Encontro reúne mulheres de comunidades tradicionais de Fundo de Pasto em Uauá

No Irpaa

“O que são relações de gênero?” Foi uma das questões lançadas para cerca de 30 mulheres de comunidades tradicionais de Fundo de Pasto, que participam do encontro de mulheres do Projeto de Assessoria Técnica e Extensão Rural – Ater para comunidades tradicionais. A atividade, que começou ontem (30) e encerra neste dia 31 de maio, no município de Uauá, faz parte do cronograma de ação do Projeto de Ater, somando-se a outras ações voltadas para o público do projeto, juventude, homens e mulheres de comunidades tradicionais dos municípios de Uauá, Canudos e Curaçá.

Entres os objetivos do encontro estão o de contribuir com o empoderamento feminino e construir coletivamente um plano de ação para mulheres de comunidades tradicionais de Fundo de Pasto, a ser desenvolvido ao longo de dois anos, tempo de realização do Projeto de Ater, executado pelo Irpaa. Para tanto, a programação dos dois dias de encontro contemplou discussões sobre relação de gênero, divisão do trabalho, políticas públicas para mulheres, a importância das mulheres do campo, entre outras temáticas.

Na avaliação da equipe do Irpaa, a participação das mulheres ao longo das discussões enriqueceu ainda mais o debate. Alguns casos de situações de desigualdades de gênero e outros de superação de opressões vividos por mulheres de comunidades tradicionais foram compartilhados na roda de conversa, revelando o quanto ainda é preciso superar as desigualdades de gênero. Para a maioria das mulheres, a conquista do seu espaço na sociedade é uma luta intensa e diária, sendo necessário combater o machismo também presente nas mulheres, devido a todo o processo histórico de construção social dos papéis de homens e mulheres na sociedade.

A Presidente da Associação de Fundo de Pasto de Canabravinha, Maria Madalena Paixão dos Santos, relata que não enfrenta problemas em casa por ser uma liderança comunitária, o que para ela, infelizmente, não é a realidade de outras mulheres, principalmente, que vivem no campo. Ela explica que a força do machismo presente nos lares limita a participação e empoderamento feminino diante da situação de opressão que se vive dentro de casa, um desafio que para as participantes precisa ser enfrentado pelas próprias mulheres, começando pela união com outras mulheres, participação em eventos de formação política, envolvimento na associação, entre outros espaços.

Acesso a políticas públicas
Um dos momentos do Encontro foi para discutir quais e como acessar políticas públicas voltadas às mulheres de comunidades tradicionais, apesar de não existirem políticas específicas para estas. Em muitas comunidades o acesso às políticas públicas representa oportunidades de desenvolver trabalhos no campo, proporcionando a participação de mulheres e jovens, principalmente, na geração de renda das famílias. “Acessar estas políticas públicas amplia a nossa participação no mundo, que não pode se resumir a nossa casa”, relata a criadora de cabras e ovelhas, Sueli Vieira da Silva, da comunidade de Pedra Grande, em Uauá.

Sueli acrescenta ainda que o acesso às tecnologias de água na sua propriedade e a assessoria técnica que recebem tem ampliado o seu envolvimento na produção familiar, sendo uma oportunidade para adquirir mais conhecimento e ter uma renda a partir da atividade na roça: “nós também somos gente e precisamos ser valorizadas, não só o trabalho do homem [deve ser valorizado], não é só o homem que trabalha”, avalia.

Neste sentido, a discussão foi ampliada para provocar uma autorreflexão sobre o papel social ocupado por estas mulheres e como elas se percebem na sociedade, uma possibilidade de avançar no tocante ao empoderamento feminino. Isso provocou nas participantes uma reflexão acerca de quais espaços ocupam e como e onde se dá essa participação, entendendo como a participação contribui para que cada uma se fortaleça e conquiste sua liberdade e seus direitos.

“Nós estamos aqui, enquanto mulheres de comunidades tradicionais porque lutamos muito, então temos que valorizar esse espaço… a agente aprende a cada dia a valorização das conquistas”, relatou emocionada a participante Maria Conceição, da Comunidade de Angico, em Canudos, lembrando todas as conquistas que as mulheres do campo alcançaram, como o acesso a água, a terra, assessoria técnica, entre outras.

O projeto de Ater para povos e comunidades tradicionais é realizado pelo Irpaa e atende famílias dos municípios Uauá, Curaçá e Canudos. O projeto é financiado pela Superintendência Baiana de Assistência Técnica e Extensão Rural – BAHIATER, órgão ligado a da Secretaria de Desenvolvimento Rural – SDR, do Governo do Estado da Bahia.

Foto: Comunicação Irpaa.

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