Por um “Big Brother Temer”, com deputados sendo comprados ao vivo, por Leonardo Sakamoto

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Temer tem recebido os deputados federais em seu gabinete neste momento que antecede a votação que pode afastá-lo do cargo para que a Suprema Corte julgue uma ação penal por corrupção passiva contra ele.

O que será que fazem a portas fechadas?

Alguns amigos jornalistas acham que discutem técnicas de promover terror para Counter-Strike ou cenários míticos de um Final Fantasy. Outros creem que rolam jogos de tabuleiro, como Detetive. Afinal, se ”Michel matou Dilma com uma pedalada no Palácio” nada impede que ”Rodrigo mate Michel com uma canetada na Câmara”. Também pode rolar Banco Imobiliário, mas nunca com dinheiro falso, claro.

Há também quem diga que Temer convida os parlamentares para sessões de sarau baseados em seu livro de poesias ”Anônima Intimidade”, publicado em 2012. Parece que o poema que mais faz sucesso junto ao Ministério Público Federal é ”Trajetória”:

”Se eu pudesse,
Não continuaria.”

(É sério. Esse poema existe. E é dele.)

Como não sou ninguém para comentar literatura, pedi ajuda ao escritor Julián Fuks, ganhador do Prêmio Jabuti de Melhor Romance e de Melhor Livro de 2016, para tanto:

”Se eu pudesse, não comentaria. Evocaria apenas o velho ditado latino: ‘Presidente ilegítimo, poeta ilegítimo’. O que se destaca aqui é a insinceridade do eu-lírico. Sabe o sujeito a quem o poema se destina, sabem os leitores todos, sabem os cidadãos de um país inteiro: essa trajetória já deveria ter se encerrado há muito tempo. Falta aos versos veracidade ética e estética; ao país, falta um veraz presidente.”

O prefácio do livro foi do então ministro do STF Carlos Ayres Britto. Edson Fachin, também ministro da corte e responsável por analisar a denúncia contra Temer, prefere prosa a poesia, mas sem mesóclises. E deseja publicar a biografia não-autorizada final do atual ocupante da Presidência da República.

A TV Globo transmitirá a íntegra da votação contra Temer na Câmara, dando nome, sobrenome e estado de cada semovente. Junto com a sua declaração em cadeia nacional. O que incluirá chamada aos faltosos. Promete que dará o mesmo tratamento que o dado à votação do impeachment de Dilma, no dia 17 de abril do ano passado.

Não sei se vocês lembram do show de horrores que foi aquela votação. Mamíferos transformando um dos momentos mais importantes da política nacional em um circo, mandando beijo para a esposa, os filhos, o gato pelado. Eu, que não creio, clamava a Deus que me sacrificasse para não ter que terminar de ver aquilo. Mas Deus, diante daquilo e, arrependido de sua promessa que não mandaria outro dilúvio para acabar com tudo, tomou uma caixa de Frontal e apagou.

Se parte significativa da população não tivesse esquecido aquele dia, hoje haveria piquete em frente ao Palácio do Planalto e do Congresso Nacional.

Por isso, TV ao vivo na votação é pouco. Tem que instalar uma webcam transmitindo as conversas de gabinete de Temer com os deputados federais que mostre as negociatas e quanto cada uma custou aos cofres públicos. Assim poderíamos acompanhar a relação lúdica e poética estabelecida pela Presidência da República com a Câmara dos Deputados.

Mais do que isso: cada encontro em que a República seja colocada à venda em nome da salvação do poeta de Tietê deve contar com uma equipe de comentaristas analisando o desempenho no tomaladacá dos envolvidos. Chamem a Daiane dos Santos para dar nota ao final de cada duplo twist carpado para justificar o injustificável. Quero o Vanderlei Cordeiro de Lima falando do fôledo de Temer na maratona com deputados. E convida o Gustavo Kuerten. Ah, o cara é muito gente boa, só carisma, nem precisa razão para chamá-lo.

Mas também coloquem o Rodrigo Hilbert para explicar a natureza dessa bizarrice enquanto constrói uma casa na árvore para os amigos dos filhos e prepara um pato no tucupi – ele consegue. Botem o Iberê Thenório, do Manual do Mundo, para contar o que deu errado para que a evolução de inofensivos seres unicelulares desse naquilo. E quero o Galvão Bueno para, ao acerto do custo de cada voto, gritar: ”Ééééééé… Brasil!” Se possível, chamem o Ronaldo também para comentar, mas desde que venha vestido com a camiseta: ”A culpa não é minha, eu votei no Aécio”.

E, ao final de tudo, antes da votação, eu quero a Regina Cazé, comandando um Esquenta, com a Mangueira entrando no Salão Verde da Câmara dos Deputados. E o Zé Celso dirigindo tudo isso.

Com transmissão constante, Temer não precisaria mais se preocupar em ser grampeado. É o benefício da transparência total.

Os melhores momentos das transmissões deveriam ser disponibilizados no You Tube, Vimeo, Globo Play, UOL Mais e ser assistido de forma obrigatória por todo eleitor antes das próximas eleições. Deveria estar no Telecurso 2000. Seria extremamente didático mostrar quem são as pessoas que decidem o que todos nós somos obrigados a seguir e como eles negociam o país com o nosso (já pouco) dinheiro. Dividido em episódios, ainda levaria o Emmy. Chupa, Frank Underwood! Chupa, Daenerys Targaryen!

Confesso que seria lindo um ”Big Brother Temer”, transmitindo todos os encontros, com a possibilidade de votação ao final. Não apenas para escolher quem sai do Palácio. Mas também quem deve entrar. Votação com a participação de todos os eleitores brasileiros de forma direta e não apenas de 513 deputados e 81 senadores.

Por fim, quase como um aviso, encontro outro poema de Temer, chamado ”Fuga”:

”Está
Cada vez mais difícil
Fugir de mim!”

Imagina então para os mais de 200 milhões de habitantes que dependem de um Brasil funcional e honesto para sobreviver.

Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress

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