Por Arison Jardim, no Notícias do Acre
No ano de 1999, o povo indígena Ashaninka, que vive ao longo do Rio Amônia, em Marechal Thaumaturgo, no Acre, foi testemunha da ousadia e poder financeiro de traficantes. Os rios, igarapés e caminhos por meio da floresta que separam o Brasil do Peru tornam essa região rota de drogas.
Francisco Piyãko Ashaninka, uma das lideranças da Aldeia Apiwtxa, relata à agência Notícias do Acre como foi feita a abordagem: “A proposta que fizeram era construir uma pista de pouso dentro de nossa Terra Indígena [T.I.], próximo à linha da fronteira para retirar sua cocaína. Diziam que estava ficando muito difícil pousar em território peruano, perdiam pessoas e dinheiro”, disse.
A proposta, que incluía ainda o pagamento de U$ 50 mil por avião pousado, foi plenamente recusada por toda a aldeia. “Eu pedi a palavra, em nome dos Ashaninka, e falei que como estávamos recebendo uma proposta numa relação de negócio, a nossa resposta era não, nossa comunidade é contra o narcotráfico, tráfico madeireiro e qualquer atividade ilícita, e nossa luta era por liberdade”, declarou Francisco.
O testemunho comprova que há muito tempo o narcotráfico utiliza o Acre como passagem da droga e que as fronteiras brasileiras são frágeis. O Peru é o segundo maior cultivador da folha de coca, planta tradicional usada para a produção da droga cocaína.
Questão nacional
Nas semanas que antecederam o Encontro de Governadores do Brasil pela Segurança Pública e Controle das Fronteiras – Narcotráfico, uma emergência nacional – realizado no dia 27, em Rio Branco -, Piyãko, acompanhado de seu pai e sua mãe, conversaram com o governador Tião Viana para relatarem a preocupação de quem vive diretamente na fronteira.
“Neste momento sentimos que a presença do tráfico de droga é forte nas fronteiras, mas é feito de forma muito discreta. Só ações integradas entre os países, com serviços de inteligência, podem nos falar a dimensão deste problema”, explicou Francisco.
A posição do grupo Ashaninka foi clara quanto às drogas e movimentos ilegais em suas terras. Os moradores da aldeia realizam uma vigilância constante na região, contra o mal do narcotráfico e do crime. “Nosso povo Ashaninka não vai ceder aos traficantes, esta é uma escolha nossa nesta fronteira que estamos cuidando. Esperamos que as instituições brasileiras cumpram com seu papel e estejam juntas”, finalizou Francisco.
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