No blog do Sakamoto
Se a eleição presidencial fosse hoje, Lula – que cumpre pena na sede da Polícia Federal, em Curitiba – seria o fiel da balança, podendo empurrar um dos candidatos para o segundo turno. Pelo menos é o que apontam os números da pesquisa Datafolha divulgada neste domingo (15).
Dois terços dos seus eleitores afirmam que votariam em alguém que ele indicasse, uma vez confirmado que sua foto não aparecerá na urna eletrônica. Um número que não deve ser descartado, considerando que suas intenções de voto giram em torno dos 30% e que nenhum outro candidato atinge, sem ele, mais que 17%.
Análise de Mauro Paulino e Alessandro Janoni, do Instituto Datafolha, aponta que o patamar mais baixo de intenção de voto de Lula em comparação à pesquisa anterior sugere que o eleitorado esta percebendo que ele deve estar inelegível (não é possível fazer uma série histórica porque há novos nomes entre os candidatos). Contudo, o potencial de Lula como cabo eleitoral cresceu, a rejeição à sua candidatura caiu e sua intenção para o segundo turno se manteve. Enquanto isso, os entrevistados estão divididos ao meio a respeito dele poder participar ou não do pleito.
Como o PT o mantém, por enquanto, como candidato à Presidência da República, Lula não indicou nenhum ”herdeiro” de seus votos. Por ora, não é possível analisar de fato se esse potencial de transferência se concretiza em algum nome.
Ao mesmo tempo, segue cada vez mais incerta a possibilidade de Lula conseguir um habeas corpus e recorrer em liberdade. E mais improvável ainda que não esteja inelegível em 7 de outubro.
Uma das principais estratégias analisadas pelo PT é seguir com o ex-presidente à frente da candidatura presidencial para que ajude também a puxar votos a governos e, principalmente, ao Congresso Nacional – o partido terá uma batalha pela frente para não reduzir sua influência no parlamento. Trabalha com a data-limite de 17 de setembro, prazo máximo para inserção dos nomes nas urnas pelo Tribunal Superior Eleitoral.
A influência eleitoral de Lula pode continuar crescendo, seja pelo fortalecimento de sua narrativa de ”preso político”, seja pela (grande) possibilidade de nenhum outro candidato empolgar a massa de eleitores mais pobre que é fiel ao petista a ponto de convencê-la. Mas, principalmente, porque apesar da economia dar sinais de melhora, o emprego segue patinando – fazendo com que os mais pobres se lembrem da época de Lula como presidente.
Ou pode cair à medida em que passarem os meses e um grande naco de seus eleitores, não o vendo mais no dia a dia para discutir as pautas nacionais, procure outros candidatos.
Daí, o dilema do partido: vale a pena escolher outro candidato, como Fernando Haddad e Jaques Wagner, ou apoiar um candidato de outro partido desde já, aproveitando a popularidade atual de Lula, ou esperar para fazer isso na última hora, contando que ela não vai cair até lá? Vai ser uma decisão dura.
Por enquanto, o que é possível afirmar, apesar das previsões e os desejos guiados por ideologias de todos os lados, é que não é possível afirmar nada. Além do fato que Lula segue sendo, como ele mesmo informou em seu derradeiro discurso, uma resiliente ideia.
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Foto: Nelson Almeira/AFP