Em lançamento de documentário, comunidades impactadas por projetos no Tapajós destacam a construção de Protocolos de Consulta

Atividade contou com a participação de moradores das comunidades retratadas no vídeo

Terra de Direitos

Desde que projetos para a construção de diferentes obras no Rio Tapajós foram anunciados, quilombolas e povos e comunidades tradicionais da região Oeste do Pará tem discutido maneiras de resistir contra a violação de seus direitos.  O resultado desse processo pôde ser acompanhado durante o lançamento do documentário ‘Protocolos de consulta no Tapajós: experiências ribeirinhas e quilombolas’, realizado nessa segunda-feira (28), em Santarém (PA).

Com 20 minutos, o vídeo conta a experiência de construção de Protocolos de Consulta feitos pelas comunidades ribeirinhas de Pimental e São Francisco e pela Federação das Organizações Quilombolas de Santarém (FOQS) em 2016 e 2017.

Moradores das comunidades retratadas no documentário participaram do lançamento, na sede da FOQS. Uma delas era Luvia Heydi, moradora da comunidade de Pimental, na cidade de Trairão (PA). Ela destaca que o material retrata a mobilização de comunidades tradicionais e quilombolas do Tapajós no enfrentamento às violações de direitos. “É um documento que vai ajudar em debates em outras comunidades que ainda não tem seu protocolo”, avalia.

E ressalta a participação das comunidades no documentário e no lançamento do material. “Eram as nossas organizações, o nosso trabalho e a nossa luta que a gente estava contando a experiência”, conta.

O vídeo foi produzido pela Terra Direitos em parceria com a Comissão Pastoral da Terra, o Movimento dos Atingidos por Barragens, a Federação das Organizações Quilombolas de Santarém (FOQS). Em breve, o material estará disponível pela internet.

Troca de experiências

Após a exibição do vídeo, uma roda de debate sobre a construção de protocolos comunitários contou com a participação de representantes do Ministério Público Estadual, de comunidades quilombolas da FOQS, da colônia de pescadores Z-20, indígenas Mundurku do Planalto, pesquisadoras e de integrantes de pastorais Sociais.

A quilombola Claudiana Souza Lírio participou da construção do Protocolo pela FOQS, e compartilha seu medo com outros quilombolas da região. Em Santarém, está prevista a construção de três portos na região do Lago do Maicá, que impactarão comunidades tradicionais e indígenas. “A gente não quer sair do nosso território e ir para urbanização, lá onde as pessoas matam uns e outros por causa de terra”, destaca.

Claudiana já chegou a ouvir de um representante de uma construtora que ela e outras lideranças quilombolas eram “um problema”. “A gente era um problema para eles porque a gente ficava instigando as pessoas, dando argumentos para questionaram aquele projeto. Eles só falavam na parte boa, que ia trazer emprego, mas eles não falam que eles iam tirar as nossas casas, que a gente ia ficar desempregado”, conta.

O Cacique Manoel Munduruku, da aldeia Ipaupixuna, acompanhou o lançamento do vídeo e pôde conhecer a experiência de outras comunidades que, assim como ele, passaram por um processo de mobilização e de construção de um protocolo comunitário. Ele participou do processo de construção do protocolo de consulta Munduruku e Apiaka do Planalto, para exigir que seu povo fosse consultado no caso de obras que os impactassem. Os indígenas seriam impactados pela construção dos portos no Lago Maicá, em Santarém e já são bastante afetados pela expansão e monocultivo da soja.

Manoel Munduruku aponta a importância do protocolo para comunidade. “Para nós ajudou muito porque nós estamos vivendo um momento muito difícil, a questão dos portos, desse grande desmatamento. Esse papel foi muito válido, tem ajudado muito a nossa organização”, conta. “Só nós sabemos os impactos que sofremos e só nós sabemos a nossa forma de viver”, destaca.


foto: Carlos Bandeira

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