Lançado em São Paulo, “Máquinas Paradas, Fotógrafos em Ação” compila mais de 160 imagens, além de textos, de profissionais da imagem envolvidos na resistência ao regime autoritário
por Redação RBA
No fim da década de 1970, o Brasil estava mergulhado no regime ditatorial iniciado com o golpe de 1964 (e que prolongou-se até 1985, com a eleição indireta de Trancredo Neves para a Presidência da República) – tempos de censura, repressão e violência de Estado. Neste contexto, os trabalhadores metalúrgicos dos polos de São Paulo e do chamado ABC paulista resolveram aderir a um movimento de resistência grevista. Mobilizações que “são um marco na história das lutas populares no país”, como recorda o fotógrafo Ennio Brauns.
Brauns faz parte de um grupo de fotógrafos que aderiu ao espírito de luta da época, e passou a se dedicar integralmente ao movimento, e que tem parte de seu trabalho reunido no livro Máquinas Paradas, Fotógrafos em Ação, lançado ontem (4), pela editora da Fundação Perseu Abramo.
A narrativa da obra, organizada pelo cineasta Adilson Ruiz, é desenvolvida a partir de cinco artigos e 169 fotos, de nomes como o próprio Ruiz, Alipio Freire, Ennio Brauns, Renato Tapajós, Roberto Gervitz, Eduardo Simões, Hélio Campos Mello, Jesus Carlos, João Bittar, Juca Martins, Nair Benedicto, Ricardo Alves, Ricardo Giraldez e Rosa Gauditano.
“Todos os fotógrafos tinham consciência do que estava acontecendo e se posicionavam contra o regime. Foi um convívio diário. A proximidade ajudava no trabalho. Não era só uma questão de se posicionar bem em relação à foto, mas também de saber o que iria acontecer, estar bem informado”, afirma Brauns. O período das ações registradas vai de 1978 a 1981.
Ruiz ressalta a importância da obra diante da valorização de um discurso que ia de encontro com a visão da mídia da época. “Em vez de dividir o livro em dez sessões com os fotógrafos, resolvemos criar uma narrativa e usar a fotografia dentro dela. Esses fotógrafos criaram uma alternativa à narrativa oficial que a mídia hegemônica trazia”, explica.
Para o cineasta, o livro “recria aquele momento de luta dos trabalhadores sob a ótica de seus protagonistas: lideranças sindicais, trabalhadores anônimos, artistas, fotógrafos, cineastas, jornalistas”. Brauns engrossa o discurso da capacidade de união de atores sociais. “Expressão de uma experiência coletiva de trabalhadores que entusiasmou grande parte da sociedade nacional. Revelam a capacidade da solidariedade na luta contra o Estado autoritário, como poucas vezes se viu na nossa História.”
Durante o lançamento, realizado na sede da Perseu Abramo, em São Paulo, foi exibido o primeiro episódio da série documental Chão de Fábrica, que aborda o mesmo período retratado em Máquinas Paradas, Fotógrafos em Ação. A série produzida pela TVT (pode ser vista aqui), com direção de Renato Tapajós, que esteve presente e saudou a obra em conjunto com o livro como importantes expressões de um momento histórico do país. Assista abaixo a primeiro episódio.
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Foto de Eduardo Simões durante assembleia no estádio da V. Euclides, durante a mais longa greve da época, em 1980, que durou 41 dias