Enquanto Dória expulsa, Theatro Municipal acolhe: Coral de moradores de rua encanta no Theatro Municipal

Por Priscila Brandão, no Medium

Quando pensamos na questão de pessoas em situação de rua pensamos também em vulnerabilidade à qual os moradores estão submetidos: violência, desemprego, a luta diária por, ao menos, uma refeição, disputas, frio, calor, higiene e a dor da solidão. Poderia também citar aqui dezenas de outros motivos pelos quais a dor física e moral permeiam a realidade de milhares dessas pessoas. São crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos que chegaram nesta situação por diversos motivos. Porém, hoje, o que trago aqui é uma esperança que tem acontecido há pouco mais de um ano na vida de pessoas em situação de rua do município do Rio de Janeiro.

O Coral

Trata-se de uma proposta criada em 2016 através de um programa de intercâmbio a partir de um projeto chamado “Streetwise Opera” (O Gingado de Opera da Rua) das Olimpíadas Culturais de Londres em 2012 onde idealizadores, que já trabalhavam com o desenvolvimento de arte para a população de rua há pelo menos vinte anos, perceberam a fragilidade no contato com essas pessoas, a dificuldade de um projeto efetivo e consciente com essa população, introduzindo-os, desta maneira, na Agenda Olímpica. Pensando nisso, formou-se então o Coral “With One Voice” (Uma Só Voz) que procura desenvolver em pessoas em situação de rua essa qualificação através da arte. No Rio de Janeiro o projeto se iniciou pouco antes das Olimpíadas onde membros do projeto no Reino Unido procuraram a prefeitura para que pudessem iniciar uma proposta de capacitação artística na cidade. Deste modo chegaram ao atual regente do coral Uma Só Voz, o Rico Branco.

Pensando na arte como um agente transformador de vidas, Rico Branco foi convidado a levar a sua turma, contendo mais de 70 coristas, para cantar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro como comemoração de um ano de existência do Coral Uma Só Voz. Um feito inédito para O Theatro e para a população de rua. E assim iniciou-se a linda festa. Com músicas populares brasileiras o coro encantou a todos. Era possível ver, tanto no palco que foi a escadaria de dentro do Theatro Municipal, como na plateia, choros de emoção e alegria que eram expressados, a cada fim de música, por longos aplausos.

Os Cantores

Gabriel, corista de 22 anos, disse que “Jamais imaginava pisar no Theatro Municipal, ainda mais como artista. O Coral trouxe me trouxe uma nova perspectiva de vida, porque durmo perto do Theatro. Sempre vejo pessoas entrando no lugar e nunca pensei que chegaria a minha vez.” Já Edmilson, 50 anos, vem de uma formação cristã onde conheceu a música ainda criança. Edmilson frequentava coros da igreja até sair de casa aos 12 anos. Na semana da apresentação do coral Edmilson havia voltado para a casa da mãe e contou com orgulho o quanto o projeto o ajudou a tomar essa decisão de recomeçar a vida voltando para a casa.

Hoje o projeto não abarca somente ensaios e apresentações do coro, mas também oficinas de música. Os ensaios, que acontecem na Catedral Católica, são palcos de confraternizações que criam na população de rua novas expectativas de vida. Para Félix e Alf, que são músicos voluntários do projeto desde seu início, o Coral Uma Só Voz é um ato transformador não só para a população de rua, mas para eles também. Estar em contato com uma realidade tão distante e tão próxima ao mesmo tempo faz com que os tornem mais humanos frente às necessidades alheias. Hoje Félix integra o corpo docente dando aulas de violino para os coristas e ele já vê resultados.

A comemoração do aniversário de um ano do Coral no Theatro Municipal foi um marco para o projeto uma vez que ele se estabelece no circuito cultural da cidade com excelência e qualidade sonora. Hoje existe uma capacitação profissional para os coristas e na ocasião foi lançado uma campanha de crowdfunding para que o coral possa continuar a cantar.

Para poder contribuir basta acessar a página: catarse.me/amigosdoscoraisumasovoz

Foto: Maria Isabel Oliveira

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