Com a “reforma” da Previdência, as pessoas terão que trabalhar além dessa idade para se aposentar. E onde estarão empregadas?
Por Patrícia Cornils, no Outras Palavras
A “reforma” da Previdência proposta pelo governo federal é especialmente cruel com os idosos e idosas. Com a obrigatoriedade de contribuir por 49 anos para receber o teto, muitas pessoas vão precisar trabalhar além da idade mínima de 65 anos para poder se aposentar, em vez de usufruir o direito a uma aposentadoria digna.
Obrigadas a trabalhar, onde as pessoas vão buscar empregos? Hoje, mesmo aposentados e aposentadas continuam trabalhando para complementar sua renda. Mas não conseguem vagas no mercado de trabalho. De acordo com matéria publicada pelo G1, trabalhadores com mais de 65 ocupam menos de 1% das vagas formais no país. A reportagem é baseada em estimativas do IBGE, feitas a partir da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2015. De acordo com o instituto, cerca de 16 milhões de pessoas têm mais de 65 anos, mas apenas 137,6 mil ocupam vagas formais no mercado de trabalho. Eram apenas 0,3% dos 48 milhões de trabalhadores formais na economia brasileira em 2015.
Ouvida na matéria, a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Ana Amélia Camarano, explica que o número de idosos trabalhando seria maior se fosse considerado também o mercado informal. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do IBGE mostram que havia cerca de 2,82 milhões de trabalhadores com mais de 65 anos no país em 2014 – ano em que a população economicamente ativa era de cerca de 100 milhões de pessoas. Se as vagas são maiores na informalidade, onde a estabilidade é menor e os salários também, como essas pessoas vão conseguir contribuir o número de anos suficiente para poder se aposentar?
Outra pergunta: se um dos principais argumentos para a aprovação da PEC 287 é o de que a população brasileira está envelhecendo, por que reduzir seus direitos em vez de criar políticas para abrir postos de trabalho para as pessoas com mais de 65 anos?
Foto: Marcelo Camargo, Agência Brasil
