Manchetômetro Facebook – 17 a 23 de janeiro, 2018

Por Natasha Bachini, Luna Sassara e João Feres Jr., no Manchetômetro

Na terceira semana de 2018 foram publicados 4.427 posts nas 41 páginas monitoradas por nossa pesquisa, totalizando 2.240.463 compartilhamentos. As páginas que mais postaram foram as de mídia: Folha de S. Paulo (361 posts), Portal R7 (336 posts) e Catraca Livre (330 posts).

Tabela 1: 10 posts mais compartilhados da semana (17/1/2018 a 23/1/2018)

 Os 10 posts da tabela acima concentram 11% do volume total de compartilhamentos alcançados pelas 41 páginas monitoradas ao longo desse período. Esse é o menor índice registrado desde o início do nosso monitoramento. O recurso mais empregado foi o vídeo, presente em 70% dos posts, seguido das fotos (20%) e dos links (10%).

Nessa semana, liderou o ranking uma página do governo, mais especificamente do Ministério da Educação, fato inédito também. O post do MEC consiste numa chamada para os estudantes que obtiveram mais de 600 pontos no ENEM interessados em estudar em Coimbra (Portugal). O 7º lugar é ocupado por uma página da mesma categoria, do Exército Brasileiro. Nele, a instituição convoca os homens nascidos em 2000 para o alistamento militar obrigatório, que agora é online.

Os deputados Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e Marco Feliciano (PSC-RJ), mais uma vez, figuram no ranking, com três posts cada. No 2º post, Bolsonaro criticou membros do PT (Celso Amorim, Gleisi Hoffman e Lula) por presenciarem a cena de um beijo gay em um espetáculo. O deputado afirma que a imprensa, com o intuito de eleger o candidato do PSDB, o compara, em suas palavras, “ao lixo” do Lula. Bolsonaro finaliza o vídeo dizendo que se sente fortalecido e que o Brasil merece um presidente “honesto, com Deus no coração, e que seja patriota”. No 3º post, o deputado reproduz vídeo onde um latifundiário de Sorriso-MT se vangloria de ter expulsado os “terroristas”, “marginais” e “vagabundos” do MST, e apoia Bolsonaro, que interfere defendendo a propriedade privada. O 10º post consiste em um vídeo propagandístico do candidato à presidência, que seleciona vários trechos de entrevistas suas. Neles, Bolsonaro afirma que a crise política é a mãe de todos os problemas do país, denuncia a corrupção no Congresso, e afirma ser diferente, de direita, defensor da família. Novamente, o deputado acusa a imprensa de apoiar a esquerda. A música de fundo de estilo épico, assim como a bandeira nacional, marcam presença em quase todo o vídeo.

Com uma estratégia semelhante, no 4º post, Marco Feliciano critica a, em suas palavras, “GloboLixo”, que em campanha recente convocou a população a produzir vídeos sobre “o Brasil que queremos”. Apelando para que as pessoas não cedam à vaidade, o pastor pede que seu público envie vídeos à emissora sobre o Brasil que “não querem”, registrando as principais mazelas do país, como as filas dos hospitais. No 5º post, Feliciano lê o texto de Luiz Felipe Pondé intitulado “E se o PT voltar ao poder em 2018?”. Dentre previsões fatalistas, o autor acusa Lula e o PT de praticarem coronelismo, afirma que seu projeto é transformar o Brasil na Venezuela a partir da dominação do Judiciário, da imprensa e das Universidades, e que após devastarem a economia brasileira com sua gastança, deixarão o trabalho sujo de reorganização para os conservadores. O 9º post, também de Feliciano, é um link que redireciona o usuário para a página do Gospel Prime, jornal evangélico. A matéria destaca que as orações foram atendidas e que Evo Morales suspendeu a criminalização das igrejas, que tivera grande repercussão na semana anterior – na verdade, a criminalização nunca aconteceu (ver aqui).

No âmbito da direita, tivemos ainda um post da Juventude Contra Corrupção (JCC). Esse, que ocupa o 6º lugar no ranking, segue a mesma linha de Feliciano, e consiste em uma cidadã fazendo vídeo em hospital do Rio de Janeiro sobre o “Brasil que não queremos”.

Dentre os representantes da esquerda, apenas um ator alcançou o ranking nessa semana: Lula. No post, o humorista Gustavo Mendes, famoso por imitar Dilma, inicia sua fala em comício do PT com o texto da “filósofa” Marília Mendonça “Ai que saudade do meu ex”, e critica o governo Temer e a escolha da ministra do Trabalho, Cristiane Brasil. Em seguida, Mendes chama o grito “Olê, olê, olá, Dilma, Dilma…Olê, olê, olá, Lula, Lula”. O ator afirma ainda que “a democracia está doente e o remédio é eleição” e que “a cura é Lula ter o direito de ser candidato”, e finaliza gravando um vídeo para a Globo em que diz “O Brasil que eu quero para o futuro é com Lula sendo candidato a presidente do país”

Em suma, a direita tem conseguido alcançar curtidas no Facebook adotando um discurso que critica a imprensa, os homossexuais, os movimentos sociais e o PT, e incentivando práticas violentas como solução para os problemas do país. Provavelmente contando com o apoio de especialistas na rede, os posts dos atores que seguem essa linha argumentativa alcançam os maiores índices de compartilhamento. Em um contexto eleitoral, é comum que quem esteja à frente nas pesquisas de intenção de voto, como é o caso de Lula, seja mais atacado pelos adversários. Mas é importante estarmos atentos ao avanço de argumentos antidemocráticos, se ainda é de nosso interesse viver numa República.

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