Por André Garcia Santana, no Olhar Direito
Respeitando padrões internacionais de sustentabilidade e em consonância com a cultura e tradição das etnias locais, comunidades do Xingu passarão em breve pela implantação de escolas estaduais indígenas. A expectativa pela concretização do “Escola Sonhada”, como os indígenas batizaram o projeto que eles mesmos conceberam, teve, enfim, uma resposta após a reunião ocorrida na terça-feira (6). O encontro contou com representantes do Governo do Estado, lideranças do Xingu, Ministério Público Estadual (MPE) e associações parceiras.
Ali ficou estabelecido que, a partir do dia 12 de junho, representantes da Secretaria de Educação, Esporte e Lazer (Seduc), acompanhados pelo MPE e outras instituições envolvidas, vão fazer uma expedição para identificar as demandas e traçar um diagnóstico do que é preciso para viabilizar a construção e reforma das unidades escolares do Alto Xingu, que congrega nove das 26 etnias do Território Indígena do Xingu (TIX).
O projeto é uma iniciativa da Promotoria de Justiça Especializada da Bacia Hidrográfica do Xingu Sul e abrangerá, numa primeira fase, todo o alto Xingu. E, posteriormente, poderá se estender ao restante do Território Indígena. “Essa é uma das grandes lutas dos caciques. Alguns morreram lutando. Falaram para eles que iam construir e até hoje nada”, recorda Kuya Waurá, diretor da escola indígena da aldeia Piyulaga, do povo Wauja.
Apesar de outros governos não terem cumprido suas promessas, o governador Pedro Taques, segundo a assessora da Seduc presente na reunião, Carla Rocha, “já autorizou e ordenou a construção dessas escolas”. Além disso, a Seduc, sob responsabilidade do secretário Marco Marrafon, assegura que todo o processo será pautado no diálogo. “Tudo que for feito vai ser aprovado e decidido em conjunto com as comunidades indígenas”, ressalta Carla.
Logística Singular
Ela também acrescentou que “só falta viabilizar o projeto, porque a principal dificuldade é a logística. O Xingu é uma situação atípica”. A situação citada é referente à dificuldade de acesso ao TIX, pois só é possível adentrar via embarcações ou aviões.“Tudo que se constrói lá dentro é muito complicado. Levar o material até lá é mais caro do que fazer a obra”, complementa a promotora Solange Linhares, que desenvolve diversos projetos com povos do Xingu.
Portanto, as peculiaridades da logística dificultam a realização e elevam consideravelmente o custo das obras, o que espanta possíveis interessados em realiza-la. “Não aparecem empreiteiras interessadas em fazer escolas no meio do Xingu. Então estamos tentando um projeto alternativo”, comenta Carla.
Ela se refere ao “Escola Sonhada”, que propõe a utilização de matéria-prima local e técnicas inovadoras de construção. Além disso, com disponibilização de apoio técnico e formação, as obras seriam realizadas pelas próprias comunidades, seja por meio de mutirões ou mão de obra contratada.
E, apesar da falta de recursos oriundos do Governo Federal, o projeto pode ser viabilizado graças à parceria entre MPE, Governo do Estado, Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Território Etno Educacional do Xingu (TEEX), Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX), Instituto Sociaoambiental (ISA) e Instituto Homem Brasileiro (IHB).
“Escola Sonhada”
De acordo com Solange Linhares, trata-se de um modelo de escola idealizado pelas comunidades locais e apresentado como projeto arquitetônico. A planta faz alusão à imagem de um Cocar (elemento típico da indumentária indígena).
Foi proposto a utilização de material ecologicamente correto (paredes de adobe e tijolos/telhas de barro), o que facilitaria, principalmente, a questão da logística, já que tudo seria produzido e realizado pelos próprios indígenas.
Solange argumenta que, em cidades, é frequente a depredação de escolas, pois não há envolvimento e participação durante a fase de construção. “Quando a comunidade participa da elaboração do projeto e, depois, de sua concepção, a chance da criação de um vínculo afetivo com a escola é muito maior”
Além disso, “no Xingu, as aldeias são tradicionais. São ocas construídas com sapê. Então não vamos ter um prédio do mundo branco lá dentro”. Levando em consideração estes preceitos, conclui Solange, se mantém “as características culturais e arquitetônicas próprias das aldeias”, que, de fato, são as mais adequadas, pois se trata de uma região de Mato Grosso onde não existe rede elétrica.
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Foto: Jean Nunes