Maloca de Itacoatiara Mirim é reinaugurada no dia do Índio

População de São Gabriel da Cachoeira (AM) comemora a reabertura de importante centro de resistência cultural indígena na cidade

Por Juliana Radler, no ISA

Com muito caxiri, quinhampira, mujeca e música tradicional do Alto Rio Negro, o Mestre Luiz Laureano Baniwa, de 71 anos, reinaugurou sua Maloca em uma grande festa, no bairro de Itacoatiara Mirim, na periferia de São Gabriel da Cachoeira (AM).

A Maloca de Itacoatiara reabriu neste 19 de abril, dia do Índio, após quase um ano fechada para reforma. Apoiada pelo Instituto Socioambiental (ISA), a Maloca promoveu uma campanha de financiamento coletivo na internet para captar doações para sua reconstrução. O valor de R$ 20 mil coletado foi suficiente para arcar com as despesas necessárias à obra, que contou com amplo trabalho da comunidade e, sobretudo, do seu principal construtor, Mestre Luiz.

Durante todo o dia 19, Mestre Luiz e a comunidade multiétnica de Itacoatiara Mirim promoveram um festival cultural indígena para receber a população de São Gabriel e visitantes de fora. “Estou muito feliz porque conseguimos reconstruir nossa Maloca Casa de Conhecimento. Agora podemos receber todo mundo de novo para mostrar nossa cultura”, celebra Mestre Luiz.

Maloca, a grande casa

A Maloca de Itacoatiara é uma referência cultural indígena e também é a grande casa do Mestre Luiz e sua esposa, Dona Luzia. Mestre Luiz nasceu em uma comunidade Baniwa do clã Hohodene no rio Ayari, na Terra Indígena Alto Rio Negro. Mas, em 1978, migrou com os pais para a sede de São Gabriel da Cachoeira. Seu pai fundou a comunidade Baniwa de Itacoatiara Mirim que, hoje, é composta também por outras etnias, como TukanoTuyuka e Desana, sendo considerada uma comunidade multiétnica. “Nasci em uma maloca, mas depois vieram os missionários e mandaram destruir as malocas porque eram consideradas casas do Diabo”, conta.

Para recuperar sua tradição, Luiz Laureano ergueu a Maloca de Itacoatiara em 2005 e, desde então, mora com a sua esposa no local, onde também recebe visitantes, promove eventos culturais, festas comunitárias, faz benzimentos e outros rituais de cura. Evangélico, Mestre Luiz não deixa sua cultura de lado e concilia a religião cristã com os rituais indígenas. “Importante é manter a cultura do índio, porque sou índio Baniwa mesmo. Essa é a minha palavra”, enfatiza o carismático Mestre Luiz.

Com 90% da população indígena, São Gabriel da Cachoeira concentra 23 etnias e possui quatro línguas indígenas cooficiais (Baniwa, Nhengatu, Tukano e mais recentemente, o Yanomami). Por toda essa riqueza e diversidade cultural, São Gabriel recebe o título de cidade mais indígena do Brasil. Na área urbana do município existem apenas duas Malocas, a de Itacoatiara Mirim e a da Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro), importante local de reunião do movimento indígena, também reconstruída recentemente pelo Mestre Luiz.

Imagem: Mestre Luiz Laureano toca japurutu ao lado do seu irmão na reabertura da Maloca de Itacoatiara Mirim|Ovinho Tuyuka / Rede de Comunicadores Indígenas do Rio Negro

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