Indígenas Guarani Mbya ocupam área da Fepagro em Maquiné / Relato de Merong Santos

Por Marco Weissheimer, no Sul 21

Cerca de 30 famílias Guarani Mbya ocuparam, sexta-feira (27) uma área no município de Maquiné, no litoral norte do Rio Grande do Sul, com o objetivo de fundar uma nova aldeia. A área, que pertence atualmente à Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), em vias de extinção pelo governo de José Ivo Sartori (PMDB), tem matas, um rio de águas limpas e uma terra propícia para a agricultura. Os Guarani reivindicam a área como terra indígena.

Para a comunidade de aproximadamente 80 pessoas, entre adultos e crianças, trata-se da retomada de um território que foi usurpado. O litoral norte do Rio Grande do Sul é ocupado por grupos guarani desde antes da chegada dos europeus ao Brasil. Com a violência do processo de colonização e a entrega dessas áreas para colonos, os guarani foram expulsos das terras em que viviam. Somente nas últimas décadas do século XX conseguiram começar a voltar para essa região, vivendo em pequenas áreas com precárias condições de vida.

Diversas entidades estão se mobilizando para apoiar as famílias Guarani. Três frentes estão sendo organizadas, em Porto Alegre, Caxias do Sul e Capão da Canoa, para recolher e levar alimentos, roupas e lonas para o grupo.

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Relato de Merong Santos*​

Em Mídia Kaingang

Aqui na retomada das terras da área da Fepagro, em Maquiné, estamos todos bem. Não ocorreu ainda violência contra nós e assim esperamos que continue, pois não somos criminosos, queremos produzir e sobreviver. Estamos ocupando de forma pacífica as terras, como um movimento pacífico e nosso interesse é puramente termos um espaço para termos nossa sobrevivência garantida, sem que ninguém precise se machucar ou perder sua vida por estar apenas numa ‘disputa’ pela sobrevivência, sua e de toda sua comunidade.

As famílias Mbya Guarani que aqui se encontram estão muito felizes de estarem vivenciando esta oportunidade e, durante os rituais que estão acontecendo todos os dias, a cultura Guarani é repassada e compartilhada com as nossas crianças.

As nossas crianças estão muito ativas, felizes e tomando água boa e pensando sobre a importância da terra! Para todos nós, povos originários, é muito importante que seja esta a realidade das nossas crianças, ouvindo o cântico dos Pássaros na natureza em harmonia, ao contrário da cruel realidade que são impostas a nós, indígenas, nas grandes cidades, que é a ocupação de áreas contaminadas, degradadas e sem valor, tanto para o branco quanto para nós, que não moramos e nem vivemos individualmente. Nossa forma de viver não é a mesma e precisamos ter esse direito nosso, de podermos ser do nosso jeito. Muitas das famílias indígenas que moram nos centros urbanos vivem em situação de abandono, passando necessidade e sem água boa para beber.

Nosso desejo é que as famílias permaneçam aqui e que o Governo demarque esta área como Terra Indígena Guarani, um povo que preserva sua cultura e preserva a natureza. Precisa desta posição política para continuar existindo enquanto povo, Povo Originário.

* Merong Santos é líder indígena, colaborador da página e está acompanhando junto a retomada de território indígena pelos Mbya Guaraní.

Foto: Merong Santos.

 

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