Em Do corpo ao pó, Bruno Martins Morais reconstrói história assassinatos, atropelamentos e reintegrações de posse para compreender como os indígenas lidam com a morte e a terra enquanto lutam pela demarcação em estado dominado pelo agronegócio. A ser lançado em 9 de novembro, livro venceu prêmio da Associação Nacional de Pesquisa em Ciências Sociais
Como os Kaiowá e Guarani se relacionam com a morte e a com a terra no contexto de extrema violência do Mato Grosso do Sul? Essa é a pergunta-chave que Bruno Martins Morais tenta respondem no livro Do corpo ao pó: crônicas da territorialidade kaiowá e guarani nas adjacências da morte, a ser publicado pela Editora Elefante em 9 de novembro, em São Paulo.
Ilustrado com fotos de Lunaé Parracho, Ruy Sposati e outros fotógrafos que cobriram o conflito pela terra nessa porção do Centro-Oeste tradicionalmente ocupada pelas populações kaiowá e guarani, além de imagens produzidas pelo próprio autor, Do corpo ao pó conta com prefácio do antropólogos Levi Marques Pereira, professor da Universidade Federal da Grande Dourados, e orelha da antropóloga Ana Claudia Duarte Rocha Marques, professora da Universidade de São Paulo. O livro foi premiado pela Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs).
Advogado e antropólogo, Bruno Martins Morais realizou suas pesquisas de campo em aldeias, retomadas e reservas indígenas kaiowá e guarani do Mato Grosso do Sul enquanto trabalhava como assessor jurídico do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) na cidade de Dourados. O trânsito entre aldeias, cartórios e audiências lhe permitiu acesso diferenciado tanto aos trâmites da justiça federal como aos indígenas que empreendem e sustentam as retomadas de terra kaiowá e guarani no estado.
A história do tekoha Apyka’i e de sua líder, Dona Damiana, é um dos destaques do livro. Rotineiramente ameaçada por mandados de reintegração de posse, a cacique promove um verdadeiro “cerco” à Fazenda Serrana, que reivindica como lugar de seus antepassados. E isso apesar das constantes mortes que assolam seus parentes: ao menos sete foram atropelados entre 1999 e 2014, devido à proximidade entre o acampamento e a rodovia e, sobretudo, à hostilidade da população local contra os Kaiowá e Guarani. Dominado pelo agronegócio, o MS abriga aproximadamente oitenta mil indígenas.
Parte significativa dessa população vive em situação precária, seja nas superpovoadas reservas estabelecidas no século XX, seja em acampamentos improvisados com lonas pretas e pedaços de madeira, instalados às margens de rodovias e em torno de fazendas cuja posse reivindicam. Os números do conflito são alarmantes. De acordo com o Relatório de violências do Cimi, publicado em outubro de 2017, dezoito indígenas foram assassinados no Mato Grosso do Sul em 2016. Outros trinta cometeram suicídio. No total, 118 indígenas foram assassinados no país. Em 2015, os números foram muito piores: os homicídios vitimaram 36 indígenas no estado, que então encabeçou a lista de violências do Cimi.
De acordo com a renomada antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, Do corpo ao pó alia inteligência, talento e generosidade. “Bruno Martins Morais está na trincheira, no pronto-socorro, como advogado atuante na defesa dos Guarani. Mas também faz mais: tenta desvendar como eles constroem sentido em uma história de extrema violência”, afirma. “Contra os que acham que é luxo procurar entender o mundo de quem é trucidado, Bruno Martins Morais mostra a importância de fazê-lo. Este é um grande livro.”
Do corpo ao pó: crônicas da territorialidade kaiowá e guarani nas adjacências da morte será lançado em 9 de novembro, em São Paulo, com a presença do autor, Bruno Martins Morais, que debaterá as ideias do livro. Haverá ainda show do artista Ruspô.
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Alenice Baeta.