Por Fernanda Couzemenco, Século Diário
Governador Lindemberg, Jaguaré e Sooretama foram os municípios que mais devastaram a Mata Atlântica no Espírito Santo entre 2015 e 2016. No ranking nacional, o Estado ficou em sétimo lugar tanto em área desmatada (330 hectares) quanto em percentual de aumento no período (116%). Os dados são do mais recente Atlas da Mata Atlântica, atualizado anualmente pela ONG SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgado nesta segunda-feira (29).
Em relação à área total desmatada, em hectares, o Espírito Santo ficou atrás apenas da Bahia (12.228 ha), Minas Gerais (7.410 ha), Paraná (3.453 ha), Piauí (3.125 ha), Santa Catarina (846 ha) e São Paulo (698 ha).
Quanto ao percentual de aumento da devastação no período 2015-2016, comparado a 2014-2015, os seis estados que superam os 116% de aumento do Espírito Santo são: São Paulo (1.462%), Goiás (345%), Bahia (207%), Paraíba (206%), Alagoas (181%) e Ceará (149%).
As florestas nativas capixabas estão hoje reduzidas a 10,5% do território, segundo também os dados do Atlas da Mata Atlântica, o que configura uma situação alarmante, que explica a crise hídrica que provocou cerca de 70% de perdas na safra passada e tem deixado milhões de pessoas sem água, seja na cidade ou no campo.
Segundo o Atlas, foram destruídos 29.075 hectares de florestas entre 2015-2016 no País, sendo que há 10 anos não era registrado no bioma um desmatamento nessas proporções. Os municípios do sul da Bahia concentram cerca de 30% do total desmatado, região que faz limite com o norte do Espírito Santo. Na paisagem dessa região, nos dois estados, predominam as monoculturas de pastos para pecuária, de eucaliptos (deserto verde) e de cana-de-açúcar.
Eucaliptos
Um sobrevoo realizado por técnicos da SOS Mata Atlântica, em 16 de maio deste ano sobre os municípios de Santa Cruz Cabrália e Belmonte, constatou queimadas em floresta, conversão da floresta em pastagens e processos de limpeza de áreas onde o entorno apresenta forte atividade de silvicultura.
Em Minas Gerais, os principais pontos de desmatamento ocorreram nos municípios de Águas Vermelhas (753 ha), São João do Paraíso (573 ha) e Jequitinhonha (450 ha), região reconhecida pelos processos de destruição da Mata Atlântica para produção de carvão ou pela conversão da floresta por plantios de eucalipto. Minas liderou o ranking em sete das últimas nove edições do Atlas da Mata Atlântica, sempre com municípios dessa região figurando na lista dos maiores desmatadores.
Para Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, a situação é gravíssima e indica uma reversão na tendência de queda do desmatamento registrada nos últimos anos. E, para ele, não é por acaso que os quatro estados campeões de desmatamento são conhecidos por sua produção agropecuária.
“O setor produtivo voltou a avançar sobre nossas florestas, não só na Mata Atlântica, mas em todos os biomas, após as alterações realizadas no Código Florestal e o subsequente desmonte da legislação ambiental brasileira. Pode ser o início de uma nova fase de crescimento do desmatamento, o que não podemos aceitar”, destaca.
Segundo ele, a ofensiva continua com a tentativa de flexibilização do licenciamento ambiental e diversos ataques ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação.
“No momento em que o caos está instalado em Brasília, numa crise política que tem no seu centro a maior empresa de carnes do mundo, a bancada do agronegócio e o núcleo central do governo federal avançam, de forma orquestrada e em tempo recorde, sobre o nosso sistema de proteção ambiental. A sociedade não pode ficar alheia às decisões tomadas por nossos governantes e legisladores. Precisamos nos mobilizar para frear o desmonte da nossa legislação”, conclui.
Desmatamento Zero
Em maio de 2015, 17 secretários de Meio Ambiente dos Estados da Mata Atlântica assinaram a carta “Nova História para a Mata Atlântica [2]”, compromisso que prevê a ampliação da cobertura vegetal nativa e a busca do desmatamento ilegal zero no bioma até 2018.
Entretanto, após dois anos do acordo, esta edição do Atlas da Mata Atlântica aponta que apenas cinco estados estão no nível do desmatamento zero, ou seja, com menos de 100 hectares (1 Km2) de desflorestamentos, somadas áreas desmatadas em florestas, mangues e restingas: Rio Grande do Norte (6 ha), Alagoas (11 ha), Paraíba (32 ha), Pernambuco (16 ha) e, Rio de Janeiro (66 ha).
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