Perfis falsos nas redes sociais aquecem os motores mirando as eleições, por Leonardo Sakamoto

Blog do Sakamoto

Uma onda de curtidas ocorreu, sem nenhuma razão aparente, em minha página no Twitter há alguns meses. Foram algumas milhares de contas claramente falsas, que sem seguidores ou postagens, ostentavam perfis sem imagens e nomes produzidos em série. Cheguei a barrar algumas centenas delas, mas desisti diante do tamanho da tarefa.

O ocorrido não foi um fato isolado. Vários colegas jornalistas também notaram que a mesma coisa estava acontecendo em suas contas e na dos veículos que trabalham.

Claro que o aparecimento de perfis falsos com o objetivo de promover ou atacar conteúdos não são novidade. E o sobe e desce no número de seguidores é normal. O crescimento pode sofrer saltos (quando uma postagem viraliza leva a pessoas a conhecerem a página) e quedas abruptas (quando leitores de uma determinada opinião não gostam de um texto e abandonam-na).

Mas, além do perfil vazio desses novos seguidores, os degraus desse crescimento anormal não estavam relacionados a nenhum fato específico, eram grandes o suficiente para serem notados e ocorreram em um curto espaço de tempo.

A criação e manutenção de perfis falsos é relativamente comum nas redes sociais. Alguns, criados por indivíduos, têm o objetivo de mascarar opiniões e permanecer no anonimato, por medo, falta de coragem, má fé ou preguiça pura e simples. Outro são produzidos em massa, aos milhares, por grupos com interesse político ou econômico para gerar exércitos virtuais a soldo de quem pagar mais.

Após o carnaval (que é quando o ano começa de fato), alguns desses perfis falsos foram ativados, atuando convulsivamente para xingar e atacar a credibilidade das postagens. Outros, em número menor, tem sido usados para promover conteúdo – quando ele pode ser manipulado para se tornar munição na guerra virtual que travam diariamente. A existência desse tipo de ação tampouco é algo novo, mas retornamos, ao poucos, para o cenário de guerra que havia arrefecido após o impeachment.

Tanto o Twitter quanto o Facebook afirmam que têm atuado para ”limpar” perfis falsos. Nesta última rede, onde tenho mais que o dobro de seguidores da anterior (257 mil, na primeira, e 522 mil, na segunda), as informações estatísticas disponíveis ao usuário mostram que momentos de queda significativa no número de seguidores não têm sido relacionadas a ”descurtidas” na minha página, mas a ”remoções de contas”, sejam elas suspeitas ou desativadas. A quantidade total segue subindo em ambas.

Recentemente, o New York Times revelou mais um esquema de venda de contas falsas no Twitter, envolvendo artistas, atletas e figuras públicas que queriam aumentar a percepção de sua influência através de empresas que comercializavam engajamento artificial. Após a denúncia, mais de um milhão de seguidores desapareceram das contas de usuários famosos.

Isso também se repete em outras redes, com a utilização de bots ou profissionais contratados que fazem postagens a partir de perfis falsos a fim de beneficiar quem paga pelo serviço.

O que isso significa? Que ainda estamos longe de uma solução para o problema, no que pesem autoridades de vários países finalmente terem ouvido as reclamações da sociedade civil e começado a perceber que a proliferação de perfis falsos – que servem para alavancar ódio, intolerância, desinformação e polarização burra – podem ferir de morte a democracia.

As plataformas de redes sociais vão ter que apresentar novos mecanismos para melhorar o ecossistema visando às eleições gerais brasileiras, em outubro, e as eleições parlamentares, de novembro, nos Estados Unidos. Mecanismos que mirem, acima de tudo, na transparência.

De qualquer maneira, não haverá tempo hábil para grandes ações e viveremos o caos. E, considerando que o Estado brasileiro adora apresentar soluções estapafúrdias quando não entende muito bem o problema, torçamos para que não opte pela censura burra sob a justificativa de estar promovendo a liberdade.

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