por Edu Carvalho*, em RioOnWatch
Mais de 250 quilos de peixe, caixas de fogos a perder de vista e rosas brancas e vermelhas. O motivo para a grandiosidade da festa? A celebração do dia 23 de abril na Rocinha, data em que se homenageia São Jorge, o Santo Guerreiro para a Igreja Católica e Ogum, para a Umbanda, sendo ele uma espécie de padroeiro de todos na cidade do Rio de Janeiro. Neste ano, a comemoração aconteceu pela sexta vez na comunidade.
Os festejos começaram por volta das 5h com uma alvorada de fogos, anunciando uma série de atividades que tomaria o dia. A região da Cidade Nova em específico, o Palco do Badalo, tornou-se o local onde os devotos se concentraram desde às 9:30h para acompanhar a chegada da procissão que começou na Rua 1 trazendo a imagem do santo. Para o almoço, uma cozinha improvisada foi montada com dez pessoas, que trabalharam a todo vapor para que tudo estivesse pronto na hora.
Alex da Peixaria, um dos organizadores do evento, está na favela há 22 anos e crê no soldado que vence o dragão desde que se entende por gente. ‘’É um agradecimento pra esse pessoal. Eu cheguei na Rocinha sem nada, e consegui uma coisinha aqui graças a Deus. Sinto obrigação de retribuir’’, conta Alex, que enfatiza não ter nenhuma promessa ligada à realização da festa. ‘’É um gosto mesmo.’’
E foi assistindo o gosto do pai que Thiago, filho de Alex, tornou-se devoto. ‘’A semana foi em função da festa’’, contou ele, em um dos poucos momentos onde ficou parado e observando o que precisava. ‘’A gente fica realizado, né? A gente sente prazer em fazer isso aqui e a comunidade está precisando disso.”
Para Frei Sandro, pároco da Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem, que fica na Estrada da Gávea–principal via de acesso da comunidade–a realização da missa é importante pois resgata ações que já são feitas na região. ‘’Ultimamente a gente tem sentido dificuldade por causa dos confrontos. A gente rezava o terço todas às segundas, no mês de maio tinha missa’’. A festa demonstra também a oportunidade do encontro dos moradores entre si e o sincretismo que o santo carrega. ‘A igreja tem esse papel de juntar as pessoas, de fazer elas se sentirem membras de uma comunidade não apenas religiosa mais humana. É oportunidade de celebrar a vida, a própria existência. Sair de casa, encontrar as pessoas, independente da fé. Não é um problema, São Jorge é do povo’’.
E quem saiu de casa e pela primeira vez participou da comemoração foi Dona Teresa Pereira Batista, moradora de 92 anos e devota. ‘’Ele me defendeu da morte. O moço ia me matar num lugar, lá em Niterói. Ele apontou o revólver e eu saí correndo’’, disse à senhora: ‘’Se não fosse São Jorge, ó!’’.
Ainda no dia 23, houve uma operação de policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar, que entrou em confronto com traficantes e membros do crime organizado. Segundo a PM, o confronto acabou por volta de 16:30h e não houve registros de feridos. Também não houve registros de impedimento e parada das comemorações relativas à São Jorge. A Polícia não interferiu nas manifestações organizadas por moradores.
A assessoria de imprensa da entidade afirmou que o Batalhão de Choque participava de um esquema de patrulhamento continuado na região quando foi recebido a tiros por membros do crime organizado. Na ocasião, ninguém foi preso. A ação ocorreu no dia seguinte à detenção de oito policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha sob suspeita de envolvimento com o transporte de drogas em uma ambulância falsa.
*Jovem apaixonado por Jornalismo desde os 5 anos. Coleciona em sua bagagem, de 19 anos, participações em eventos como Onda Cidadã no Cariri; a Bienal do Livro no Rio; Flip e Flupp, mostrando um pouco sobre seu trabalho ao retratar assuntos do dia-a-dia em sua escrita do local onde reside: a Favela da Rocinha. Edu é repórter do site FaveladaRocinha.com e ativista social.