Cheyne Bull – RioOnWatch
Na sexta-feira passada, dia 2, aproximadamente 35 moradores de comunidades e aliados se uniram para protestar do lado de fora do gabinete do prefeito, em Botafogo. A manifestação foi o mais recente ato em uma série contínua de ações feitas por moradores com o objetivo de chamar atenção para a grande quantidade de comunidades sob ameaça de remoção durante a administração do Prefeito Marcelo Crivella. Moradores de locais que atualmente enfrentam remoções–incluindo Horto, Barrinha, Rio das Pedras, Araçatiba, Maracajás e Rádio Sonda—estiveram presentes com parceiros de outras favelas como Vila Autódromo, Rocinha e Vidigal.
O protesto começou na Praça Corumbá, próxima à favela Santa Marta, e percorreu uma curta distância pela Rua São Clemente até os portões do Palácio da Cidade. Lá uma comissão de oito representantes das comunidade que enfrentam remoções entrou no palácio para uma reunião com a nova Secretária de Urbanismo, Infraestrutura e Habitação, Verena Andreatta. A reunião com a secretária foi marcada de última hora: Antonio Xaolin, mobilizador comunitário da Rocinha, explicou aos manifestantes ali reunidos e à imprensa que Verena entrou em contato com os organizadores no dia anterior para propor que, em troca de uma reunião, os manifestantes não bloqueassem a movimentada rua em frente ao palácio.
Como resultado, o protesto não bloqueou o tráfego, mas ocupou a calçada e os portões do Palácio da Cidade, com moradores divulgando a mensagem de que querem ter garantido o direito à moradia e que a lei seja cumprida. Jaqueline Andrade Costa, moradora da Barrinha, declarou pelo megafone: “Não vai ser prefeito, governador, ninguém vai tirar a gente dos nossas locais, nós vamos resistir até o final dos nossos dias. Querem retirar a gente para fazer imóveis de luxo“.
Alguns manifestantes, incluindo Janine da Costa, outra moradora da Barrinha, enfatizaram que esse foi um protesto pacífico, assim como todos os outros protestos feitos por eles. Em comparação a outras manifestações recentes, a presença da polícia foi passiva, com aproximadamente dez policiais presentes e havendo diálogo entre manifestantes e policiais a respeito do lugar onde aconteceria o protesto.
Em 2017 a prefeitura quebrou inúmeras promessas feitas aos moradores de favelas que procuravam obter respostas sobre as remoções, inclusive promessas do antigo secretário de Urbanismo, Índio da Costa, de reunir-se com representantes das comunidades. A ação da nova Secretária Verena Andreatta de abertura de diálogo com os manifestantes foi vista com criterioso otimismo, já que pouco se sabe sobre Verena, e agora há profunda desconfiança a respeito da administração do Prefeito Crivella. Um saldo positivo do dia de protesto, como enfatizado por alguns, foi o fortalecimento da união entre moradores de diferentes favelas. O ativista Beto Vidigal comentou: “Somos pobres, somos pessoas mais humildes, somos pessoas que, às vezes, não têm conhecimento dos nossos direitos, por isso sempre temos que estar juntos, unificados”.
Quando a reunião com a secretária terminou, os manifestantes se juntaram para ouvir como tinha sido. Eliane Sousa de Oliveira, membro do Conselho Popular e da Pastoral de Favelas, destaca que a reunião foi um passo na direção certa, com a promessa da secretária de cumprir com a promessa feita, no ano passado, de que não haveriam mais remoções. “Cada comunidade pode falar de suas demandas, foram notadas… Eu acho que foi muito bom, positivo, vamos aguardar”. Como compartilhado no Facebook pelo Conselho Popular depois do protesto, a secretária também prometeu criar uma equipe para dialogar com as comunidades e escutar suas demandas. Porém, como notado por Janine depois da reunião, a secretária não deu um prazo específico para medidas ou soluções, e Janine, juntamente com outros moradores, espera que não seja o caso de promessas vazias do município. A página do Conselho Popular no Facebook também listou algumas das atuais demandas dos moradores: “Queremos saber qual será o orçamento para habitação de interesse social em 2018. Exigimos também que a prefeitura abra um canal de diálogo com o governo federal, de forma a garantir a permanência das famílias ameaçadas em terrenos da União“.
Assim, independentemente das promessas feitas, nas palavras de Antonio Xaolin, “a luta continua”. Nessa sexta-feira, dia 9 de março, às 9:30h, moradores do Horto continuarão na luta, realizando um protesto no Jardim Botânico para chamar atenção para a atual condição da comunidade.