Com cerca de 5 mil pessoas, ato demarca luta contra privatização do recurso por grandes corporações
Cristiane Sampaio, Brasil de Fato
Uma marcha com cerca de 5 mil pessoas marcou, na manhã desta quinta-feira (22), o encerramento do Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), em Brasília. O movimento, que reuniu militantes de 37 países, engrossou o coro contra a privatização do recurso e pela democratização do acesso à água.
O evento ocorre paralelamente ao Fórum Mundial da Água (FMA), realizado por grandes corporações diretamente ligadas à especulação do produto.
A quilombola Iracema de Jesus Martins Miranda veio do interior do Maranhão para se somar aos demais participantes da marcha. Ela destaca que diversas comunidades sofrem, no Brasil e no mundo, com a dificuldade de acesso à água por conta do avanço do grande capital sobre o recurso.
“A gente não aceita a privatização da água, até porque água não é mercadoria. Água é vida”, exalta.
Para se ter uma ideia, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), três em cada dez cidadãos no mundo não têm acesso à água potável em casa.
Diante dessa realidade, a militante chilena Paloma Dias, que também esteve na marcha, ressalta que as políticas neoliberais oportunizaram o avanço da privatização da água no mundo. Ela considera que a congregação dos povos é fundamental para a luta pelos recursos naturais e pelo reconhecimento da água como bem de valor social e cultural, e não econômico.
“A luta de norte a sul é a mesma. E as empresas [que atuam no Brasil] são as mesmas que circulam por nosso território. A única forma é a união, por isso estou aqui”, afirmou.
TV Globo
Os manifestantes caminharam até a sede da TV Globo em Brasília. Em protesto contra o discurso da grande mídia tradicional, eles destacaram a aliança entre o monopólio midiático e os interesses dos setores que privatizam a água.
“Queremos a garantia dos nossos direitos”, bradou o grupo na porta da emissora. A empresa cobriu com um tapume a parte da fachada onde fica a logomarca da TV. “Eles temem o poder popular”, gritou o universitário Bruno Moraes, de 18 anos.
Fórum
Articulado por diversos militantes e organizações do campo progressista, o Fama teve início no último sábado (17) e contou com a presença de variados grupos, entre eles indígenas, pescadores, trabalhadores do campo e da cidade.
O ambientalista Thiago Ávila, do comitê organizador do evento, avalia que o intercâmbio promovido pelo Fórum foi importante para vitaminar a luta dos grupos que batalham pelo direito à água no mundo.
“Nós voltamos pros nossos territórios mais fortalecidos, com maior organicidade, maior confiança e com exemplos de luta e resistência que mostram que sim, é possível, que só a luta é que muda a vida e que nós não vamos parar”, destacou.
Ocupação
Em sintonia com a luta pela água, que nesta semana está entre os principais assuntos debatidos no mundo, cerca de 400 militantes ocuparam, na madrugada desta quinta-feira (22), um parque industrial da Coca-Cola localizado em Taguatinga, cidade-satélite de Brasília.
O protesto reuniu manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
De acordo com o dirigente Marco Baratto, do MST, o ato simboliza a luta contra a tentativa do grande capital de monopolizar os maiores aquíferos do mundo, comprometendo não só a natureza, mas também a universalização do acesso à água.
“É o controle da água pelo agronegócio, pelas grandes corporações; é o controle da água como sistema urbano. São vários danos que dialogam com vários setores da sociedade. Não podemos deixar que um grupo pequeno tente coordenar todo esse processo”, disse Marco.
A TV Globo ainda não pronunciou publicamente sobre os protestos. A programação do Fama se encerra no começo da tarde, com um ato inter-religioso em defesa das águas.
Em nota enviada ao Brasil de Fato, a Coca-Cola aponta que “é mentira a acusação de que a companhia estaria negociando a privatização do Aquífero Guarani. Consideramos a água um recurso precioso para a vida e um direito universal para o desenvolvimento saudável de ecossistemas, comunidades, agricultura e comércio”.
Edição: Juca Guimarães.
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Imagem: Fórum alternativo contribuiu para o avanço das discussões pela universalização do direito à água no mundo / Matheus Alves