Dom Helder é declarado patrono brasileiro dos direitos humanos

Por Anna Beatriz, na Arquidiocese de Olinda e Recife

Ícone da resistência contra a ditadura militar, enquanto arcebispo de Olinda e Recife, o religioso dom Helder Camara, falecido em 1999, foi um dos expoentes católicos daquela época, na luta em benefício de melhores condições de vida para os mais pobres. Dom Helder Câmara foi declarado Patrono Brasileiro dos Direitos Humanos. A Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados aprovou por unanimidade, na última quarta-feira, 27/12, o Projeto de Lei 7230/14 e o texto foi publicado no Diário Oficial da União. A matéria segue agora para a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, em caráter conclusivo.

O patrono de determinada categoria ou ramo da ciência e do conhecimento é aquele cuja atuação serve de paradigma e inspiração a seus pares.

Trajetória 

Na  década de 50, fundou obras sociais como a Cruzada São Sebastião, cujo objetivo era atender aos moradores das favelas, e o Banco da Providência, que organizava doações e microcrédito para as famílias de baixa renda. Dom Helder exerceu ainda funções na Secretaria de Educação do Rio de Janeiro e no Conselho Nacional de Educação. Foi também um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e por sua trajetória, reconhecida internacionalmente, foi o único brasileiro cotado quatro vezes para o Prêmio Nobel da Paz.

O poder notável de articulação de dom Helder fomentou importantes conquistas para o Nordeste brasileiro, como a criação da Sudene (Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste), estendendo as suas ações para fora dos muros da Igreja. Nomeado arcebispo de Olinda e Recife aos 55 anos de idade, assumiu a arquidiocese em 12 de março de 1964, ano em que teve início a ditadura militar. Dom Helder permaneceu como arcebispo por vinte anos e nunca se intimidou diante dos obstáculos e sempre pregou a não-violência. Criou inúmeros movimentos e pastorais, especialmente para evangelizar e levar suporte aos marginalizados pela sociedade.

Em seus mais de 20 livros publicados – boa parte traduzida para outros idiomas –, Dom Helder defendeu ainda o seu ideal de “não-violência” e a necessidade de profundas reformas por um Brasil menos desigual.

Pagou um alto preço por sua atuação em favor dos pobres 

O combate às violações de direitos humanos custou ao arcebispo uma perda pessoal: em 1969, o assessor de Dom Hélder, o padre Antônio Henrique, foi preso e torturado até a morte pelos militares.

Após participar ativamente do Concílio Vaticano II, dom Helder propôs a alguns bispos brasileiros adotar um estilo de vida simples, despojado de qualquer privilégio ou regalia que o cargo episcopal garantia. Era signatário do Pacto das Catacumbas. Ao aderir ao pacto, ao retornar ao Brasil, abandonou o palácio dos Manguinhos – residência oficial do arcebispo – e passou a morar nos fundos da igreja de Nossa Senhora da Assunção das Fronteiras, no bairro do Derby, e lá residiu até os seus últimos dias de vida. O local foi transformado em casa-museu. No Memorial Dom Helder Camara, estão expostos objetos como livros, quadros, roupas e móveis de uso pessoal do arcebispo. Conhecido também como “dom da Paz”, dom Helder foi o único brasileiro indicado por quatro vezes a receber o prêmio Nobel da Paz.

O processo de beatificação de Dom Helder começou em maio de 2015 e se encontra na fase diocesana, na qual uma série de documentos, escritos de sua autoria e apanhados históricos são analisados.  Em seguida, tramita para o Vaticano, onde será nomeado um relator. (Fonte: Cristiane Murray / Site Vatican News)

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Isabel Carmi Trajber.

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