Por Eliane Brum
“Escrevo para enviar a vocês o documentário que fizemos sobre a equipe da Clínica de Cuidado que atuou em Altamira em janeiro.
Toda essa história começou com a voz do seu João. Já tinha escutado muitos atingidos por Belo Monte. E cada voz me alcançou de maneira muito profunda. Mas a palavra do seu João dizia o indizível. Eu estava com Maíra, que é psicanalista. E entendemos ali que era necessário que o sofrimento dos refugiados de Belo Monte fosse escutado também de outra maneira. E, assim, pela transmissão da palavra, por essa coisa poderosa e transgressora que é a escuta, começou a construção da Clínica de Cuidado. A palavra do seu João iniciou o movimento, é dele a voz do princípio, a voz que atinge e afeta, rompendo barreiras também no corpo daquele que escuta.
A palavra sendo transmitida como uma outra possibilidade da quadrilha de Drummond…. Ilana, Christian, André, Cássia… Muitos escutaram. E 1305 apoiaram. Tornaram possível a invenção virar ato.
O movimento da Clínica de Cuidado é pequeno, mas é um movimento. E ele segue das mais variadas maneiras, muitas delas invisíveis. O fato de que o que podemos fazer é pouco, diante da enormidade do que nos cerca e nos atinge, não nos dispensa de fazer esse pouco. Como aprendemos com seu Elio: Eu +1. A gente só se torna grande no coletivo.
Além da intervenção ocorrida em janeiro, será publicado um documento escrito, sobre o sofrimento escutado, que ficará disponível na internet. Este documento ainda está em fase de elaboração pela equipe.
Mas achamos necessário fazer um documentário sobre a tessitura da Clínica de Cuidado e sobre esta equipe, de várias partes do Brasil, abrindo espaço para uma reflexão sobre a experiência particular de cada voluntário quando esteve no território. É um documentário singelo, feito com recursos (financeiros, técnicos e humanos) muito, muito limitados, além de, obviamente, não podermos identificar nenhum “paciente”. Os ribeirinhos que aparecem foram gravados em outro contexto, de entrevista jornalística ou consulta como liderança comunitária. Jamais em atendimento.
O documentário foi editado pela Nani Garcia, montadora excepcional. A câmera e as fotos são do grande Lilo Clareto. A música linda dos créditos foi gentilmente cedida pelo incrível Arthur de Faria. E a direção é minha.
É um documentário singelo, que conta uma história que achamos importante. E que sonhamos que possa ser compartilhada e debatida nos mais variados espaços. E, quem sabe, inspire outras clínicas e outros movimentos.
Quem melhor definiu o que esta equipe buscou ser e fazer foi a dona Francineide, que criou o conceito mais brilhante do que é um psicólogo que já escutei.
Tá tudo aqui, no documentário.
Muito, muito obrigada. Espero que faça sentido para vocês.
Em nome de todos da Clínica de Cuidado, agradeço profundamente o apoio de vocês.
E convido a todos para aproveitar o fim de semana e aumentar um pouco mais essa rede de escuta, assistindo ao EU+ 1
E, se acharem que vale a pena, nos ajudam a divulgar?”
–
Destaque: Imagem capturada do vídeo “Eu + 1”
Cara Eliane,
Meu nome é Sofia Mendonça, coordeno o Projeto Xingu, programa de extensão da Escola Paulista de Medicina da Unifesp.
Venho por meio deste retorno te dizer que achei o documentário genial! Parabéns a toda a equipe. Genial pela sensibilidade de ouvir, se aproximar, agir, refletir e passar adiante a experiência. É um documentário denso, duro, mas extremamente delicado. Uma denúncia que precisa reverberar….
Estamos juntas na empreitada!
grande abraço
Sofia