Mulheres do MST denunciam a cultura do estupro e ocupam fazenda ligada a ruralista

Na manhã deste sábado, 25 de novembro, Dia Internacional de combate à violência contra as mulheres, cerca de 200 mulheres do MST, ocuparam uma fazenda em Avaré (SP) ligada ao ex-médico Roger Abdelmassih, condenado a 181 anos por estupro de aproximadamente 40 mulheres

Coletivo de Comunicação MST/SP

O caso teve repercussão internacional pela gravidade dos fatos e pela relação com outras denúncias como uso de sêmen de rato na manipulação genética, compra de sêmen de moradores de rua e troca de material humano, gerando filhos geneticamente de outras pessoas e sem o consentimento das pacientes, como comprovado em exames de DNA.

Mas Roger Abdelmassih também é um ruralista. Sua empresa, a Agropecuária Sovikajumi, chegou a possuir 18 fazendas na região de Avaré com cultivo de laranja. Em 2004, recebeu o título de cidadão avareense (revogado depois das denúncias). É sogro de José Luiz Cutrale, um dos maiores exportadores de suco de laranja do mundo, grileiro invasor de terras públicas da União na região de Iaras, Agudos e Borebi, como denunciado pelo MST desde 2009.

A fazenda ocupada pelo MST na manhã deste sábado (25), que já foi investigada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado de Bauru (Gaeco), supostamente pertence hoje à JF Citrus, empresa do setor citrícola com sede em Bebedouro. Mas a propriedade do imóvel é controversa, como demonstram os inúmeros processos trabalhistas e de sonegação fiscal, no município de Avaré, que interrelacionam as empresas. Há também as suspeitas do Ministério Público Estadual (MPE) sobre um repasse de R$ 5,2 milhões feito por uma empresa produtora de frutas de Bebedouro, para a empresa Agropecuária Colamar, de propriedade da esposa do estuprador e ex-Procuradora Federal, Larissa Maria Sacco Abdelmassih.

Valendo-se de seu prestígio junto a famosos como Hebe Camargo e Gugu Liberato, o ex-médico formou uma rede de poderosos – investigada pela Polícia Federal e divulgada amplamente pela imprensa – para bancar sua fuga de três anos e meio em diversos lugares no Brasil, Europa e Paraguai, onde levou uma vida de luxo ao lado de seus filhos e esposa. Segundo investigações do MPE, a rede que acobertou o estuprador envolveu a empresa de sua esposa, a Agropecuária Colamar, empréstimos bancários feitos por Ruy Marco Antônio, ex-diretor do Hospital São Luiz e entrega de dinheiro vivo feita por colaboradores de Jaboticabal e Avaré.

O estuprador ruralista cumpre prisão domiciliar desde o mês de outubro na capital paulista, em seu luxuoso apartamento, depois de ter se beneficiado de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF),  com a alegação de problemas de saúde. Na prática, ele ficou apenas cerca de 3 anos e 4 meses sob regime fechado.

Desde as primeiras denúncias, em 2008, as mulheres vítimas se organizaram e foram fundamentais no processo de investigação e até hoje lutam na justiça por indenizações e outros direitos.

Neste 25 de novembro, as mulheres sem terra seguem em luta pelo direito à terra e por uma política de Reforma Agrária; contra o machismo e a violência contra as mulheres e LGBTs; e contra a cultura do estupro, incentivada por ações de Estado como no caso da PEC 181, que abre brechas para retrocessos no direito assegurado ao aborto em casos de estupro, risco de vida às mulheres e má formação do cérebro, em vigência no país.

Se calarmos, as pedras gritarão!!!

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