Organizações da sociedade civil denunciam: veto às MPs 756 e 758 é mera manobra

Vale considerar ainda o fato de Temer ter divulgado o veto exatamente antes de embarcar para viagem à Rússia e à Noruega, cujo Ministro do Meio Ambiental divulgou dura nota (AQUI) ameaçando retirar os recursos para a proteção da Amazônia por conta do aumento do desmatamento na região. (TP)

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Nota pública de organizações da sociedade civil contra a manobra do governo Temer para reduzir nível de proteção de quase 600 mil hectares de unidades de conservação

As Medidas Provisória 756 e 758 reduzem o nível de proteção de quase 600 mil hectares de unidades de conservação (UCs). A MP 756 transforma 480 mil hectares da Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, no Pará, em Área de Proteção Ambiental (APA) e reduz o Parque Nacional de São Joaquim, em Santa Catarina, em 20% de sua extensão original. A MP 758 também transforma 100 mil hectares do Parque Nacional de Jamanxim em APA, também no Pará. A desproteção é incontestável porque a APA é uma categoria de UC que permite o desmatamento, mineração e a venda de terras. Isso vai resultar na regularização de todos que ocuparam terras em seu interior, inclusive alguns dos maiores grileiros e desmatadores da Amazônia.

Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), mais de 67% dos ocupantes da Flona entraram pouco antes ou logo após a criação da área. Devido ao desmatamento decorrente dessa ocupação irregular, a Flona do Jamanxim perdeu 117 mil hectares de floresta, entre 2004 e 2016, gerando uma emissão de 70 milhões de toneladas de CO2.

O clamor pelo veto dessas MPs foi amplo, reunindo pesquisadores, ambientalistas, artistas, governos, órgãos internacionais, setores do próprio agronegócio e o Ministério do Meio Ambiente. O Palácio do Planalto anunciou o veto integral à MP 756 e o veto parcial da MP 758.

Nos últimos dias, veio a público um vídeo onde o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, já anunciava que a Presidência vetaria a MP 756. O problema é que, de acordo com o ministro, será enviado um projeto de lei ao Congresso, em regime de urgência, propondo a transformação daqueles mesmos 480 mil hectares da Flona de Jamanxim em APA. Isso significa que o veto apenas serve para transferir do presidente para o Congresso, hoje dominado por parlamentares sem compromisso com a conservação ambiental, a responsabilidade de desproteger essa parcela significativa da floresta amazônica.

Na semana passada uma série de denúncias na imprensa brasileira e internacional revelaram os reais beneficiados dessa redução da proteção da floresta. Entre eles, estão o empresário Ezequiel Castanha, acusado pelo Ministério Público de ser um dos maiores desmatadores da Amazônia; Ubiraci Soares da Silva, prefeito de Novo Progresso (PA), devedor de R$ 1,9 milhão em multas por desmatamento; Pedro Cordeiro, apontado como o maior desmatador ilegal da Floresta Nacional Jamanxim; entre outros grileiros que invadiram e desmataram a área para lucrar com sua posterior regularização.

Vale ressaltar que as Medidas Provisórias 756 e 758 foram desfiguradas em sua passagem pelo Congresso. Da mesma forma, é previsível que esse projeto de lei também receba emendas para desproteger outras UCs. A manobra do governo traz de volta a ameaça inicial, com o objetivo de recuperar todo o texto que foi vetado, e a possibilidade de um estrago ainda maior.

Assinam:

  • Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade (Afes)
  • Amigos da Terra – Amazônia Brasileira
  • Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi)
  • ClimaInfo
  • Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração
  • Conectas Direitos Humanos
  • Instituto BVRio
  • Instituto Centro de Vida (ICV)
  • Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam)
  • Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema)
  • Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc)
  • Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam)
  • Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)
  • Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB)
  • Iniciativa Verde
  • Instituto Socioambiental (ISA)
  • Greenpeace-Brasil
  • Mater Natura
  • Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela
  • Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM)
  • Observatório do Clima
  • Processo de Articulação e Diálogo (PAD)
  • Rede GTA
  • Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Ecologia (Sinfrajupe)
  • Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS)
  • Uma Gota no Oceano
  • World Resources Institute (WRI) – Brasil
  • WWF-Brasil

Balsa sobre o Rio Branco, no limite do Parque Nacional do Jamanxim, usada exclusivamente por garimpos ilegais e saqueio madeireiro no interior da UC. A área que pode virar APA Rio Branco e beneficiar a exploração criminosa. Foto: Daniel Paranayba

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