A prefeitura de São Vicente colocar na rua cerca de 50 pessoas foi moralmente criminoso

Ailton Martins, em Frequência Caiçara

A ação que aconteceu nesta terça-feira (11) que despejou cerca de 50 pessoas, colocando basicamente todas elas nas ruas, mesmo atendendo a uma ordem judicial, foi um ato moralmente criminoso por parte da prefeitura de São Vicente. Afinal, retirar pessoas que estão num local sem nenhuma condição de se viver com dignidade, (sem infra-estrutura) e simplesmente oferecer apenas uma cesta básica e um cadastro em programas sociais como resposta a um despejo forçado, é absurdamente revoltante e, reafirmo: um crime.

E vale dizer que, a prefeitura de São Vicente faltou com a verdade. Pois a cerca de três semanas que o MTST (Movimento do Trabalhadores sem Teto) tenta trabalhar um diálogo obedecendo todos os dispositivos democráticos, reuniu-se com a Secretaria de Habitação, depois com o assessor e chefe de gabinete do prefeito, e sempre colocando-se de modo a pensar uma solução conjunta, respeitando o momento de crise, obviamente que, reivindicando também a construção de uma alternativa viável para que as pessoas não fossem desassistidas, pois bem, nas reuniões com o secretário e habitação, Edson Brasil e o com o chefe de gabinete foi acordado trabalhar em conjunto e tentar ganhar tempo, e caso ocorresse uma ordem imediata de reintegração, na verdade, ela já estava em andamento e somente dependia de sensibilidade da prefeitura para prorrogá-la, coisa que não ocorreu, enfim, o acordo era que o movimento seria comunicado.

Todavia, a prefeitura ignorou o acordo, passou por cima do diálogo e decidiu despejar toda a comunidade sem aviso e, caso não fosse os contatos que o MTST tem no judiciário, a prefeitura teria efetivado a reintegração de modo covarde, porque as pessoas (maior parte) estariam em seus trabalhos e quando retornassem se deflagrariam com suas casas demolidas. Além de que, havia um acordo para as famílias irem no CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) hoje, quer dizer, o que fica parecendo é que houve armação para retirar o máximo de pessoas possíveis do local, e desta maneira derrubarem as casas sem nenhuma resistência.

Por organização, o MTST ao receber a informação de pronto comunicou a comunidade e desceu de São Paulo mobilizando os militantes da baixada e a advogada Débora Camilo, com intuito de organizar a comunidade, mediar, registrar e reivindicar o “minimo” como o chefe de gabinete em reunião na sexta-feira (07/04) colocou, porém, sem dizer o que era o minimo e nem querer assinar um documento de acordo, porque segundo ele, a conversa era de comprometimento sério e ali estavam homens de palavra.

Honestamente, como os desdobramentos sequentes, penso que essa é a palavra de um tipo de político que está lixando-se para a população. E de fato, pois, nesta terça-feira ainda com a reintegração em curso o MTST buscou novamente o diálogo e foi até a prefeitura com a advogada para resolver de vez a situação das famílias, afinal, a colocação da Assistência Social de que poderiam ir para um abrigo, não tinha o menor sentido, sendo que os dois que existem na cidade estão atuando com capacidade acima do suportado, ou seja, faltam com a verdade a todo momento.

Mas o pior estava por vir, na conversa com o chefe de gabinete nos corredores da prefeitura, a posição dele foi irredutível, disse que o momento é de crise e a responsabilidade é do antigo prefeito por ter deixado a cidade ter chegado nessa situação, questionado do por quê decidiram então assumir um governo, já que não possuem respostas para os problemas, desconversou. Na realidade, penso que possuem, todavia, não está na pauta do dia responsabilizar-se com os mais necessitados por parte desse governo.

Vale colocar que o prefeito Pedro Gouvêa nem a coragem para reunir-se com o MTST teve, mas em sua campanha eleitoral, teve a pachorra de ir na comunidade pedir voto. Infelizmente, essa é dura realidade de uma São Vicente, cujo futuro citei certa vez: perturbador.

Antes de finalizar o texto, deixo um parabéns a secretária de assuntos jurídicos da prefeitura pela arrogância como lida com as pessoas.

Prefeitura higienista!

OBS: Com a confusão para retirar as pessoas e montar o inventário de pertences de cada morador, somado com a revolta da população devido o descaso da prefeitura, a reintegração não foi efetivada integralmente, nesta quarta-feira pela manhã possivelmente irão retornar. Duas casas pegaram fogo após um curto-circuito na fiação improvisada pelos moradores. Traduzindo: Uma ação desastrosa e cruel de uma prefeitura que vive propaganda a frase “São Vicente te quero bem” falácia, pra quem é essa São Vicente que querem bem, não é para os mais desfavorecidos com certeza.

Outra coisa, gostaria de entender o que é todo o lixo despejado atrás do Centro de Convenções, não sabia que ali era um lixão, quer dizer, qual o exemplo que está dando a Prefeitura de São Vicente? Aliás, não é pouco o lixo que tem lá, é muito coisa, acredito que tem algo errado nessa situação prefeito Pedro Gouvêa. Por que os caminhões despejaram lixo no local?

Foto: Guilherme Junior

Enviado para Combate Racismo Ambiental por Lara Schneider.

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