No MAB
Comunidades Quilombolas de Santa Maria da Boa Vista, Pernambuco, foram contempladas, na última semana de abril, com 71 moradias para as comunidades de Cupira e Inhanhum. A conquista é fruto dos processos de organização, formação e lutas ao longo de três anos, para chegar até a assinatura dos contratos, no dia 26 de abril. Que foi realizado através de um projeto implementado pelo SINTRAF de AIti PE, através do Programa Nacional de Habitação Rural PNHR – da Caixa Econômica Federal.
No território, há mais duas comunidades quilombolas além de Cupira e Inhanhum, possuem 50 famílias cada, que necessitam de moradia adequada e garantia de direitos básicos. Com 70% de mulheres e presença de muitos jovens e crianças, essas comunidades estão ameaçadas pelo Complexo Hidrelétrico de Pedra Branca e Riacho Seco, da Companhia Hidrelétrica do São Francisco e resistem ao empreendimento há 13 anos.
Ianete Souza da Silva, quilombola e militante do Movimento dos Atingidos por Barragens, MAB, fala sobre a importância dessa conquista para a comunidade, sobretudo para as mulheres, que são maioria e lideranças nos quilombos. “A chegada das moradias mostra a importância da organização social da comunidade, da articulação política e reforça o papel da mulher como protagonista na quebra das barreiras, das dificuldades que a gente passa aqui no quilombo. O MAB e a associação são os espaços onde nós temos voz e força para lutar, e trazer melhorias para as nossas famílias”, pontua Ianete.
A beneficiária do PNHR, Silvana Gomes, diz que o sentimento é de gratidão, e agradece tanto a associação quilombola e ao projeto, pela conquista da casa própria. “Essas casas vieram pra mudar nossas vidas, sempre tive o sonho da casa própria, um lar meu, um cantinho para minha filha”, conclui Silvana.
Bruno Monteiro, do setor quilombola do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, falou sobre o fato de a comunidade acessar uma política nesse momento sombrio, onde se vê representantes eleitos pelo povo atacando e desacreditando as lutas das comunidades quilombolas, ser muito significativo no plano político e no plano simbólico. “Uma conquista fortalece a comunidade para lutar por outras conquistas. E uma politica de habitação é muito importante, porque geralmente se pensa em boas condições de habitação nas cidades, e as áreas rurais acabam sendo esquecidas. Também em relação a educação, falta professores, falta estrutura, não tem bibliotecas”, disse Bruno.
Para Bruno, é importante a luta para garantia do território, “o território está muito relacionado à casa, pois não se habita somente a casa especifica, mas a identidade quilombola está relacionada a um território, que precisa estar protegido, que o Estado tem que garantir todas as condições de boa sobrevivência. Vemos o território como parte importante do processo de empoderamento da comunidade, pois um povo quilombola não é povo sem o seu território. Esperamos que o território seja garantido, para complementar a felicidade que as comunidades estão vivendo hoje, finaliza Monteiro.
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Imagem: Reprodução do MAB.