“Se esses territórios estivessem com os fazendeiros, essas matas já tinham acabado e esses ribeirões já estavam secos e/ou poluídos”

Por Associação União das Aldeias  Apinajé-Pempxà

A partir de 2010 com a conclusão da UHE Estreito, temos monitorado a qualidade e a quantidade das águas do rio Tocantins e seus afluentes, especialmente as que nascem dentro da TI Apinajé. Nesse período observamos a gradativa e repentina diminuição do volume de águas das nascentes e ribeirões nos municípios de Tocantinópolis e Maurilandia, localizadas a jusante do barramento.

Nos últimos 05 anos o rio Tocantins vêm sofrendo a maior crise hídrica e seca de sua história, em 2016 a travessia de balsa entre as cidades de Tocantinópolis – TO e Porto Franco – MA, foi totalmente interrompida por falta d’água. Pescadores e barqueiros da região afirmam que nunca viram o rio Tocantins nestas condições. Como se não bastasse todos os anos a região é intensamente castigada pelos incêndios nos campos e florestais, desastres que também contribui para degradação das nascentes e cabeceiras.

Desde que a Suzano Papel e Celulose foi implantada em Imperatriz – MA, que vivemos sob constante ameaça também dos plantadores de eucaliptos. Assim temos travado intensa luta para impedir o desmatamento do entorno da TI pelos fazendeiros. Entendemos que essa atividade vai degradar ainda mais o Cerrado e contribuir para assoreamento e seca das nascentes, inclusive as que estão dentro da TI indígena. Mas, de forma insensata e intransigente os fazendeiros insistem em desmatar de forma ilegal, buscando o conflito a qualquer custo.

A 350 km rio acima na cidade de Miracema – TO, localizada próxima a UHE de Lajeado o rio Tocantins no seu trecho abaixo do barramento encontra se irreconhecível, degradado e quase seco. A montante da obra observa se um lago quase parado, com águas cada vez mais poluídas e quentes. O entorno da TI Xerente no município de Pedro Afonso – TO está totalmente tomado pela cana e soja. Se continuar nesse ritmo em poucos anos teremos extensas áreas de Cerrados transformados em desertos, com conseqüências gravíssimas para a população da bacia hidrográfica Tocantins/Araguaia.

As condições do Rio Araguaia e seus afluentes também é muito crítica, especialmente no trecho que passa nos Estados de Goiás e Mato Grosso o rio já sofre com as voçorocas e assoreamentos. Nessa região do Brasil predomina as atividades agropecuária, praticada muitas vezes sem responsabilidade e gestão ambiental adequada. O controle e a fiscalização e por parte dos órgãos ambientais não funcionam, e as instituições do Estado parecem cada vez mais insuficientes burocráticas e corrompidas. E para piorar o Araguaia e seus afluentes recebem diariamente toneladas de lixos, esgotos e pesticidas despejado pelas cidades e vilas de ribeirinhos.

Outro rio brasileiro que também nasce no Cerrado e corre pra Leste, o rio São Francisco encontra se em situação ainda pior. Alguns (poucos) políticos, ambientalistas, artistas e religiosos tem se levantado em defesa do “Velho Chico”.  No dia 05/09/17, durante depoimento na Comissão de Assuntos Econômicos – CAE, o Senador Otto Alencar do PSD da Bahia, lembrou que há muitos anos clama pela revitalização do rio São Francisco, mas reconhece que pouco foi realizado, o parlamentar declarou que em razão da situação de extrema gravidade e crise hídrica algo precisa ser feito pelos rios brasileiros.

Essa é a situação dos rios do Centro – Norte e Nordeste do Brasil, infelizmente o governo golpista do Michel Temer e a maioria dos Senadores e Deputados que o sustentam, não tem nenhuma proposta séria para proteger, defender e revitalizar esses importantes rios brasileiros. O que percebemos são planos para desmatar cada vez mais a Amazônia e o Cerrado e continuar entregando nosso patrimônio e destruindo os mananciais hídricos.

O plantio intensivo de soja, eucaliptos, milho, arroz e cana para exportação, praticada pelo agronegócio são atividades que mais demanda e depende de água. Mas, ironicamente o setor ruralista é quem mais está desmatando, destruindo e degradando as nascentes e mananciais de águas do país.

Diante dessa situação só nos resta articulação das diversas organizações da sociedade civil e fazer uma ampla mobilização política e social para forçar os governos, os parlamentares e empresas recuarem com seus projetos destruidores. Ainda é fundamental acionar a PGR/MPF e o judiciário para obrigar esses infratores a observar e cumprir a CF e a legislação ambiental do país. A articulação e parceria com entidades ambientalistas de outros países são necessárias para se ter êxito.

Terra Indígena Apinajé, 06 de setembro de 2017

Associação União das Aldeias  Apinajé-Pempxà

Imagem: Crianças Apinajé no ribeirão Botica, patrimônio ameaçado. (foto: Antonio Veríssimo. Set. de 2017)

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