Jovens de Açailândia-MA ganham prêmio Fapema de Desenvolvimento Humano por pesquisa sobre Piquiá de Baixo

Por meio do projeto Vigilância Popular em Saúde, eles estudam e monitoram os impactos das atividades industriais no bairro Piquiá de Baixo, conhecido pelo alto índice de poluição

Por Lidiane Ferraz,  Justiça nos Trilhos

O projeto desenvolvido em Piquiá de Baixo começou quando um grupo de jovens decidiu estudar os impactos das atividades industriais e de siderurgia instalados na comunidade e que emitem muitos poluentes. Desde o ano de 2016, eles participam, juntamente com um grupo de jovens de Santa Cruz (RJ), de capacitação, que incluiu visitas à sede da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro (RJ), para aprender como seria feito o monitoramento e assim medir a poluição do ar. O projeto, que foi financiado pela organização Medico International, recebeu o apoio da Justiça nos Trilhos, Fiocruz e Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS) e possibilitou a esses dois grupos acompanharem os índices de poluição do ar em suas comunidades.

Esse projeto permite trazer resultados concretos sobre a saúde dos moradores, como explica Gerliane Chaves. “Dificilmente as empresas divulgam relatórios de qualidade do ar, e quando temos acesso ao monitoramento deles, em seus relatórios consta que eles cumprem com a legislação, e que não ultrapassam os limites permitidos. Mas, morando no bairro, você sabe que isso não é verdade, nós moradores queríamos e precisávamos de uma segunda fonte para contestar o que a empresa estava dizendo”, afirmou a estudante.

As atividades desenvolvidas consistiam em fazer três medições por semana, com ciclos de monitoramento em ações específicas. Com ajuda de aparelhos, os jovens escolheram as casas para medir o material particulado do ar. O objetivo é coletar dados para serem confrontados com as informações fornecidas pelas indústrias e assim identificar se elas estão cumprindo com a legislação que estabelece índices máximos para emissão de partículas no ar. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, os índices aceitáveis de poluição do ar por material particulado são: 25 microgramas/ por m³ em 24h ou 10 microgramas/por m³ em um ano.

Além de Gerliane Chaves participaram do projeto outros cinco jovens: João Paulo da Silva, Gabriela Lima, Flávia Nascimento, Kelly Barbosa e Gleiciane Carvalho.  Representando esse grupo, estiveram na premiação Gerliane e João Paulo. “O meu sentimento é o mesmo do restante do grupo que realiza o projeto: nós nos sentimos agradecidos em desenvolver esse projeto em benefício do bairro, estamos trabalhando para a nossa comunidade. Para nós isso tem um valor muito forte, inclusive sentimental, somos moradores de Piquiá de Baixo desde que nasci, sempre convivemos com essa problemática da poluição e essa premiação é um reconhecimento estadual, que para nós é muito importante”, finalizou Gerliane.

Consagração de um pesquisador ativista

A noite também foi de reconhecimento ao professor do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Horácio Antunes, conhecido por sua atuação dentro e fora das salas de aula.  Após sofrer ameaças e calúnias, por conta do trabalho realizado em comunidades tradicionais, que tem seu território cobiçado por grandes grupos empresariais, o professor teve, mais que merecido, reconhecimento do seu trabalho social e acadêmico. O prêmio foi concedido ao  trabalho  produzido  por  pesquisadores  doutores  que  atuaram  por  pelo  menos cinco  anos,  no  desenvolvimento  de  trabalhos científico-tecnológicos,   em   pesquisa sediadas no estado   do Maranhão nas áreas das  Ciências Humanas e Sociais.

Em sua atuação, destaca-se a coordenação do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA), que tem realizado um projeto de Formação Política aos jovens atingidos pela Estrada de Ferro Carajás e sua logística de mineração. Participa também do Movimento de Defesa da Ilha e também faz parte da Diretoria Consultiva da Justiça nos Trilhos.

Relatório sobre medições de poluentes no ar

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