O professor Edimilson de Almeida Pereira, da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), se tornou o mais novo professor titular na tarde da última quinta-feira, 9, defendendo a tese “Entre Orfe(x)u e Exu Nouveau: análise de uma estética de base afrodiaspórica na literatura brasileira”. A pesquisa estuda a configuração de um modelo estético, cujos desdobramentos na linguagem poética remetem a uma interpretação de mundo segundo as matrizes culturais iorubás articuladas em território brasileiro.
Segundo Edimilson, o trabalho se estabelece a partir de uma perspectiva multidisciplinar e considera a relevância das matrizes afrodescendentes na constituição do complexo social, político, econômico e cultural brasileiro. “Procuramos demonstrar, a partir da articulação de uma estética afrodiaspórica, a diversidade das práticas culturais afrodescendentes que, embora participem da constituição de nossos processos identitários são, muitas vezes, relegadas a um segundo plano”, afirma o professor. Ele ressalta, ainda, que a compreensão dessas práticas “é determinante para a criação e a manutenção de políticas públicas que garantam aos segmentos sociais, sobretudo aos que estão em situação de risco, condições dignas de vida”, conclui.
Neste ano, Edimilson completa 30 anos de formação de Licenciatura em Letras e conta que, desde o início de sua carreira, sempre teve afinidade com temas da cultura africana. Assim, a defesa de sua tese foi uma realização tanto pessoal, quanto profissional. “Esse momento serve como a confirmação de que minha trajetória de vida e de formação intelectual tem mais relevância porque é resultante de um contínuo processo de partilha. Fiz minha trajetória de estudos em instituições de ensino público e, na UFJF, tive sempre o suporte necessário para desenvolver minhas atividades”, explica o professor.
A importância do trabalho com outros pesquisadores
Trabalhando com temáticas que trouxessem à tona assuntos sobre a literatura afro-brasileira, visando ampliar o diálogo com outras linhas de investigação, Edimilson ressalta a importância em trabalhar com outros pesquisadores e pesquisadoras, de áreas diversas: “o tema que abordei na tese tem me acompanhado desde sempre, mesclado a outros temas, particularmente àqueles vinculados às culturas populares rurais. Não há nada mais interessante, para mim, do que a possibilidade de lidar com o conhecimento a partir de um processo aberto ao debate e à troca de experiências.”
Segundo o diretor de Ações Afirmativas da UFJF, Julvan Moreira de Oliveira, o trabalho defendido por Edimilson contribui para o âmbito interno e externo à Universidade, principalmente por se tornar o primeiro professor negro da Faculdade de Letras a ter a promoção de titular. “O trabalho de Edimilson busca legitimar as literaturas africanas em relação à literatura europeia, tornando-se um instrumento da africanidade na construção da nossa identidade brasileira. Neste sentido, o seu texto colabora conosco para que possamos aprofundar nesta tradição da oralidade africana, que é uma das riquezas que nos foi transmitido. Por abordar, no Brasil, esta temática que é mais estudada em outros lugares, a pesquisa contribui de forma positiva para a UFJF”, pontua Julvan.
Fizeram parte da banca examinadora, as professoras Neiva Ferreira Pinto (UFJF), Maria Esther Maciel (UFMG) e Zilá Bernd (UNILASALLE) e o professor Wilberth Salgueiro (UFES).
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A Faculdade de Letras foi ressaltada pelo professor Edimilson como espaço fundamental de aprendizado e de compartilhamento de conhecimentos (foto: Géssica Leine/UFJF)
Enviada para Combate Racismo Ambiental por Anisio Silva.