Manchetômetro Facebook – 21 a 27 de novembro, 2017

Por Natasha Bachini e João Feres Junior, no Manchetômetro

Esta semana foram publicados 4.893 posts nas 40 páginas monitoradas pelo M Facebook, totalizando 2.084.979 de compartilhamentos. As páginas que mais postaram nesse período foram a da Folha de S. Paulo, com 395 posts; a do Movimento Contra Corrupção, com 386 posts; e do grupo Juiz Sergio Moro – o Brasil está com você, com 384 posts. No entanto, nenhum dos seus posts conseguiu viralizar de modo que garantisse seu lugar no ranking das publicações mais compartilhadas da semana.

Tabela 1: 10 posts mais compartilhados da semana (21 a 27/11/2017)[1]

Os 10 posts da tabela acima concentram 17% do volume total de compartilhamentos obtidos pelas 40 páginas monitoradas ao longo dessa semana. Novamente, o vídeo foi o recurso mais empregado nos posts (80%), seguido pelo link (20%). A maioria tem cerca de 3 minutos. Pela primeira vez, não tivemos fotos dentre os posts mais compartilhados.

Os veículos da grande imprensa ocupam os extremos da tabela. A página do SBT obteve o maior número de compartilhamentos. Esse post reproduzia um trecho da entrevista com o pré-candidato à Presidência da República Dr. Rey no programa de Danilo Gentili. No vídeo, Rey inicia falando de maneira não muito clara, devido ao seu carregado sotaque, sobre o processo de “petetação” do Brasil e acusa o governo dos últimos treze anos de ter roubado R$80 bi. O médico afirma que esse dinheiro poderia ter feito milagres no SUS, e completa, numa sequência pouco lógica, dizendo que quem vende o seu voto para comunistas e socialistas está matando pessoas que dependem do sistema. O penúltimo post é da revista Veja e trata do aumento de 1,9% do preço da gasolina nas refinarias da Petrobras, e o último do Portal R7, sobre a implementação dos novos modelos de certidões de nascimento, casamento e óbito definidos pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça), que objetivam, entre outras coisas, facilitar o registro de casos de paternidade e maternidade de filhos não biológicos, como das crianças geradas por técnicas de reprodução assistida e a inclusão de nomes de pais socioafetivos.

Os outros 7 posts mais compartilhados da semana pertencem às páginas da direita. As páginas de Marco Feliciano e Jair Bolsonaro, assim como as do Movimento Brasil Livre e do Juventude Contra Corrupção figuraram nos rankings das semanas anteriores. Já a página do Vem Pra Rua Brasil, desponta pela primeira vez em nossas análises entre as publicações mais populares.

No que concerne aos temas tratados por essas páginas, novamente temos um conjunto de pautas moralistas, que associam três elementos na delimitação e conformação do inimigo: a corrupção, o comunismo e a diversidade de gênero. Para os que partilham dessa opinião, atores com essas características afrontam os bons costumes, os valores cristãos, a família tradicional, a honestidade e o capitalismo, e impedem bons governos. Observa-se claramente um direcionamento eleitoral nesses posts, que já havíamos observado anteriormente. Essa semana, dois presidenciáveis foram promovidos por posts que difundiam esses argumentos: Dr. Rey e Jair Bolsonaro.

No 2º post, Feliciano critica o vídeo que circulou na internet do casal homoafetivo de adolescentes que se beija na festa de aniversário, o qual deu o título de “aniversário ou orgia?”. Feliciano afirma que se trata de uma relação espúria, pois o caso se enquadra na legislação penal como estupro, por haver um menor de 14 anos envolvido. Numa confusão argumentativa, o deputado imputa o crédito do acontecimento ao movimento que pretende desconstruir a família patriarcal. Ele ainda comenta a morte do “satanista” Charles Manson, e finaliza convocando os atalaias à defesa da família cristã.

No 3º post, Feliciano acusa a revista Isto É de prestar um desserviço à nação brasileira ao dizer na sua capa que Bolsonaro é um “perigo”. Repetindo a tática retórica apresentada pelo colega na semana anterior, Feliciano o defende dizendo que Bolsonaro é atacado pela imprensa marrom e que só representa perigo para os “comunistas, assassinos de Celso Daniel, corruptos da Petrobras, que mandaram milhões de dólares para ditaduras bolivarianas e sanguinárias na África”.

O 4º post, de Jair Bolsonaro, consisti numa edição feita pelo grupo Oposição Zuera de sua participação no programa Canal Livre, da TV Bandeirantes. Neste, algumas pautas do presidenciável são destacadas, como o policiamento agressivo, o encarceramento, o armamento da população, a defesa da propriedade privada e os privilégios legais dos militares. O vídeo faz pausas que sugerem o descontentamento dos jornalistas com as respostas do Bolsonaro. Contudo, quando questionado sobre possíveis nomes de mulheres, LGBTs e negros em seu hipotético governo, o deputado desvia respondendo que podem chamá-lo de tudo, menos de corrupto. O 6º post, também dessa página, reproduz a previsão da astróloga Maricy Vogel no Programa Amaury Junior de que Bolsonaro ganhará as eleições de 2018.

Não tivemos acesso ao 5º post, de autoria do MBL, pois ele está indisponível. No entanto, sabemos que consistia em um vídeo de Ruth Catala, angolana residente em Curitiba, que criticava o que ela denomina de “mimimis” do movimento negro, referindo-se a defesa da exclusividade do uso do turbante pelos seus membros, dentre outras posições do movimento que rotula como vitimismo.

O 7º post, do recém-chegado ao ranking Vem Pra Rua, é um vídeo em que se defende o fim do foro privilegiado e acusa-se o ministro Dias Toffoli de impedir o andamento do processo no Supremo Tribunal Federal.

O 8º post, da Juventude Contra Corrupção, é uma crítica a elite política, chamada de corrupta. Em defesa do patriotismo e da probidade, o post usa como recurso um vídeo da participação inflamada de Marco Antônio Villa em algum programa de televisão que não conseguimos identificar. Dentre outras acusações, o historiador nomeia Aécio Neves e Lula dentre os corruptos da República, e critica a Constituição.

Nesta semana, mais uma vez, os posts mais compartilhados são dominantemente de direita, Jair Bolsonaro e Marco Feliciano e movimentos como o MBL têm grande destaque, e percebe-se um esforço deliberado de fusão entre uma pauta neoliberal, de defesa da propriedade e rejeição de ideias “socialistas” ou “comunistas”, com uma pauta de extremo conservadorismo de valores, marcada pela homofobia e rejeição das questões de gênero e de raça. Tudo isso é amalgamado pelo antipetismo renitente, associado sempre à corrupção política e visível inclusive no post do neófito Dr. Ray: o PT representa ao mesmo tempo as políticas sociais do Estado de Bem-Estar social, anátema dos neoliberais, e a promoção dos direitos de minorias, alvo preferencial da direita evangélica.

Se, por um lado, o período de campanha política foi abreviado pela nova legislação eleitoral aprovada por Eduardo Cunha, por outro, nas redes sociais ela está rolando solta, antes mesmo do início do ano de 2018. É a lógica eleitoral que explica a enorme exposição do pré-candidato Bolsonaro, assim como a campanha que Feliciano move em seu favor. É também a lógica da captura do eleitor evangélico conservador que parece mover o MBL, antes um paladino do neoliberalismo, em campeão dos valores cristãos e da “família”.

[1] O 5º post da tabela consistia numa promoção da rádio metropolitana. O 9º post era uma matéria do R7 sobre uma jovem com câncer. Ambos foram substituídos por não se encaixarem em nossa proposta de ranqueamento.

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