúzia de gatos pingados irão às ruas quando introduzirmos a idade de mínima de 65 anos para a aposentadoria na Reforma da Previdência que meu governo irá apresentar.”
”Levantar-me-ei de espanto caso haja uma dúzia de insatisfeitos reclamando de precarização de empregos quando aprovarmos o projeto que amplia a terceirização legal.”
”Acredito que não passem de 25 o número dos que serão contrários à imposição de um teto para os investimentos públicos em educação e saúde que estamos propondo.”
”Dar-me-ei o direito de alterar a CLT em nome do crescimento do país. Certamente apenas uns 20 ou 30 desinformados, que não entendem que, caso não se flexibilize as leis trabalhistas, as pessoas ficarão sem emprego, devem protestar.”
Algo me diz que tem um quê de Mick Jagger em Michel Temer. Não pela qualidade das composições artísticas de ambos (”Anônima Intimidade” não está exatamente à altura de ”Satisfaction”), mas pelo pé frio nas declarações.
Se esse for o caso, sugiro que Michel faça, assim que voltar da China, um pronunciamento à nação afirmando que tem certeza que eleições diretas já para a Presidência da República não irão ocorrer, que ele terminará o seu mandato completando o programa de retrocessos de direitos ao qual está se propondo e que o Palmeiras não será campeão brasileiro de 2016.
Vai, Michel! Nunca te pedi nada!
Em tempo: A manifestação em São Paulo seguiu pacífica durante todo o seu trajeto, inclusive com os organizadores atuando no controle da segurança, ao contrário do que vem sendo dito em muitos locais. Ao final, o poder público de São Paulo desceu, mais uma vez, o cacete sob a justificativa de controlar ”vândalos”. Se a polícia paulista não consegue utilizar de inteligência para controlar meia dúzia de pessoas que atacam patrimônio sem ferir e dispersar uma multidão, incluindo colegas jornalistas que estão aqui para registrar os fatos, então sugiro que – como diria o Capitão Nascimento – peça para sair e chame alguém que consiga.
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Manifestantes seguem pela avenida Paulista em direção ao Largo da Batata, em São Paulo – Foto: Marlene Bergamo/Folhapress