Aécio Neves afirmou, em um evento tucano, neste sábado (11), que uma candidatura de Luciano Huck à Presidência da República representaria ”um pouco da falência da política”.
O senador mineiro aparecia em fotos de amizade nas redes sociais do apresentador de TV e empresário até ser deletado quando veio à tona o escândalo da delação da JBS, que o envolveu.
”É um pouco do momento de desgaste generalizado pelo qual passa a política. O Luciano é um sujeito muito capaz, inteligente, mas agora é preciso conhecer o que ele pensa sobre as mais variadas questões que demandam a posição de um homem público. O tempo é que vai dizer se ele está ou não preparado para esta missão”, completou.
Não vou entrar no mérito de uma candidatura de Luciano Huck, pois ele tem todo o direito de pleitá-la.
Mas seria chover no molhado lembrar que o próprio senador e o seu partido têm responsabilidade no fato de uma parcela da população ter mais apreço, hoje, a uma unha encravada do que pela política.
Ao forçar um impeachment com provas frágeis (lembrando que a razão da cassação de Dilma Rousseff não foi a corrupção, mas os decretos de crédito suplementar e pedaladas fiscais) ao invés de esperar por um julgamento do caixa 2 de campanha (que contava com evidências concretas), ajudou a esgarçar instituições.
Depois, ao apoiar o grupo fisiológico e corrupto ligado a Michel Temer em nome de reformas que interessavam ao mercado financeiro e grandes empresas e imaginando uma transição política que possibilitasse sua própria eleição à Presidência, Aécio ajudou a construir o clima de vale-tudo. A publicização dos casos de corrupção, que jogaram para baixo a popularidade dele e de Temer, levando a que ambos se abraçassem em nome da sobrevivência, são parte desse processo.
A percepção de perda de representatividade, de corrosão das instituições e de descrédito com a política continua crescendo. Esse clima abre caminho para algo novo. Que pode ser bom ou ruim. Esse ”novo” irá governar com um Congresso Nacional que pode ser igual ou pior a esse que está aí. E, juntos, nos levar a algum lugar nunca antes visto, inclusive para longe da democracia. Afinal de contas, como já disse aqui, no fundo do poço, há sempre um alçapão.
Há uma disputa inútil nas redes sociais para saber quem seria o responsável por colocar Michel Temer em nossas vidas. Afinal, o desejo por governabilidade fez com que o PT acolhesse ele e seu grupo, com carinho, na chapa presidencial. E o desejo por retornar ao poder fez com que o PSDB conspirasse ao seu lado e, depois, lhe desse arrimo. Depois, centenas de parlamentares que se vendem por muito ou pouco, em troca de dinheiro ou de medidas de interesses de seus patrocinadores, mantiveram o jabuti em cima do poste. Ou seja, tem culpa para distribuir para todo mundo.
O PT, de certa forma, ainda está pagando o preço. Agora, virando geleia em praça pública, com brigas entre seus caciques, o PSDB também ajoelha no milho. Como é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um tucano ser enviado à cadeia, a resposta poderá ser eleitoral.
A democracia representativa falhou em garantir o respeito aos anseios de sociedades plurais e complexas. Isso não significa, por outro lado, que a solução seja negar a política e suas instituições. Que podem não ser perfeitas, mas é o que temos neste momento. A alternativa a isso, historicamente, passou por saídas rápidas, vazias, populistas e, não raro, autoritárias e enganosas. Porque não há nada mais político do que algo que se diz não-político. E temos vários exemplos de não-políticos, quase-políticos, mais-do-que-políticos e não-sou-nem-deixo-de-ser-político, na fila de espera.
Aécio deveria ver com mais carinho candidaturas outsiders como a de Luciano Huck. Afinal de contas, ele pode até não reconhecer, mas não é necessário teste de DNA para saber que é um dos pais dessa situação.