A crise hídrica no DF e a importância da Reforma Agrária Popular nesse cenário

É importante destacar que o problema da crise hídrica não se deve apenas às condições climáticas. Os parcelamentos irregulares do solo, a grilagem de terras e a enorme especulação imobiliária do DF são fatores que impactam o meio ambiente

Por Adriana Gomes e Bárbara Loureiro
Da Página do MST

Com quase seus 58 anos de existência oficial, o Distrito Federal enfrenta sua pior crise hídrica. As Regiões Administrativas do Distrito Federal vem enfrentando racionamento de água de um dia por semana, e a previsão é que para o ano de 2018 o racionamento se estenda para dois dias. Atualmente, os principais reservatórios de abastecimento do Distrito Federal operam com 28% (reservatório de Santa Maria) e 27% (reservatório do Descoberto, este responsável pelo abastecimento de dois terços dos moradores do DF) de capacidade total.

No entanto, o consumo médio de água varia entre as Regiões Administrativas no DF. Brasília, Lago Norte e Park Way que abrigam apenas cerca de 10% da população do DF são responsáveis por 33% do que todo o DF deveria usar por dia de água (100 litros por pessoa, conforme recomendação da ONU). O gasto delas em 24h poderia abastecer pelo dobro de tempo por exemplo, Ceilândia, cidade que tem uma população 38% maior. Esses dados evidenciam o caráter classista e desigual da medida de racionamento de água no DF, em que cidades que detém de maior poder aquisitivo são privilegiadas com o abastecimento de água e as cidades periféricas sofrem maior intensidade com a falta de água em suas casas.

É importante destacar que o problema da crise hídrica não se deve apenas às condições climáticas de falta de chuva no Cerrado. Os parcelamentos irregulares do solo, a grilagem de terras e a enorme especulação imobiliária do DF são fatores que impactam diretamente o meio ambiente, diminuindo a permeabilidade da água no solo e a recarga dos lençóis freáticos.

Outro fator é a forma agressiva com que o modelo de produção do agronegócio utiliza do meio ambiente, sobretudo da água. No Brasil cerca de 70% da água potável é usada para irrigação, chegando a 29,6 milhões de hectares irrigáveis. No caso do Distrito Federal essa realidade não é diferente. Para a produção de 1 kg de soja são necessários 2.210 litros d’água, de 1 kg de trigo 1.300 litros e milho 900 litros. Só em 2016, a produção de grãos no DF foi de aproximadamente 700 mil toneladas, revelando a colossal participação do agronegócio no consumo da água disponível na região.

Além desses, a falta de investimentos da estruturação do sistema de captação e distribuição, bem como o sucateamento das empresas públicas que prestam esse serviço. O Distrito Federal desperdiça 35,1% da água que distribui em vazamentos, falhas de tubulações, fraudes e até roubo, demonstrando a falta de planejamento.

Nesse sentido o sucateamento dos serviços públicos vem de encontro aos anseios do modelo capitalista e o projeto neoliberal implementado pelos governos Rollemberg e Temer, como forma de incentivar a privatização de serviços públicos estatais, aumentando a lucratividade do capital privado.

Essa grave situação hídrica vem sido debatida na sociedade apenas estimulando a redução do uso de água, sobretudo da população urbana.

No entanto, nós do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra compreendemos que a água é um bem da natureza e deve ser tratada como um direito de todos os trabalhadores. Assim combater o desmatamento e reflorestar as áreas degradadas combinadas com a produção de alimentos saudáveis é a grande medida que deve ser implementada para reverter os danos causados pela crise hídrica no DF.

Para Neudair Ferreira, moradora do Assentamento Gabriela Monteiro é de suma importância a transição da produção convencional para a produção agroecológica. “Nós assentados temos que levar essa ideia de plantar no sistema agroecológico é o que nos representa hoje no campo e na cidade, a produção de alimentos saudáveis. Isso é a Reforma Agrária Popular na transformação social”.

É nesse contexto que se insere o Programa Água Brasil desenvolvimento em parceria com a WWF Brasil e a ONG Mutirão Agroflorestal na região da Bacia do Descoberto, em Brazlândia, com a implantação de sistemas agroflorestais nos assentamentos de Reforma Agrária.

A proposta visa estimular o reflorestamento da região, importante recarga aquífera da bacia do Descoberto, associando a conservação do Cerrado e a produção de alimentos saudáveis. Ao contrário do modelo convencional do agronegócio, o sistema agroflorestal permite que a produção agrícola funcione como um sistema natural, garantindo a infiltração e manutenção da água no solo, preservando o ambiente em equilíbrio.

Neudair, ainda reafirma: “reconhecemos que nós podemos plantar e reflorestar para acabar com a degradação. Temos que plantar em harmonia com a natureza. E a agroecologia é o caminho e a transformação para a melhoria do país como todo”.

É dessa forma que o MST DF demonstra a importância da Reforma Agrária Popular, que visa resolver os problemas de toda a sociedade, como a questão da crise hídrica, conservando os recursos naturais, bens de todos os trabalhadores e produzindo alimentos saudáveis.

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