Viabilizada pelo Rumos Itaú Cultural, essa exposição, um dos resultados desenvolvidos em âmbito da ação “Do Buraco ao Mundo”, é a culminância de processos educativos mediados com o quilombo-indígena Tiririca dos Crioulos (localizado no município de Carnaubeira da Penha, sertão do Estado de Pernambuco, região Nordeste do Brasil), viabilizada pelo Rumos Itaú Cultural (2015-2016).
Desde o seu surgimento no ano de 2014 (ver histórico da ação ao final), em três anos de pesquisa-ação permanente, a ação “Do Buraco ao Mundo” efetuou a formação de pesquisadores(as) locais da Tiririca dos Crioulos, envolvidos(as) na realização de um inventário participativo dos bens culturais de sua comunidade, ao reconhecer que somente a própria coletividade possui legitimidade suficiente para afirmar aquilo que pertence (ou não) à sua história. Os esforços culminaram na produção de um material didático composto por um “documento sonoro”, vídeos e livro, disponibilizados para download através do blog.
Concebida colaborativamente, nesta exposição os “objetos”, fotos, desenhos, vídeos e músicas selecionadas são fortes vetores de pertencimento e importantes suportes de memórias coletivas. São referências que constituem aspectos do patrimônio, como o ambiente circundante, os locais e práticas sagradas, festas, saberes, os Encantos, entre outros.
A concepção expográfica ressignifica no espaço as tensões entre diferentes formas de se apresentar ao “mundo” concebidas pelas pessoas de diferentes faixas etárias dessa comunidade. O que as diferentes gerações de tiririqueiros pensam sobre si, seu passado, presente e futuro? E o que querem “comunicar” no espaço expositivo? Como apresentar-se de forma digna – de um modo que parte do olhar dos tiririqueiros sobre si, sem desconsiderar aspectos importantes do percurso histórico de sua comunidade, mas também sem cair nas armadilhas da vitimização e do reforço de uma imagem caricatural e escravista de uma população negra rural?
Um passado de sofrimento repercutiu na superação das dificuldades e na resistência como forma de existência. Por isso, “pessoas fortes na luta”. A Tiririca dos Crioulos é uma coletividade que ainda hoje luta por seus direitos constantemente ameaçados, assim como tantas outras comunidades quilombolas, indígenas e tradicionais espalhadas pelo Brasil.
A luta pela garantia do território, por condições de plantio viáveis que possibilitem a convivência com o semi-árido, pelo acesso e permanência aos estabelecimentos de ensino (escolas e universidades), para citar alguns, são pontos importantes na reafirmação de um novo momento na trajetória de luta dos tiririqueiros e tiririqueiras. Momentos atuais em que as crianças ensinam aos adultos e aos mais velhos a reverem seu próprio passado, ao se tornarem, elas próprias, narradoras de sua história.
Serviço:
Exposição “Tiririca dos Crioulos: pessoas fortes na luta”
Local: Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes; João Pessoa – Paraíba
Abertura no dia 6 de Maio com a seguinte programação:
14:00
Roda de Diálogo: “Arte, Patrimônio e Políticas Culturais: construindo pontes para a educação das relações étnico-raciais”
Participação: Equipe “Do Buraco ao Mundo”, Rumos Itaú Cultural, Casa do Patrimônio/IPHAN-PB, Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI-UFPB), Curadoria da Estação Cabo Branco.
17:00
Ritual de abertura com as moradoras e moradores da Tiririca dos Crioulos
Período para visitação: Maio a Junho de 2017
Entrada: gratuita
Faixa etária: sem restrições
Maiores informações: www.culturadigital.br/tiriricadoscrioulos
Histórico da ação
2014 = Edital de Preservação e Acesso aos Bens do Patrimônio Afro-Brasileiro (MinC/UFPE/FUNDAJ/Rede Memorial)
2014 = Funcultura Independente (FUNDARPE)
2015 = 28o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade: iniciativa de excelência na gestão compartilhada do Patrimônio Cultural (IPHAN)
2015 = Prêmio Boas Práticas de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial
2016 = Rumos Itaú Cultural
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Enviado para Combate Racismo Ambiental por Nivaldo A. Léo Neto.