Manchetômetro Facebook: análise de 28/11 a 04/12

Por Natasha Bachini e João Feres Jr., no Manchetômetro*

Nesta semana foram publicados 4.678 posts nas 40 páginas monitoradas, totalizando 2.012.143 compartilhamentos. As páginas que mais postaram nesse período foram as de mídia: Folha de S. Paulo, com 363 posts; Portal R7, com 328 posts; e Catraca Livre, com 325 posts. Entretanto, nenhum dos seus posts conseguiu viralizar de modo que garantisse um lugar no ranking das publicações mais compartilhadas da semana.

Tabela 1: 10 posts mais compartilhados da semana (28/11/2017 a 4/12/2017)[1]

Os 10 posts da tabela acima concentram 16% do volume total de compartilhamentos obtidos pelas 40 páginas monitoradas ao longo dessa semana. O vídeo com cerca de 3 minutos segue como o recurso mais empregado nos posts (90%).

Outro dado que se repete é o predomínio das páginas de direita no ranking. Embora o nosso recorte temporal seja curto para assinalarmos tendências sobre o debate político do Facebook, os dados vêm nos indicando que essas páginas são muito populares, e seu conteúdo alcança e é curtido por uma parcela significativa dos internautas brasileiros. Essa segunda constatação corrobora a difundida hipótese do crescimento da extrema direita no Brasil e no mundo e o papel da internet nesse processo, visto que a ausência da interação face a face e as bolhas algorítmicas facilitam a difusão do discurso de ódio e de interações agressivas, pois prescinde do exercício da civilidade e da contraposição de argumentos exigidos na discussão presencial.

Nessa semana as páginas dos movimentos sociais se sobressaíram em relação a dos políticos. Juventude Contra Corrupção (JCC) e Movimento Brasil Livre (MBL) respondem por mais da metade dos posts da tabela. Jair Bolsonaro e Marco Feliciano constam na lista, mas em posições inferiores. Despontaram no ranqueamento também novos atores, como o Ranking dos Políticos e Conversa Afiada Oficial. Esse último é a grande novidade da semana, pois trata-se de uma página gerida pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, que possui inclinações à esquerda. Desde que iniciamos o monitoramento, é a primeira vez que isso acontece.

O post mais compartilhado da semana, publicado pela JCC, consiste no vídeo do discurso de um padre que prega a educação violenta das crianças como forma de preservação da família tradicional.

O segundo post, veiculado pelo MBL, é um trecho editado da discussão entre Silvio Santos e Zé Celso sobre o terreno que fica no entorno do Teatro Oficina, mediada pelo prefeito de São Paulo, João Dória. Sob o título “Empreendedor x Comunista”, a legenda do vídeo debocha da proposta do diretor, chamando-o de cara de pau, e ao final, pede contribuições financeiras para o movimento. O terceiro post, também de autoria do MBL, reproduz um discurso antigo do deputado Nelson Marchezan Junior (PSDB-RS) na Câmara dos Deputados em defesa do impeachment e condenando os salários dos servidores das instituições políticas.

O quarto post é da página Ranking dos Políticos. Trata-se de um vídeo de lançamento do “Tchau, queridos”, iniciativa que elaborará uma lista dos parlamentares que não devem ser reeleitos em 2018 a partir de critérios como a presença nas sessões, gasto da cota parlamentar, ficha limpa, e adesão a uma pauta econômica neoliberal. O vídeo relembra que o projeto anterior do movimento liderado por Renato Dias, as dez medidas contra a corrupção, foi desmantelado na Câmara há um ano.

O quinto post, do Conversa Afiada, consiste em um texto curto que ironiza os críticos do governo Dilma: “Papai, o que é um imbecil? Filho, é o cara que com a Dilma dava chilique pra gasolina à R$ 2,98 e agora paga R$ 5,00 calado”. Esse conteúdo viralizou entre os simpatizantes da esquerda durante a semana.

Jair Bolsonaro (PSC-RJ) aparece dessa vez em sexto lugar, com um vídeo gravado nos corredores do Congresso em que o deputado ataca os jornalistas de O Globo, acusando-os de trabalho sujo e de tentar emplacar Lula numa suposta troca de favores da negociação da dívida do BNDES que o grupo possui. Bolsonaro completa dizendo que, por outro lado, o PT também tem como proposta o controle social da mídia, o que suspenderia os privilégios do conglomerado Globo, e termina ameaçando que em seu hipotético governo, reduziria a propaganda oficial do governo em 20%.

O sétimo post é um vídeo com edição profissionalizada do MBL atacando frontalmente o PT, Lula e Dilma. Com trilha sonora e seleção de imagens dos últimos 15 anos, o narrador afirma que a população errou em eleger o partido em detrimento dos avisos dos especialistas “de bem” que apontavam a necessidade de reformas para o Brasil não quebrar. Sugerindo que agora o país pode quebrar de vez, o movimento se utiliza do ditado popular “Errar é humano, errar duas vezes é burrice” para incentivar o eleitorado a “ouvir o alerta dos responsáveis e não as mentiras dos canalhas”.

O oitavo post, do JCC, consiste no vídeo do ator Sandro Rocha denunciando suposta conspiração da mídia a favor do PT, dizendo que as pesquisas eleitorais estão sendo manipuladas para favorecer Lula e prejudicar Bolsonaro. A ator defende a intervenção militar e afirma ainda que a militância de Bolsonaro é orgânica, ao contrário da de Lula, que é comprada. Verificamos que os vídeos dessa página e do MBL se utilizam de músicas de fundo dramáticas, adotadas comumente em filmes épicos, o que nos parece ter a intenção de inflamar as pessoas.

O nono post, de Marco Feliciano (PSC-RJ), também conta com esse recurso. Ao divulgar pesquisa em que Bolsonaro desponta na frente de Lula, o deputado pede à população cristã que se mobiliza a favor dos movimentos conservadores, representados no Congresso pela bancada da bíblia, do boi e da bala, e execre as candidaturas comunistas e seus planos diabólicos. O alvo de Feliciano no post é o deputado Wadih Damous (PT-RJ), que em texto divulgado na internet afirma temer os desdobramentos de um hipotético governo desse grupo.

Por fim, o décimo post é um compartilhamento do terceiro post, mas pelo JCC, o que reforça a proximidade desse movimento e o MBL.

Em suma, observamos nessa semana a preponderância da lógica eleitoral nos posts mais compartilhados. A maioria tem por objetivo combater o PT a partir da polarização do pleito entre Lula e Bolsonaro, que representa os interesses dos grupos conservadores. A principal estratégia desses movimentos reside na adoção de um pacote interpretativo que deturpa a ideologia de esquerda pela associação com a corrupção, e que se realiza especialmente por meio da difamação do PT. Em contraposição, os movimentos e políticos de direita se reivindicam defensores da moralidade, dos valores cristãos, da família tradicional e da probidade administrativa.

A única exceção a essa tendência foi o post de Paulo Henrique Amorim. É cedo para dizer se o aparecimento desse post na lista dos 10 mais significa a recuperação da competitividade do discurso da esquerda no Facebook. Para competir em pé de igualdade, os grupos de esquerda precisariam contar com níveis comparáveis de investimento na profissionalização da produção e difusão de conteúdos nas redes sociais, tarefa nada fácil no atual contexto.

[1] Assim como nas semanas anteriores, substituímos posts que não travam de Política no ranking pelos seus sucessores. Dentre eles, tivemos um post da Metropolitana FM, um do Catraca Livre, um do G1 e um de Adilson Barroso.

Para consultar dados de semanas anteriores, clique aqui.

*O Manchetômetro é produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP), grupo de pesquisa com registro no CNPq, e sediado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

 

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