MST ocupa fazenda de Oscar Maroni em Araçatuba; empresário nega que ela seja “polêmica”

Cerca de 300 integrantes do movimento estão na propriedade, na maior parte arrendada para a Cosan; dono do Bahamas esteve em evidência por comemorar prisão de Lula

por Alceu Luís Castilho, em De Olho nos Ruralistas

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) ocupou nesta terça-feira, pela sexta vez, a Fazenda Santa Cecília, em Araçatuba (SP), de propriedade de Oscar Maroni. A conta é do próprio empresário, conforme entrevista dada na semana passada ao De Olho nos Ruralistas. 

Dono do Bahamas, um bordel de luxo em São Paulo, ele ficou em evidência no início do mês ao oferecer cerveja para 3 mil pessoas, na frente do estabelecimento, em comemoração à prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E ainda prometeu dar um mês de cerveja grátis para quem matasse Lula na cadeia.

A ocupação ocorre no Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária. Essa data foi escolhida por causa do massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, de repercussão internacional, ocorrido no dia 17 de abril de 1996. A votação do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, também ocorreu nesse dia.

Segundo Maroni, 600 dos 700 hectares da propriedade estão arrendados para a Cosan, gigante do setor sucroalcooleiro. A foto da ocupação divulgada pelo MST mostra a sede da fazenda, que faz parte dos 100 hectares ainda controlados pelo empresário, onde ele tem um haras e cria gado.

O MST informa em seu site que se trata da quarta ocupação da propriedade pelo movimento, e não sexta. Maroni é definido como “um dos maiores empresários de prostituição do país”. Na visão do MST, Maroni “agrediu sexualmente diversas mulheres” no Bahamas, durante a festa do dia 6, “expondo o corpo de muitas trabalhadoras do sexo perante centenas de homens”.

O movimento exige que a área seja destinada para a reforma agrária “e, posteriormente, para a construção de um assentamento onde as famílias possam morar e produzir alimentos agroecológicos, trabalhando sob relações de gênero igualitárias”.

A ação faz parte da Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária. Com ela o MST rememora os 22 anos “de impunidade” do massacre de Eldorado dos Carajás e denuncia a arbitrariedade da prisão de Lula.

‘FAZENDA NÃO É POLÊMICA’

Maroni ligou na sexta-feira para o observatório, questionando alguns pontos da reportagem publicada no dia 9 de abril. “Tua matéria é apimentada, mas tem coisas muito boas”, afirmou.

Ele reclamou da utilização da palavra “polêmica” no título, associada à fazenda. O empresário prefere que ela seja utilizada para defini-lo, e não a propriedade – que chegou a ir a leilão, há dois anos, por causa de uma dívida trabalhista. “Preciso ter idoneidade para fazer negócios”, afirmou. “Coloca homem polêmico. Legalmente você compromete uma marca. Sou dono há 25 anos da fazenda. Não é honesto com a marca. Você está denegrindo a imagem”.

Candidato a deputado federal, o dono do Bahamas disse também que não defende o porte de armas só por causa das ocupações de sem-terra. “Para a gente se defender da criminalidade, assaltos e coisas desse tipo, e também para se defender de possíveis invasões”, completou.

Sobre os argumentos utilizados pelo MST nas outras ocupações, Maroni disse que sua fazenda é produtiva. “Eu me tornei um dos 50 maiores confinadores do Brasil”, afirmou. “Gerava emprego para 50 famílias na época. Aí tive invasões de terra, o Bahamas lacrado”.

Maroni reconhece a dívida trabalhista que provocou o leilão da propriedade. “Fiz a defesa, perdi, deixei para pagar no último momento”, relatou. “Estava com Bahamas fechado, hotel fechado, situação financeira dificílima, tinha parceria com outros pecuaristas que se negaram a colocar gado na fazenda. Estava sem liquidez nenhuma, por isso empurrei com a barriga a ação trabalhista”.

Ele voltou a defender uma reforma agrária nos moldes da Austrália:

– Temos muitas áreas que pertencem ao Estado. Você é um homem que tem vocação para produzir na terra. Arrenda lotes, e o governo tem toda uma estrutura técnica e você, com vocação, iria produzir na terra que não é sua, e teria de alcançar metas de produção. O Estado teria de bancar o preço do produto. E não essa palhaçada que é a reforma agrária no Brasil – para invasão de terras. Numa invasão de terras tinha 10 mil cabeças no cocho. Na primeira peitaram, não me deixaram entrar na minha propriedade.

O empresário ficou de enviar uma foto que considerava melhor que as publicadas: uma em que ele está em frente da Fazenda Santa Cecília, durante uma das ocupações, com uma bandeira do Brasil e outra bandeira branca, solicitando a paz.

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