Após prisão de amigos, Temer tenta convencer que vale a pena mantê-lo, por Leonardo Sakamoto

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Após a Polícia Federal prender seu amigo (o empresário José Yunes), seu faz-tudo (o coronel João Batista Lima Filho), seu parceiro de negócios (Antônio Crecco, dono da Rodrimar), entre outros aliados (como o ex-ministro da Agricultura, Wagner Rossi), Michel Temer ainda teve capacidade de provocar risos nesta quinta (29). Ainda que de forma involuntária.

Durante um evento em Vitória (ES), afirmou que aqueles que quiserem criticar seu governo ”vão precisar de muito malabarismo”. E rasgou elogios a si mesmo como se tivesse salvado o país.

Ironicamente, a declaração foi dada no mesmo dia em que o IBGE divulgou que o desemprego está em 12,6%, com a estimativa de 13,1 milhões de desempregados no trimestre entre dezembro e fevereiro. Taxa maior que os 12% entre setembro e novembro e menor que os 13,2% de um ano atrás. Ou seja, a geração de empregos patina apesar da autoglorificação presidencial. Em outras palavras, o governo Temer pode até ser bom, mas não para os trabalhadores.

Mas ele fala com conhecimento de causa. Afinal, tem se mostrado o maior malabarista deste país, fazendo o que é impossível e imoral para se manter no Palácio do Planalto.

Primeiro, ajudou a conspirar contra Dilma Rousseff sendo vice da mesma chapa. Ele não precisa derramar uma lágrima pela ex-presidente, mas poderia ter ficado como Itamar Franco, na dele, ao invés de ter agido de forma proativa para retira-la.

Depois, entregou quase tudo o que o mercado financeiro e grandes empresas desejavam. Ou seja, a aprovação da PEC do Teto dos Gastos (congelando investimentos para a melhoria do serviço público por 20 anos e afetando áreas como educação e saúde), a Lei da Terceirização Ampla (precarizando trabalhadores e impondo a eles perdas salariais e aumentos de jornadas, enquanto reduz custos do grande empresariado) e a Reforma Trabalhista (que deve reduzir a proteção à saúde e à segurança do trabalhador e aumentar a lucratividade e a competitividade de grandes empresas).

Daí, após ser gravado em conversas pouco republicanas com o dono da JBS no porão de sua casa à noite, obteve a façanha de ser o primeiro presidente da República denunciado por crimes, em pleno exercício do mandato, pela Procuradoria Geral da República. Insatisfeito com apenas um, dobrou a aposta e foi o primeiro a ser denunciado duas vezes.

Em ambas as ocasiões perdoou dívidas públicas do agronegócio e de grandes empresas, liberou emendas bilionárias, distribuiu cargos, apoiou a aprovação de projetos que beneficiavam poucos em detrimento de muitos. Até tentou mudar o conceito de trabalho escravo contemporâneo – o que dificultaria libertações de pessoas e deixaria determinados ruralistas e empresas da construção civil muito felizes. Graças à conhecida honestidade de parte da Câmara dos Deputados, foi salvo.

Vendo que poderia mais, tornou-se o primeiro presidente da República em exercício que teve seu sigilo bancário quebrado pelo Supremo Tribunal Federal. E dependendo das investigações, que tentam comprovar as suspeitas de que recebeu propina para beneficiar empresas do setor portuário, ele pode fazer uma tríplice coroa em denúncias.

Temer, hoje, tem uma popularidade menor do que chá de boldo feito por uma avó, com aprovação que varia entre 3% a 7% e com 1% nas intenções de voto à Presidência (provavelmente de quem não entendeu a pergunta do instituto de pesquisa). Portanto, votar a favor de aceitar uma denúncia contra ele na Câmara dos Deputados renderia votos junto ao eleitor neste momento.

Em mais um malabarismo, cercou-se de militares – no Ministério da Defesa, na Funai, na Secretaria Nacional de Segurança Pública, na chefia de gabinete da Casa Civil, no Gabinete de Segurança Institucional e, portanto, da Agência Brasileira de Inteligência. E isso antes mesmo de decretar uma intervenção federal na área de segurança pública do Rio de Janeiro e entregar o seu comando às Forças Armadas – em uma ação midiática, eleitoreira e sem planejamento algum.

Malandrão, visitou a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, em um sábado, na casa dela, para tentar convencê-la de que a investigação que quebrou seu sigilo bancário fere suas prerrogativas presidenciais. A visita, pouco transparente e bizarra, fez com que a Suprema Corte se “apequenasse”, mostrando que uns são mais iguais que os outros.

E como se tudo isso não bastasse, ainda colocou Carlos Marun como ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, para vir a público sempre que algo ruim aparecesse a fim de dizer que não estamos vendo aquilo que estamos vendo. Ou nas palavras de Marun: ”O presidente Temer nada tem a ver com isso”.

Ou seja, não basta ter ajudado a transformar a política nacional em circo e chamado os críticos de seu governo de malabaristas. Coloca também um bufão para ser seu porta-voz.

O que me leva a crer que ele acha que somos palhaços.

Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

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