A música racista que a BBC descobriu no YouTube

A plataforma digital assume que cometeu erros ao tratar de alguns conteúdos, mas que “não permite vídeos que incitem ao ódio”

No Diário de Notícias 

As redes sociais e as plataformas online vivem dias de ferro e fogo. Depois do escândalo do Facebook e do alegado uso indevido de dados privados por aplicações que lhe foram associadas, eis que a BBC Trending apresenta uma pesquisa sobre a forma como o YouTube lida com faixas musicais neonazis que defendem assassinatos e violência. A empresa admite que há “mais para fazer” quando se fala de vídeos musicais que apelam ao ódio e ao racismo.

A verdade é que é muito fácil encontrar canções que glorificam a violência e que falam de assassinato em massa de muçulmanos, judeus e de outros grupos no YouTube. No site, os vídeos neonazis acumulam centenas de milhares ou mesmo de milhões de visualizações e geram centenas de comentários.

Entre as faixas encontradas pela BBC Trending havia um título intitulado “Fire up the Ovens” por uma banda chamada Bully Boys, que celebra o Holocausto, fazendo referência a teorias de conspiração antissemitas. Na letra ouvimos: “amamos matar”. Outras músicas de outras bandas dizem coisas como “queimar pessoas turcas”, chamam muçulmanos de “sub-humanos” e incluem outros insultos muito mais depreciativos.

Em alguns países, esse material é ilegal. As diretrizes da empresa proíbem a divulgação de “conteúdo que promova a violência ou cujo principal objetivo seja o de incitar ódio contra indivíduos ou grupos com base em certos atributos”. A raça, origem étnica, religião e uma série de outras categorias estão incluídas no pacote.

A investigação BBC

A BBC identificou 99 vídeos e um canal que, potencialmente, violavam as leis locais e/ou as próprias regras do YouTube. Usando o sistema de relatórios do site, a BBC marcou todos os links e os códigos de tempo das letras específicas.

Após um relatório inicial, sete dos vídeos foram retirados da plataforma. Outros 47 foram indisponibilizados no Reino Unido e em alguns outros países, como, por exemplo, na Alemanha, que tem leis contra símbolos nazis e contra propaganda. Em alguns casos, houve discrepâncias claras na forma como o material foi tratado. Em algumas versões as músicas foram retiradas do YouTube, enquanto noutras permaneceram na versão ao vivo.

O relatório incluiu ainda várias cópias de algumas faixas, pois a mesma música é muitas vezes carregada por vários usuários do YouTube.

Depois do relatório elaborado, os jornalistas da BBC identificaram-se junto do YouTube tendo revelado a lista completa. Posto isto, todos os links foram excluídos do site por violar as regras da empresa ou colocados indisponíveis no Reino Unido e em alguns outros países.

Resposta do YouTube

O YouTube recusou falar com a BBC, mas enviou uma declaração à redação: “Nós não permitimos vídeos que incitem ao ódio no YouTube e trabalhamos para remover conteúdos infratores rapidamente, através da sinalização e através de avanços tecnológicos.”

“Sabemos que há mais para fazer aqui e estamos empenhados em melhorar. Estamos a fazer progressos na luta para evitar o abuso dos nossos serviços, incluindo a contratação de mais pessoas e o investimento em tecnologia de ensino de máquinas. Também apoiamos criadores que promovam a tolerância nos seus canais do YouTube”, afirmaram.

O YouTube disse que os seus sistemas de relatórios funcionam corretamente, mas admitiu que cometeu erros ao lidar com alguns dos conteúdos.

Música neonazi

Muitas das músicas da supremacia branca postadas no YouTube são de bandas punk e hardcore ativas desde os anos 80 e 90.

A escalada da música neonazi em várias plataformas online foi destacada pelo site Digital Music News pouco depois da marcha “Unite the Right” em Charlottesville, Virgínia, em setembro de 2017. Após confrontos sangrentos e a morte de um manifestante, a atenção focou-se nos conteúdos extremistas em serviços de hospedagem e nas redes sociais.

Dois dias após os eventos em Charlottesville, a Digital Music News publicou uma história com a manchete “I Just Found 37 White Supremacist Hate Bands on Spotify”.

“Encontramos uma quantidade surpreendentemente elevada de grupos neozonazis e supremacistas brancos [online]”, diz o fundador e editor do site, Paul Resnikoff. “Alguns eram fáceis de identificar, era realmente fácil dizer que era um grupo de poder branco”.

Logo depois da publicação desse artigo, o Spotify começou a tirar a música neonazi do canal. Outras plataformas digitais seguiram o exemplo.

Mas, segundo Paul Resnikoff, o YouTube pouco fez.

Centenas de racistas brancos e neonazistas marcham em Charlottesville. Foto: Alejandro Alvarez /Reuters

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