Fala-se muito na possibilidade de um novo momento catártico como foram as manifestações de junho de 2013. Os protestos contra o aumento na tarifa do transporte público e a violência ignorante desferida pela polícia militar nos jovens naquela quinta-feira, 13 de junho, no Centro de São Paulo, foram o estopim para que centenas de milhares fossem à ruas no que pode ter sido a maior manifestação de nossa democracia. Vale lembrar que não houve medição por institutos de pesquisa do ato do dia 17 de junho, que parou a capital e que, pelas imagens, foi maior que os gigantes protestos pelo impeachment na avenida Paulista deste ano.
Como mostra o Datafolha, a maioria dos jovens que coalharam as ruas em junho de 2013 não voltaram para defender ou criticar o impeachment.
Permanecerem em compasso de espera por não se verem representados pelo que esta aí ou por suas narrativas. Enquanto isso, há movimentos e grupos nas ruas que adoram se autointitular como ”herdeiros” das jornadas de junho, de um lado e de outro, apesar de não serem.
Os únicos que poderiam se nomear assim, por sua natureza e estrutura, são aqueles que ocuparam escolas em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio de Grande do Sul, Ceará, Goiás para protestar contra a imposição de projetos de ”reorganização” escolar, a falta de qualidade na educação ou de merenda.
Ou as meninas e moças que coalharam as ruas de várias cidades brasileiras, inaugurando o grito de ”Fora, Cunha!”, após um projeto do então todo-poderoso presidente da Câmara dos Deputados, que dificultava o aborto legal, caminhar no Congresso.
Estudantes dizendo o que querem para sua educação e jovens mulheres reafirmando que seu corpo lhes pertence e a ninguém mais foram o mais próximo da volta de junho de 2013 que tivemos. Ensaios de algo maior, considerando o seu potencial.
Porém, não basta um estopim, como foi o Passe Livre em 2013. É necessário um conjunto de outros elementos que criem a tempestade perfeita, incluindo insatisfação, falta de perspectivas, sensação de impotência sobre a própria vida. Ou seja, tudo aquilo que também vivemos hoje em um grau bem maior profundo.
Não sei se um movimento como o de 2013 (cujo simbolismo tem sido ressignificado por outros grupos políticos e por parte da mídia, de acordo com seus próprios propósitos), seria capaz de eclodir novamente neste Brasil em transe de 2016.
Mas, se eclodir, seria fatal a qualquer governo.
Considerando isso, fico pensando qual a razão de Michel Temer e Mendonça Filho terem escolhido cutucar o vespeiro com vara curta com sua reforma do ensino médio decidida a quatro paredes.
Ninguém nega que debater essa etapa de ensino é urgente. O desempenho é sofrível, o currículo é desinteressante e a evasão, monstruosa. Mas foi um desrespeito e uma violência aos milhões de profissionais que atuam em educação, aos militantes que participam dos inúmeros fóruns e instâncias de educação no país, aos alunos que ocupam escolas em busca de uma voz e a pais que se preocupam com o futuro de seus filhos, ou seja, a todos que não têm medo de debater, ver mudanças aparecerem através de uma Medida Provisória.
Ou seja, de forma autoritária e sem espaço para um diálogo que deveria congregar a todos e ao Congresso Nacional.
Se o vespeiro responder, a imagem de um mar de estudantes ocupando as ruas contra uma reforma educacional que não os representa, sangrando nas mãos das polícias de governos que sabem mais reprimir que conversar, inundaria as redes sociais. E se não conseguir eco nas primeiras páginas de jornais brasileiros ou na escalada de notícias das TVs, certamente estamparão veículos mundo afora.
Particularmente, não ajudaria muito em firmar a imagem de um país respeitador das instituições democráticas que o atual governo quer vender. Mas, certamente, se isso acontecer, essa seria a última de suas preocupações…