Manchetômetro semana 10: 09 a 17 de janeiro de 2018 no FB

Por Natasha Bachini, Luna Sassara e João Feres Jr., no Manchetômetro

Nessa semana foram publicados 5.513 posts nas 41 páginas monitoradas por nossa pesquisa, totalizando 2.731.353 compartilhamentos. As páginas que mais postaram foram as de mídia: UOL (564 posts), Catraca Livre (541 posts) e Folha de S. Paulo (474 posts).

Os 10 posts da tabela (AQUI) concentram 17% do volume total de compartilhamentos alcançados pelas 41 páginas monitoradas ao longo desse período. O recurso mais empregado foi o vídeo, presente em 90% dos posts.

Os posts de Jair Bolsonaro (PSL-RJ) predominaram no ranking, ocupando 50% das posições. Tal fato se deve a reação defensiva do deputado às matérias da Folha de S. Paulo, que revelaram o crescimento do patrimônio de sua família ao longo de sua carreira política[1] e denunciaram sua servidora “fantasma”, que na realidade, vende açaí em Angra dos Reis[2].

No post mais compartilhado da semana, Bolsonaro mostra sua casa em Angra dos Reis em companhia de um vizinho, na tentativa de desmentir a denúncia da Folha sobre a mansão que teria no local. O 3º post consiste numa tabela que mostra os valores supostamente devolvidos por Bolsonaro referentes à sua cota parlamentar entre 2010 e 2017. Ao final da tabela, Bolsonaro provoca os grandes jornais: “Aguardando a divulgação por parte da Folha de S. Paulo e demais órgãos da imprensa”. No 5º post, em um vídeo de 11 minutos, o deputado comenta as matérias da Folha afirmando que incomoda os poderosos pela projeção que conquistou mesmo sem dinheiro. Bolsonaro diz que a imprensa o ataca porque apoia os tucanos, prefere o PT e Marina a ele, e quer tirá-lo da disputa eleitoral.

Ao justificar o patrimônio que possui com a desvalorização dos imóveis no momento da compra, acusa a “canalha” Folha de manipular os dados sobre os auxílios que recebe. O deputado também se isenta de responsabilidade sobre qualquer comportamento dos filhos. E falando em filhos, mais uma vez, a caçula de Bolsonaro aparece no vídeo, curiosamente no momento em que ele fala de Deus. Bolsonaro ainda ataca Lula, culpando-o pela situação da Petrobrás e desacreditando seu argumento da perseguição política, e o historiador Marco Antonio Villa, que a seu ver, atua em prol de seu partido político, cuja sigla não é revelada pelo deputado. No final do vídeo, Bolsonaro defende o encarceramento em massa como solução para o problema da violência.

O 7º post é um vídeo curto no qual Bolsonaro fala em sua casa de Angra com os jornalistas da Folha, achacando mais uma vez o veículo pela verba de patrocínio recebida durante o governo do PT. Já o 10º post é uma reprodução do programa da Jovem Pan, no qual Augusto Nunes, Felipe Moura Brasil e Joice Hasselmann se posicionam de maneira favorável a Bolsonaro, criticam os editores da Folha pelo formato das reportagens, e alfinetam Lula.

Recém incluída no ranking, a página da Mídia Ninja, desponta no segundo lugar com o vídeo do ator Lúcio Mauro Filho criticando a nomeação de Cristiane Brasil (PTB), filha de Roberto Jeferson, por Temer para o Ministério do Trabalho, no vídeo: “Ano Novo, Brasil Velho”.

O 4º e o 6º post pertencem à página Juventude Contra Corrupção (JCC). O 4º é um vídeo onde jumentos aparecem caminhando ao som de “Lula lá”, jingle da campanha do petista em 1989, e com a legenda “Seguidores de Lula são filmados indo para Porto Alegre”. O 6º post também se inicia com ataques ao PT, mas seu alvo principal é Luciano Huck, possível candidato à presidência da República. Os ataques a Huck parecem ter origem na rejeição do grupo pelo global, e misturam tantos argumentos que confundem. O apresentador é caracterizado como “playboy da elite progressista”, “tucano isentão”, “hipócrita esquerdista do Agora” e “promotor de bundas”. O grupo direitista afirma que ao mesmo tempo em que defende “os fumetas”, a “ideologia de gênero”, apóia a REDE e o PSOL, Huck é amigo pessoal de Aécio Neves, Joesley Batista, Eduardo Paes e Sergio Cabral, e o candidato da Globo e da elite financeira.

Por fim, temos o 8º e o 9º post, assinados por Marco Feliciano (PSC-RJ). Como de costume, seus posts têm como tema a religião e a moral. No 8º post, o pastor denuncia Evo Morales, chamado de líder “cocaleiro”, “comunista”, “amigo dos camaradas Fidel, Lula e José Dirceu”, acusado de criar uma lei que criminaliza o proselitismo cristão. Na verdade, a nova legislação trata do tráfico de pessoas, e prevê penas de 7 a 12 anos e reparação econômica a quem capturar, transportar, transladar, privar de liberdade, alojar ou receber pessoas com o fim, entre outros, de recrutamento de pessoas em conflitos armados ou em organizações religiosas ou de culto. No 9º post, Feliciano defende Ratinho da chamada “ditadura gay” – o apresentador está sendo processado pelo Ministério Público por sua fala preconceituosa sobre a participação de gays nos folhetins da Rede Globo.

Em suma, observamos que após um curto período de calmaria, a direita voltou inflamada para o debate político no Facebook. A semana foi marcada pelo compartilhamento de mensagens de ódio à esquerda, especialmente ao PT, e em menor medida, também ao PSDB,  que são enquadrados como se estivessem do mesmo lado no espectro político. Dentre esses atores, diferenciou-se Bolsonaro, que depois de receber as acusações da Folha, adotou um tom mais ameno em seus posts. Por outro lado, pela primeira vez uma página de esquerda, a da Mídia Ninja, alcançou posição tão alta no ranking. Ao que parece, 2018 será um ano de acirramento político.

 

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