Mulheres negras repudiam “apadrinhamento” de Temer proposto por Ministra

Coletivos auto-organizados discordam da fala de Luislinda Valois e reafirmam luta pela retomada da democracia

Por Juliana Gonçalves e Mayara Paixão, Brasil de Fato

Durante uma cerimônia corrida em Brasília, no último dia 12 de abril, a atual Ministra dos Direitos Humanos, LuisLinda Valois, concedeu ao presidente golpista Michel Temer a denominação de “padrinho das mulheres negras brasileiras”.

A fala da Ministra, aplaudida no auditório, foi registrada em vídeo e rapidamente se espalhou via Whatsapp. Além do trecho polêmico, Valois pede para Temer não mudar. “Presidente: não mude. Continue, nós mulheres precisamos muito do senhor. Lhe peço: fique conosco, nos dê apoio…”, afirma na gravação.

Diversas organizações e militantes da comunidade negra se manifestaram repudiando as palavras da Ministra que chegou ao governo depois de Temer receber duras críticas por ter formado um ministério masculino e branco.

A ex-ministra da Igualdade Racial e do Ministério das Mulheres, Igualdade Racial, Juventude e Direitos Humanos da presidenta Dilma Rousseff, Nilma Lino Gomes, escreveu um artigo sobre o episódio e afirmou que não se trata  de desconsiderar a trajetória da ministra e sua história como mulher negra no “seleto misógino, machista e racista campo jurídico”.

“Trata-se de afirmar que o pensamento, a postura política e ideologia que a fazem acreditar que nós, mulheres negras precisamos de um padrinho —  diga-se de passagem um homem branco e golpista — , não nos representa”, defendeu.

Gomes relembrou ainda que é sintomático que essa fala venha um ano após o golpe parlamentar que teve, segundo ela, forte aspecto de classe, raça e gênero. “Nós, mulheres negras brasileiras, lutamos pela retomada da democracia”, finaliza.

Em nota, a Marcha de Mulheres Negras de São Paulo diz também não reconhecer qualquer apadrinhamento de Temer. “Os ataques que Michel Temer tem feito desde que assumiu a presidência nos atingem diretamente. Luislinda deveria ter lembrado disso ao colocar em nossas bocas e em nossos nomes posição que não reivindicamos”, traz o texto.

Beatriz Lourenço do Nascimento, militante da Consulta Popular e integrante da Marcha das Mulheres Negras, afirmou que relegar à luta das mulheres negras a qualquer apadrinhamento é um irresponsabilidade.

“Dizer que Michel Temer não nos representa não se encerra na figura dele, enquanto homem branco e rico, mas também porque a política dele ataca frontalmente as mulheres negras brasileiras”, afirma Lourenço citando as reformas trabalhistas e da previdência.

Outras entidades, como a Coordenação Nacional de Gênero do Coletivo de Entidades Negras e Coletivo de Mulheres da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas* (CONAQ), também se manifestaram contrárias à fala da Ministra.

Edição: Vivian Fernandes.

Imagem: Marcha das Mulheres Negras em Brasília, em 2015 – Marcello Casal Jr/Agência Brasil

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