Organizações internacionais assinam carta de solidariedade após atentados aos defensores dos rios e territórios na América Latina

A carta é assinada por mais de 80 organizações e escrita após ataque a tiros contra Angélica Choc, na Guatemala.

No MAB

Mais de 80 organizações da Guatemala, Brasil, México, Peru e Honduras assinam uma carta de solidariedade depois do ataque contra Angélica Choc. O atentado ocorre na reta final do julgamento penal na Guatemala pelo assassinato, 27 de setembro, de Adolfo ICH, esposo de Angélica, e também ao avançar o caso civil no Canadá contra HudBay Minerals por negligência em relação a este e outros sérios crimes contra a humanidade.

A carta destaca os últimos ataque sofridos pelos defensores dos rios e territórios na América Latina em vários países.  O caso da companheira Nicinha também é lembrado.

Confira abaixo um trecho da carta:

Solidariedade Internacional a todos que defendem a água, a terra, a vida e o território

Expressamos nossa profunda solidariedade com Angélica Choc e sua família após os disparos a sua casa no dia 16 de setembro de 2016.

O atentado aconteceu após a meia noite, quando 4 balas atingiram os muros da casa onde dormia Angélica e duas crianças.

Este último ataque ocorreu na reata final do julgamento penal na Guatemala pelo assassinato de Adolfo Ich, no dia 27 de setembro de 2009, esposo de Angélica, e também ao avançar o caso civil no Canadá contra HudBay Minerals por negligência em relação a este e outros sérios crimes contra a humanidade.

Nos preocupa enormemente o aumento dos atentados contra defensores e defensoras da terra, do território e do meio ambiente na América Latina, especialmente em mãos de empresas extrativistas multinacionais, como afirmou recentemente a Anistia Internacional.

Dessa situação resulta uma quantidade alarmante de vítimas que são mulheres indígenas. Consideramos que os responsáveis não são unicamente as empresas envolvidas nestes atos de violência, mas também, dos países de onde vêm e onde operam ao apoiar, de diferentes maneiras, a expansão dos interesses corporativos e dos investidores fazendo vista grossa frente à repressão, as violações e os direitos humanos e aos danos ao ambiente vinculados justamente a interesses econômicos.

As graves ameaças que Angélica e outras pessoas que participam do caso tem sofrido, vêm sendo denunciado repetidamente a nível nacional e internacional.
Seguimos apoiando sua valente e digna luta para conseguir justiça pelo assassinato de seu esposo.

O marido de Angélica, Adolfo Ich, era uma autoriadde ancestral maya q’eqchi e professor em sua comunidade de ‘La Unión’, El Estor.

No dia de seu assassinato havia escutado tiros em um campo de futebol próximo, onde manifestantes haviam se reunido por temerem que se sucedessem mais despejos ilegais realizados pela polícia e pela segurança privada, em nome da empresa canadense HudBay Minerals e a Companhia Guatemaltece de Níquel ( CGN), que neste momento era sua subsidiária guatemalteca.

Como era um dirigente de sua comunidade, Adolfo se dirigiu para o lugar a fim de restaurar a calma, e foi reconhecido como um importante opositor da mina de exploração.
De acordo com testemunhas, guardas de segurança da mina, sob o comando de Mynor Padilla, antigo coronel militar e chefe de segurança de HudBay Minerals/CGN, atacaram Adolfo com golpes, cacetadas e tiros. Adolfo morreu em consequência dos ferimentos.

O proceso penal contra Mynor Padilla, acusado pelo assassinato de Adolfo e também por graves lesões sofridas por Germán Chub, se estende a mais de um ano e meio na Guatemala.

Há alguns meses a juíza – afirmando se sentir ameaçada- ordenou que o caso fosse julgado a portas fechadas e desde então no se tem permitido a presença dos meios de comunicação e de observadores nacionais e internacionais.

O julgamento tem sido motivo de denúncia de irregularidades. Os autores das denúncias alegam que a juíza é racista. O longo e árduo processo acarreta dificuldades importantes, tanto pessoais como econômicas para Angélica, sua família e simpatizantes, e seus advogados.

Este não é o primeiro atentado contra Angélica. Outros já foram denunciados desde que se iniciou o julgamento penal na Guatemala, em março de 2015.

Na América Latina se persegue, ataca e ameaça com regularidade quem defende a água, a terra e a vida.

No Brasil, Nilce de Souza Magalhães, mais conhecida como Nicinha, foi assassinada em janeiro de 2016 após ter denunciado de maneira constante as violações dos direitos humanos do consórcio responsável pelo projeto hidrelétrico Jirau, Energia Sustentável do Brasil (ESBR). Nicinha era uma das dirigentes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e pertencia a uma comunidade de pescadores que tentava proteger o rio e seus afluentes. Como resultado de sua militância e luta, foi torturada, atada pelos pés e mãos e assassinada antes de ser amarrada a uma pedra e arremessada ao rio.

No dia 27 de setembro deste ano se completa o sétimo aniversário do assassinado de Adolfo Ich. Neste dia, reiteramos nossa solidariedade com Angélica Choc e sua família. Expressamos nossa profunda preocupação por ela e por outras muitas e muitos que com valentia defendem suas vidas e territórios perante projetos extrativistas de grande escala apesar dos altos riscos que isto implica. Exigimos que se respeite os direitos das comunidades a dizer ’não’ a tais projetos e condenamos o uso da força- política, legal e física- com o objetivo de implementar projetos contra sua vontade e sem o consentimento dos atingidos e atingidas.

Repudiamos o uso de ameaças, intimidações e ataques violentos por parte de governos e empresas para reprimir e tentar dissuadir a legítima resistência aos projetos. Exigimos que se faça justiça pelos atentados a defensoras e defensores da terra, do território e do meio ambiente.

Por sua vez, solicitamos que se tomem todas as medidas necessárias para garantir a segurança de Angélica Choc  e de todas as ousadas mulheres e homens que lutam em defesa de sua terra e bem-estar de suas comunidades

Organizações:

* Above Ground, Canadá
* Acompañamiento de Austria (ADA)
* Activistas de Derechos Humanos
* L’AMIE (Aide internationale à l’enfance), Québec, Canadá
* ARO CoopérAction InterNational, Québec, Canadá
* Asociación COMUNICARTE Guatemala
* Barnard-Boecker Centre Foundation, Canadá
* BC CASA/Cafe Justicia, British Columbia, Canadá
* CAREA e.V., Alemania
* CASA latino-américaine de Québec, Canadá
* Center for International Environmental Law (CIEL), U.S.
* Cercle des Premières Nations de l’UQAM, Québec, Canadá
* Chicago Religious Leadership Network on Latin America, U.S.
* CoDevelopment Canada, British Columbia, Canadá
* Colectivo Otto René Castillo, Guatemala
* Le Collectif Guatemala, Francia
* Comite Campesino del Altiplano – CCDA, Guatemala
* Comité pour les droits humains en Amérique latine (CDHAL), Québec, Canadá
* Confédération des syndicats nationaux, Québec, Canadá
* Consejo Indígena Popular de Oaxaca “Ricardo Flores Magon” CIPO-RFM, México
* Consensus, Cross-Cultural Communication and Multimedia, Ottawa, Canadá
* The Council of Canadians
* Denver Justice and Peace Committee, U.S.
* Earthworks, U.S.
* EcoViva, U.S.
* Environmental Network for Central America (ENCA), U.K.
* L’Entraide missionnaire, Québec, Canadá
* E-Tech International
* Friends of the Earth Canada
* Front Line Defenders
* Great Basin Resource Watch, Reno, Nevada, U.S.
* Grupo Cajola, U.S./Guatemala
* Guatemala Human Rights Commission (GHRC), U.S.
* Guatemala Research Group, University of Northern British Columbia, Canadá
* Guatemala Solidarity Network, London, U.K.
* Holy Cross International Justice Office, U.S.
* Horizons of Friendship, Canadá
* Inter Pares, Canadá
* Intercontinental Cry, Canadá
* KAIROS: Canadian Ecumenical Justice Initiatives, Canadá
* KAIROS, BC-Yukon region, Canadá
* Lakes Area Group Organizing in Solidarity with the People of Guatemala, U.S.
* Latin American-Canadian Solidarity Association, Canadá
* Latin America Solidarity Committee—Milwaukee, U.S.
* Latin America Task Force of the Interfaith Council for Peace & Justice, U.S.
* “Lucha Indígena”, Equipo de Redacción, Perú
* _Maritimes Guatemala Breaking the Silence_ Solidarity _Network_, Canadá
* Maryknoll Office for Global Concerns, Washington, D.C., U.S.
* Maui Peace Action, U.S.
* Mining Justice Action Committee (MJAC), Victoria, British Columbia, Canadá
* Mining Injustice Solidarity Network, Toronto, Canadá
* MiningWatch Canada
* Network in Solidarity with the People of Guatemala – NISGUA, U.S.
* New Hampshire/Vermont Guatemala Accompaniment Project, U.S.
* No One Is Illegal- Toronto, Canadá
* Northwatch, Ontario, Canadá
* North Bay Peace Alliance, Ontario Canadá
* Office of the Americas, Santa Monica, California, U.S.
* The Oscar Romero International Christian Network in Solidarity with the Peoples of Latin America (SICSAL)
* Otra Guatemala Ya Pax Christi International
* Pax Christi Southern California, U.S.
* Peace Watch Switzerland, Zúrich, Suiza
* Plataforma Internacional contra la Impunidad/International Platform against Impunity, Guatemala/Suiza
* Portland Central America Solidarity Committee, U.S.
* Progressive Leadership Alliance of Nevada, U.S.
* Projet Accompagnement Québec-Guatemala, Canadá
* Projet Accompagnement Solidarité Colombie (PASC)
* Protection International Guatemala
* Public Service Alliance of Canada
* Radical Action with Migrants in Agriculture, Canadá
* _Réseau québécois des groupes écologistes_ (RQGE), Québec, Canadá
* Rights Action (Canadá y U.S.)
* Save Our Sky Blue Waters, Duluth, Minnesota, U.S.
* Sierra Club of Canada
* Sisters of Holy Cross, Canadá
* Solidarité Laurentides Amérique centrale (SLAM), Québec, Canadá
* Task Force on the Americas, U.S.
* La Unidad de Protección a Defensoras y Defensores de Derechos Humanos – Guatemala (UDEFEGUA)
* Unitarian Universalist Service Committee, U.S.
* United for Mining Justice, Canadá
* Victoria Central America Support Committee, Canadá
* WeCount!, U.S.
* Wyoming Guatemala Accompaniment Project, U.S.

Imagem: Angélica Choc e na foto Adolfo Ich, seu marido .

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

12 + 8 =