Temer quer se candidatar a presidente com desemprego em 12,7 milhões?, por Leonardo Sakamoto

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taxa de desemprego de 12,2% no trimestre entre novembro de 2017 e janeiro de 2018, que significa a manutenção do total de desocupados em 12,7 milhões, é um choque de realidade na viagem psicodélica daqueles que preveem Michel Temer como candidato competitivo, caso venha a disputar a Presidência da República em outubro.

Não que projeções do mercado sejam sempre confiáveis, mas duas dezenas de instituições apontaram que a taxa ficaria, no máximo, em 12%. O número – divulgado pelo IBGE, nesta quarta (28) – representa estabilidade em relação ao trimestre anterior. E no mesmo trimestre há um ano, a taxa era de 12,6% – ou seja, um leve recuo na desocupação. O ritmo lento dos números não ajuda Temer.

Claro que deve-se considerar que há uma questão sazonal, com a dispensa dos empregados contratados para as festas de final de ano. Mas se a geração de vagas fosse forte e consistente, haveria retenção dessas pessoas e o resultado seria positivo. Há um excesso de futuro do pretérito por aqui, o que não é bom sinal.

Emprego e segurança pública, que tiram o sono de boa parte dos brasileiros, devem ser os temas principais nas eleições presidenciais. Não é à toa, portanto, que a intervenção federal na área de segurança pública no Rio de Janeiro teve como um de seus objetivos não-ditos ampliar a popularidade microscópica do governo Temer a fim de que ele seja, finalmente, notado pela população.

Como foi parida sem planejamento, jogando os militares na fogueira e sem pensar em uma ligação com políticas voltadas à geração de oportunidades nas comunidades pobres, a Operação Fogo de Palha pode até vir a produzir algum resultado positivo a Temer. Mas desconfio que a maior parte dos louros – se algo der certo – irão para as Forças Armadas, instituição que conta com mais aprovação social que o Congresso Nacional e a Presidência da República (ainda bem que não somos uma democracia, caso contrário, isso seria muito triste).

Por isso, o ocupante do Palácio do Planalto precisa de dados positivos na geração de empregos formais e de qualidade para ter o que mostrar na campanha. E, principalmente, que justifique a redução no nível de proteção à saúde e à segurança das classes mais vulneráveis que são parte das consequências da Reforma Trabalhista e da Lei da Terceirização Ampla – aprovadas sem debate com a sociedade e à toque de caixa.

Mas um dado importante: apesar do número de empregados com carteira de trabalho assinada (33,3 milhões) ter ficado estável em comparação ao trimestre entre agosto a outubro de 2017, ele caiu 1,7% (menos 562 mil pessoas) diante do trimestre entre novembro de 2016 e janeiro de 2017.

E se o número de empregados sem carteira de trabalho assinada (11 milhões de pessoas) ficou estável em relação ao trimestre anterior, ele subiu 5,6% (mais 581 mil pessoas) diante do trimestre de 12 meses atrás. O mesmo aumento se verificou entre os trabalhadores por conta própria (23,2 milhões), que aumentaram em 4,4% (mais 986 mil) em comparação a novembro de 2016 a janeiro de 2017. Lembrando que nem sempre alguém que trabalha por conta faz isso porque quis empreender, mas para poder sobreviver.

Ou seja, como vem insistindo este blog, a crise econômica continua gerando postos de trabalho precarizados, que não garantem férias remuneradas, 13o salário, descanso semanal, licença maternidade, limite de jornada, enfim, nenhum dos direitos mais básicos que não foram sustados pela Reforma Trabalhista.

É claro que, para um trabalhador em situação de desespero, trabalho precário é trabalho mesmo assim e ajuda a pagar as contas no final do mês e sustentar a família. Mas esse tipo de serviço não garante o pacote básico de proteção para ele e/ou ela e sua família, mantendo-os em um grau preocupante de vulnerabilidade social e econômica.

Empregos precários não recolhem FGTS (que ajuda a financiar a construção de residências populares e, portanto, a gerar empregos nesse setor), nem carregam o caixa da Seguridade Social. Pelo contrário, muitos continuam recebendo o seguro-desemprego porque não foram reinseridas na economia formal.

Levantamento da Folha de S.Paulo, publicado em janeiro, mostrou que passou de 253,7 mil pessoas ganhando o sustento como vendedores ambulantes de comida no terceiro trimestre de 2016 para 501,3 mil no mesmo período de 2017. Ou seja, gente desempregada vendendo alimento na rua para pessoas que não têm mais dinheiro para comer em restaurantes.

Esse crescimento na informalidade pode ser uma etapa anterior à geração de empregos formais. Mas nada de muito bom pode ser construído alijando uma massa de trabalhadores de um patamar mínimo de dignidade sob promessa de algo melhor.

Principalmente uma candidatura presidencial.

Foto: Ueslei Marcelino / Reuters.

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